Capítulo 35. Reencontro

1066 Palavras
Sede Beaumont&McGoldrick Group — NY 5/10/2022 - 7:10h A manhã estava fria, e a sede da nova empresa fervilhava com jornalistas, repórteres e fotógrafos. Desde o desfile em Paris, o nome Beaumont&McGoldrick estava em todas as capas de revistas e portais de negócios: “O casal do século: amor e estratégia em igual medida.” “União bilionária redefine o luxo e o poder corporativo.” "Beaumont e McGoldrick — quando o contrato vira paixão.” Sophie atravessou o saguão de vidro com o mesmo andar impecável de sempre, saltos ecoando sobre o mármore branco. O cabelo solto caía em ondas sutis, e o blazer preto contrastava com o batom vermelho escolhido especialmente para hoje, não por vaidade, mas por armadura. Ela sabia que todos olhavam. Sabia que, atrás dos sorrisos, estavam as perguntas: "Eles estão realmente juntos?” “Foi encenação?” “Será que o beijo foi combinado?” E ela odiava cada uma delas. — Srta. McGoldrick, o senhor Beaumont já está à sua espera na sala de conferência. — avisou Felicity. Sophie apenas assentiu, mantendo o semblante frio. Mas, por dentro, o nome dele ainda fazia algo nela se mover uma irritação sutil misturada a algo que não conseguia nomear. Quando entrou na sala, Theodore já estava lá. De terno cinza escuro, mas sem o blazer, somente colete e calça, camisa branca, mangas dobradas até os cotovelos e o relógio brilhando sob o punho, ele parecia completamente à vontade. Sorria para dois investidores como se o mundo fosse seu o que, de certa forma, era. Mas quando os olhos dele encontraram os dela, o sorriso vacilou. Só por um instante. A tensão foi imediata. Invisível aos outros, mas impossível de ignorar. — Srta. McGoldrick. — ele disse, formal, com um aceno leve. — Sr. Beaumont. — respondeu ela, no mesmo tom neutro, sentando-se à mesa sem desviar o olhar. Um dos investidores, rindo, comentou: — É bom ver que o casal do momento trabalha com a mesma sintonia do desfile! Theodore respondeu com naturalidade: — Sempre. — e olhou para Sophie, com um sorriso discreto. — Não é, querida? Ela o encarou, sem mudar a expressão. — Claro, meu bem— respondeu, a voz suave, mas o olhar afiado como uma lâmina. Os investidores riram, acreditando estar diante de um casal perfeitamente entrosado.Mas sob a superfície, o ar parecia prestes a partir em dois. Assim que ficaram a sós, o silêncio se instalou. Theodore encostou-se à mesa, cruzando os braços, estudando-a. — Dois dias de silêncio… Achei que você tivesse me mandado para o Alasca, pelo menos, querida. Sophie digitava algo no tablet, sem levantar os olhos. — Estava ocupada com a repercussão da nossa “atuação”. — Ah, então admite que foi boa. — ele provocou, sorrindo. Ela levantou o olhar, fria. — Admito que foi irresponsável da sua parte. — Irresponsável seria deixar o público desconfiar. — respondeu ele, se aproximando. — Você sabe que aquele beijo garantiu mais contratos em vinte e quatro horas do que nossas campanhas em meses. Sophie se levantou devagar, enfrentando o olhar dele. — Isso é o que você entende por sucesso? Manipular a percepção até ela se tornar verdade? Theodore arqueou uma sobrancelha. — E você entende por fracasso sentir alguma coisa enquanto finge? O silêncio entre eles ficou pesado. Ela respirou fundo, controlando o impulso de responder à altura. — Não sinto nada, Beaumont. — disse, firme. — Só desgosto de trabalhar com alguém que não sabe distinguir teatro de realidade. Ele se aproximou um pouco mais, perto o suficiente para que ela sentisse o perfume dele, amadeirado, quente demais para aquele tipo de conversa. — Que bom… porque a imprensa acredita no contrário. — murmurou, com um sorriso quase imperceptível. — E enquanto acreditarem, o contrato está funcionando. Sophie manteve o olhar preso ao dele por um instante,antes de dar um passo atrás. — Mantenha seu charme para as câmeras, Theodore. Aqui dentro, ele não funciona. Ela recolheu os papéis da mesa e saiu, a cabeça erguida. Mas assim que a porta se fechou, Theodore passou a mão pelo cabelo e soltou um riso baixo um desses que não dá para controlar. —Ela sente. E está tentando negar— Murmurou baixo para si mesmo. Sophie, no corredor, ajeitou o blazer e respirou fundo, o coração ainda acelerado. Ele acha que sabe jogar. Mas eu também sei. - Pensava Sophie enquanto caminhava pelos corredores da empresa. O celular de Sophie toca. PLIMM PLIMM PLIMM. — Sophie McGoldrick— Ela atende dizendo, em tom baixo e firme. — Já tão séria sis, ainda não são nem dez da manhã — A voz de Emma é doce, brincalhona. Sophie dá um sorriso sutil e genuíno. — Já me enchendo a paciência e nem são dez da manhã, Emma ?! — Sophie brinca com sua irmã. Emma gargalha do outro lado da linha. — Sis, mamãe pediu que eu te ligasse, ela quer que você e Theo venham jantar em casa hoje. O convite fez Sophie parar bruscamente. Ela respira fundo. Ela sabe que no jantar sua mãe estará animada, falando do noivado. Emma ainda mais falando da nova coleção de roupas. Isso matava Sophie por dentro, ela ter que fingir para sua família que Theodore era o amor da sua vida. — Sis, hoje ? Acho que tenho compromisso. — Ela responde tentando se livrar. — Ah nem vem, mamãe vai ficar furiosa. Vai ter que dar um jeito de vir, se negar eu ligo pro Theodore— Emma responde. Sophie por um instante afasta o telefone do ouvido, jogando a cabeça para trás levemente. Um tic que ela tinha quando algo não saia como ela desejava. — Ok, nós vamos. As 20h chegamos aí. Até lá, Sis.— Sophie responde. — Vou avisar a mamãe, até. Beijo, da um abraço no Theodore. — Emma responde desligando a ligação. Sophie continua parada, encarando seu reflexo na porta de vidro de uma das salas. Ela vê uma mulher forte, determinada, inteligente. Mas agora ela também vê uma mulher encurralada, por causa de um contrato feito a anos atrás, e pior, com um cara que ela jurava odiar, mas não parava de pensar no beijo que ele deu nela a dois dias atrás. — Para de ser i****a, Sophie McGoldrick. — Murmurou ela para si mesmo. Voltando para a sala onde Theodore estava.
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