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1017 Palavras
MARIANA NARRANDO Liguei a Webcam, coloquei minha máscara de gatinho e comecei a me arrumar. Meu nome é Mariana, e eu sou CamGirl. Basicamente, meu trabalho é me exibir para os homens que me pagam para fazer coisas. Eles dão lances e eu aceito suas propostas. Não é nada difícil, e eu estou bem com isso. No início era complicado... Mas a gente tem que se virar. Moro com meu filho de quase cinco anos e com minha mãe postiça em um apartamento que eu pago. Rita, minha mãe postiça, me acolheu quando fugi de casa grávida. Eu tinha apenas quinze anos, estava com quase sete meses de gravidez e perdida no mundo quando ela me acolheu. Hoje, quem a acolhe sou eu. Está um pouco frágil pela idade, então a trouxe para morar comigo em uma casa mais segura do que a dela. Meu filho se chama Gabriel e não tem pai em sua certidão de nascimento. Eu não me importo. Jamais direi a ele quem é seu pai, porque Gabriel é fruto de um abuso. E mesmo que sua concepção tenha sido dessa forma, ele é o motor que me motiva a continuar vivendo. E ele foi minha melhor escolha. Hoje, sou CamGirl para sustentar minha família: Dona Rita e Gabriel. Eles merecem o melhor, e eu dou meu máximo para conseguir isso. Eu passei batom na frente da câmera, porque eles gostam disso. Minha máscara de gatinho que protege minha identidade cobre apenas a parte de cima, nariz e olhos. Minha boca é descoberta por motivos óbvios. Os homens começaram a dar seus lances. Eu comecei a me movimentar na frente da câmera, sorrindo e olhando para eles com desejo... Como se eu realmente sentisse alguma coisa. Era apenas mais um dia comum. Eu fiz o que tinha que ser feito. Minhas peças de roupa foram tiradas, uma a uma, após os lances. E hoje foi um dia ótimo: Ganhei mais de mil reais. Quando terminei, fechei minha webcam e abri meu aplicativo do banco: O dinheiro já estava lá, e eu estava satisfeita. Me troquei, arrumei minhas roupas e guardei minha máscara de gatinho. Saí do quarto e fui até o quarto de Rita. Hoje ela está um pouco gripada. - Boa tarde, Rita. - Falei, sorrindo. - Quer que eu faça algo para a senhora comer? - Não precisa, minha querida. Já comi. Conseguiu trabalhar? - Eu concordei com a cabeça. - Sim, consegui. - Rita não tem ideia do que eu faço. Ela acha que trabalho com marketing digital. - Que bom. Você vai conseguir buscar o Gabriel? Eu realmente não estou me sentindo bem, como eu disse. - Concordei com a cabeça. - Não se preocupe, eu busco. Já estou pronta para ir. Quer que eu traga algum remédio? - Perguntei. - Não precisa, minha querida. Só preciso de repouso e de chá. Logo estarei nova em folha. - Falou. - Bom, eu vou buscar o Gabriel e vou dar uma volta com ele no shopping. Ele precisa de um tênis novo. Se você precisar de mim, me liga. - Fique tranquila, querida. Aproveite o passeio. Cheguei na escola do meu filho com meu carro. Minha vida não é fácil, e eu não sou rica. Preciso ser cautelosa porque tem meses que consigo quase dez mil reais, e em outros, não consigo atingir o salário mínimo mesmo trabalhando todos os dias. É complicado, mas eu decidi investir na educação dele de qualquer forma. Meu filho vai em uma escola bilíngue, e eu quero que ele não tenha o mesmo futuro que eu tenho. Quero que seja alguém de sucesso. - Mamãe! - Ele veio correndo de braços abertos. Eu o abracei e dei um beijo demorado em sua bochecha. A monitora me entregou a mochila e eu a peguei. - Que saudade! - Também estava, filho. - Falei. Sorri para a monitora e acenei, indo em direção ao carro. - Como foi seu dia? - Muito bom, mamãe. Eu fiz lição, comi, brinquei... - Disse, com um grande sorriso no rosto. - Cadê a vovó? - A vovó Rita está um pouco resfriada. Ficou em casa hoje, por isso eu vim te buscar. Entramos no carro. Coloquei meu menino na cadeirinha e apertei o cinto. - Vamos passear, mamãe? - Ele perguntou. - Vamos no shopping comprar seu tênis novo. - Oba! - Gritou, empolgado. Dirigi até o shopping calmamente. Chegamos, Gabriel escolheu um tênis do homem aranha e já estávamos indo embora quando um brutamontes saiu de uma loja de bebidas e trombou comigo. Que ódio que eu fiquei! - Ei, seu babaca! Olha por onde anda! - Falei. O homem todo tatuado me olhou de cima a baixo. Dois homens tão grandes quanto ele saíram da mesma loja e me olharam como se eu fosse um pedaço de merda. - Desculpa aí, mocinha. - Ele disse. Saiu andando com os homens que julguei serem seus seguranças e eu decidi esquecer o incidente. Cheguei em casa e havia uma carta no chão: Uma multa. Eu sou uma péssima motorista, e agora eu definitivamente perdi a carteira. Vou ter que fazer alguma coisa para ajeitá-la, se não, como vou me locomover por aí? O ônibus nem passa no bairro onde moro por ser afastado. - Que merda. - Falei comigo mesma. - Olha a boca na frente do menino, filha. - Dona Rita disse. - Desculpa, desculpa. Eu vou ter que trabalhar mais, preciso pagar isso daqui. Tomei uma multa por causa de farol. Eu sou muito i****a. Nem vi que tava vermelho, caramba. - Mamãe, posso comer esse bolinho? - Ele trouxe um panetone pequeno que trouxemos do shopping. É maio, são resquícios da páscoa. - Pode, meu amor. Vem cá que eu abro pra você. E assim, depois de pouco tempo com meu filho, tive que voltar para o quarto mais uma vez, para tentar conseguir mais dinheiro. É exaustivo, mas é meu trabalho. Eu não consegui nenhum outro que pagasse bem, que me fizesse ter uma boa projeção de futuro... Então continuo assim. Está confortável por enquanto.
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