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1433 Palavras
HANNIBAL NARRANDO Meus dias tem sido uma merda desde que Pâmela me deixou. Eu sou completamente apaixonado e dependente dela. Fui traído diversas vezes, e até tapa na cara levei dela... Mas eu amo aquela maluca com minha alma. E desde que ela foi embora, parece que ficou um vazio ainda maior em mim. A gente se conheceu muito jovem. Fizemos merda juntos... Ela dirigiu o carro no meu primeiro assalto a mão armada. Ela era minha parceira de crime. Com o tempo, fui ficando mais nervoso. As contas vão chegando, e a vida não é feita só de amor. Eu me envolvi cada vez mais fundo no crime e no tráfico... E eu percebi que não queria ser apenas mais um, eu queria mais, queria tudo. Queria ser o rei e fazer dela minha rainha. Derramei muito sangue para chegar onde cheguei e não me arrependo. Hoje o morro do inferno é meu, eu sou o rei e dono dessa p***a. Protejo minha comunidade com unhas e dentes, aqui eu faço as leis, aqui todo mundo me obedece. As pessoas do morro do inferno são sofridas. Metade tem antecedentes criminais por alguma coisa, a outra metade provavelmente vai ter algum dia. As crianças crescem sem esperança e com ódio do governo, achando que o único herói possível sou eu e os caras que eu comando. O restante? Todos inimigos. A gente tenta fazer o melhor que pode. A criançada estuda, a gente incentiva. Dá coça em pai que deixa criança solta, dá tiro na mão de ladrão que rouba a comunidade e mata quem causa demais. O povo sabe quem tá no comando. Ninguém aqui passa fome. Todo mundo se ajuda, porque é a gente pela gente, e Deus por todos nós. Fora do morro, a gente é olhado torto e julgado como se a gente fosse animal. Mas não somos. Tivemos que criar nossas próprias leis porque o estado não olha para nós... E assim por diante. Passei as duas mãos por meu rosto, cansado. Os últimos dias foram intensos, eu enchi o cu de droga e cachaça, fui em bailes pelo morro e comi mais mulheres do que comi em toda minha vida. E eu nem sou assim. Sou sério, fechado, na minha... Mas o desespero e o vazio fazem a gente fazer bosta. Decidi ficar em casa. Estava mexendo no meu computador, para me distrair um pouco, quando apareceu uma propaganda. "Converse com garotas lindas online". Eu já estou na merda, mesmo. Quem sabe conversar com uma garota bonita não me faça bem, não é mesmo? Entrei no site e vi várias garotas. A maioria já sem parte das roupas. O site funcionava assim: As garotas se exibiam por meia hora, e você deveria dar lances. O maior lance compra a próxima meia hora com a garota na frente da câmera. Dá pra mandar presentes e dinheiro para a caixa postal delas e mais um monte de coisa. É como um clube de striptease só que online. Eu estava com tédio, então pensei em escolher uma garota. E a que me chamou atenção estava completamente vestida, com uma roupa bem provocante e máscara de gatinho no rosto. Eu entrei na sala e várias pessoas já estavam dando seus lances. Mas eu a queria. Os lances estavam em torno de noventa, cem reais... E eu queria acabar logo com isso. Quando eu quero algo, eu tenho, simples assim. Dei um lance de mil reais. A maioria dos telespectadores da garota saiu, entenderam o recado. Ela respondia perguntas eróticas que mandavam para ela, e assim que os trinta minutos acabaram, ela abriu uma sala particular comigo. – Oi, é... Esse é seu nome mesmo? Hannibal? – Disse, com um belo sorriso no rosto. – Mais ou menos, mas pode me chamar assim. – Respondi. – Você é bem bonito. Gostei das tatuagens. – Ela abriu um sorriso sacana. A parte f**a é que eu não sei se ela está sendo sincera ou falando isso porque está sendo paga. – Valeu. Você é bem gostosa. – Comentei. – O que vai querer de mim? Quer conversar? Ver alguma parte do meu corpo? Me ver fazendo algo... Você seu um lance bem grande em mim, então eu vou fazer o que você quiser. – Ela sorriu. – Então tira a máscara. – Ela começou a dar risada. – Está fora de cogitação. Leu meu perfil? Eu nunca tiro a máscara. – Respirei fundo. – Qual o motivo disso? Se é que a senhorita misteriosa pode responder. – Ela respirou fundo. – Eu tenho um filho. Não quero que ele tenha vergonha da mãe... Isso é basicamente um tipo de prostituição, Hannibal. Você que é usuário do site, deve saber disso. Sabe o que fazemos aqui nessas conversas privadas. – Ela me respondeu. – Na verdade, eu tô aqui por acaso. Nunca entrei no site, é a primeira vez. Achei bem interessante. Mas, pelo visto, você não curte trabalhar com isso... Tô certo? – Perguntei. Ela deu os ombros. – No começo eu detestava. Hoje eu já não ligo mais. É dinheiro fácil, e com o desemprego no país, me parece a única opção. Quero dar uma vida digna para o meu filho, quero que ele estude nas melhores escolas... Tenha as melhores roupas. Coisas que eu não tive, sabe? – Eu concordei com a cabeça. – Isso é bem legal. – Afirmei. – Me fala um pouco sobre você, Hannibal. Quem é você? Por que veio parar aqui? – Questionou. – Eu sou o chefe do tráfico de armas e drogas do morro do inferno. – Sorri de forma maliciosa. Ela ergueu as sobrancelhas. – Acho que nunca estive com um homem tão importante. – Eu comando esse morro... E eu estou aqui porque basicamente minha fiel me jogou no fundo do poço. Eu sou um merda sem coração? Sou. Mas eu amava aquela filha da p**a, e ela fodeu com minha alma. – Falei. – Eu sinto muito, Hannibal. As pessoas são imprevisíveis. – Falou e eu concordei. – Estávamos juntos há dezesseis anos. E eu tô muito puto, porque minha tristeza vai acabar manchando minha reputação. Eu preciso voltar ao normal e logo. Ou aparentar isso... Eu não sei. – Eu respondi a ela. Meu cérebro começou a raciocinar coisas que até que faziam sentido. – Eu poderia contratar alguém pra botar ciúme na Pâmela. E pra mostrar pra todo mundo que eu tô de boa e superei. – Uma namorada falsa? – Eu concordei. – c*****o. É isso. – Falei. – Você... Fica em pé aí, deixa eu ver teu corpo. – Ordenei e ela obedeceu, dando uma voltinha. – Quer que tire alguma peça de roupa? – Perguntou. – Não. Eu quero ver seu rosto. – Ela se sentou em frente ao computador e bufou. – Eu já disse que não mostro. – Retrucou. – Vem cá, qual a maior dívida que você tem? – Eu perguntei. Meu plano era infalível, e eu só precisava que essa tal de "gatinha20" aceitasse. – Eu tenho o financiamento da minha casa. Falta 140 mil. – Concordei com a cabeça. – Tenho uma proposta pra você. Eu vou quitar seu financiamento se você vier pro morro do inferno fingir que é minha nova fiel. Eu não quero entrar em um relacionamento. A Pâmela vai ficar p**a porque você é muito gostosa, vai voltar e... p***a, é genial. – Soltei uma risada comigo mesmo. – Você vai quitar minha casa se eu fizer isso? – Perguntou. – É sério? – Sim. Mas eu quero que você me mostre seu rosto. – Ela abaixou o rosto. Não sei pelo que essa mulher passou, mas ela removeu a máscara lentamente. Vi o rosto de uma verdadeira boneca. Pele bem cuidada, olhos esverdeados, nariz perfeito. Deve ter uns vinte anos no máximo. – Satisfeito? – Perguntou. – Você é linda. E eu quero fazer esse acordo com você. Um mês, mas você não pode sair do morro, entendeu? – Concordou com a cabeça ao me ouvir. – Eu topo. Quero metade do dinheiro agora e metade no final. Fica bom pra todo mundo, certo? – Combinado. Eu vou mandar meus seguranças te buscarem. Quando estiverem com você, eu passo o dinheiro pra sua conta e você entra no carro. – Certo, Hannibal. Eu vou ter que te chamar de Hannibal? – Questionou soltando uma risada. – Meu nome é Maicon. – E o meu é Mariana. – Sorriu. – Eu vou me despedir do meu filho. Espero que você cumpra com sua palavra. – Vou cumprir.
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