A Matilha Lua de Sangue, como é conhecida, carrega um nome que ecoa a história e os mitos ancestrais da nossa linhagem. O título foi dado devido ao fenômeno raro que ocorre durante a lua cheia, quando o satélite natural da Terra se torna completamente vermelha em uma única noite. Esse evento, que marca o ápice do festival de acasalamento, simboliza o ciclo de renovação e escolha dos companheiros entre nós.
A Lua de Sangue é uma matilha com tradições únicas, diferentes das demais. Nosso ritual para encontrar as parceiras é um evento profundamente enraizado em nossos costumes, onde toda a alcateia se reúne no grande salão a céu aberto e ao lado da estátua dos pioneiros da matilha. É ali, sob a luz da lua vermelha, que todos têm a chance de testemunhar o que é considerado um momento sagrado e vital: o encontro entre os futuros companheiros.
Os homens que não têm uma parceira predestinada são obrigados a participar desse ritual ao menos uma vez, pois é durante esse evento que eles têm a oportunidade de reconhecer sua verdadeira companheira, aquela com quem compartilharão o destino. O processo é uma experiência que vai além do simples desejo, é um momento de revelação e conexão com a essência do outro, algo que não pode ser apressado ou desconsiderado.
As mulheres, por sua vez, se reúnem três horas antes da cerimônia na casa principal da alcateia, onde são oferecidos todos os cuidados necessários para que possam se preparar. A nudez, apesar de não ser tabu em nossa sociedade devido às nossas frequentes transformações, é tratada com respeito nesse dia especial, onde cada detalhe é cuidadosamente pensado. Elas se vestem com longos vestidos brancos, de mangas estilo princesa, deixando seus ombros expostos. Os cabelos são soltos, e a maquiagem, embora sutil, é cuidadosamente aplicada. O uso de vendas nos olhos é uma tradição, simbolizando que a verdadeira conexão não se dá pela visão, mas pela essência que transparece durante o ritual.
Caso nenhum dos pares se aceite mutuamente durante o evento, o homem ou mulher em questão será rejeitado diante da presença de toda a alcateia. A rejeição é um momento solene e carregado de significados profundos. Aquele que não for aceito não terá a possibilidade de refazer o ritual, pois o parceiro foi encontrado e rejeitado com plena consciência das consequências. O lobo que opta por rejeitar o outro não terá outra chance de se vincular a outro parceiro, pois ao negar a união, escolheu caminhar sozinho. Já o lobo que for rejeitado, por outro lado, terá a oportunidade de buscar uma segunda chance em um novo ritual, onde o destino poderá finalmente alinhá-lo com seu verdadeiro companheiro.
Esse festival, embora repleto de regras rígidas e profundas, vai muito além de uma simples celebração. Ele representa a essência da continuidade, do pertencimento e da escolha, onde cada participante, seja aceito ou rejeitado, se torna parte de algo muito maior que transcende o individual. Ele é o fio invisível que conecta cada m****o da alcateia, mantendo viva nossa história, nossa identidade e nosso futuro coletivo.
A rejeição de um companheiro escolhido pela deusa da Lua, para nós, é considerada uma afronta, um desrespeito à escolha divina, pois isso indica que o lobo não aceitou o que a deusa lhe ofereceu, uma dádiva que se reflete no acasalamento predestinado. Essa decisão não é apenas pessoal, mas envolve toda a harmonia da matilha e da natureza que nos guia.
Há, entretanto, aqueles lobos cujas conexões são tão profundas que não precisam esperar pela conclusão do ritual. Eles reconhecem imediatamente o cheiro de sua alma gêmea e, sem hesitar, se entregam ao acasalamento, como se a urgência de sua ligação fosse mais forte do que qualquer cerimônia ou costume. Para eles, o ritual não passa de uma formalidade, pois o vínculo entre eles é inquebrantável, uma união que transcende qualquer obstáculo imposto pelo tempo ou pelas regras.