Theodore permaneceu observando ela e algo chamou sua atenção além da frustração com o local.
O pé dela não parava de balançar, um movimento nervoso e repetitivo.
A respiração era pesada, quase audível, e a mandíbula firme denunciava uma tensão que ia muito além do problema com a reserva.
Ele se aproximou devagar, cuidadosamente, sem invadir o espaço dela.
— Sophie… — disse baixinho, evitando soar autoritário —, você está diferente. Isso não é só sobre o jantar, é?
Ela suspirou, e por um instante pareceu prestes a se recompor. Mas o olhar fixo na mesa, os punhos cerrados, a fizeram perder a máscara que costumava exibir com perfeição.
— É… é sobre tudo. — A voz saiu rouca, carregada de nervosismo. — Theodore, eu… eu tenho medo.
Ele franziu o cenho, surpreso com a confissão.
— Medo?
— Sim. — ela respirou fundo, tentando organizar as palavras. — Medo de que as pessoas percebam que somos uma farsa. — Olhou para ele, finalmente encontrando o olhar dele, vulnerável e sincera. — Medo de que ridicularizem a gente, que percebam que todo esse “casamento” não passa de um acordo, e que eu… eu não consigo disfarçar tudo isso perfeitamente o tempo inteiro.
Theodore sentiu algo apertar o peito.
Ela estava nervosa, mas não por ele, nem pelo evento era a pressão de manter o controle, de sustentar a imagem de alguém impecável em todos os aspectos da vida.
— Sophie… — ele começou, aproximando-se mais, mas mantendo a voz baixa, segura —ninguém precisa perceber nada além do que nós permitirmos.
Ela desviou o olhar, ainda mordendo o lábio, mas algo nos olhos dela se suavizou, mesmo com a irritação e a tensão ainda lá.
— Mas… e se eles perceberem? — a voz dela falhou por um instante. — E se rir de nós for fácil demais? Theodore, você não entende, todo mundo olha pra gente… e eu não posso falhar.
Ele se aproximou o suficiente para tocar levemente seu ombro, um gesto firme, mas cuidadoso, como quem oferece apoio sem invadir o espaço dela.
— Eu entendo, Sophie. — disse, com sinceridade —. Mas ninguém vai perceber se nós dois mantivermos o controle. Juntos.
Ela suspirou, soltando um pouco da tensão, o pé finalmente parando de balançar.
— Você diz isso como se fosse fácil… mas eu não posso parar de me preocupar.
— Sou seu noivo. Então, estamos juntos nisso. — ele responde sério, mas com um sorriso aberto, tentando aliviar a tensão dela.
Sophie permitiu-se respirar fundo, os ombros relaxando levemente.
— Obrigada. — diz Sophie, em tom neutro.
Theodore percebeu que, por trás da máscara fria e mandona dela, havia medo e que, por mais que fingissem, ambos estavam aprendendo a lidar com a farsa de um jeito que ninguém mais poderia entender.
Ele soltou um pequeno sorriso, quase imperceptível.
Ela olhou para ele, ainda nervosa, mas algo nos olhos dela mudou: um lampejo de confiança, um fio tênue de alívio.
E naquele momento, Theodore soube que aquele tipo de a******a era raro, e que tinha sido confiado a ele.