O ar na sala de provas parecia pesado, quase sufocante.
Theodore estava a poucos passos de Sophie, observando cada movimento dela diante do espelho.
Ela girou levemente, e o reflexo deles se encontrou tão próximo que era impossível não notar a tensão.
Por um instante, tudo ao redor desapareceu.
Nenhuma estilista, nenhuma loja, nenhum compromisso.
Apenas eles dois, tão perto que o mundo inteiro parecia suspenso.
Theodore deu um passo à frente.
Sophie inclinou levemente a cabeça, os olhos fixos nos dele.
O impulso era quase irresistível.
Mas, no instante em que os lábios deles quase se tocaram, o telefone de Sophie tocou, cortando o silêncio com um som estridente.
PLIMM PLIMM PLIMM
Ela resmungou baixinho, irritada, pegando o aparelho.
— Ótimo— murmurou ao atender. — Qual é o problema agora?
A expressão dela se fechou ainda mais enquanto escutava do outro lado da linha.
— O restaurante? Sim, já sei. Entendi. — Ela desligou com força, o telefone quase caindo da mão. — Que absurdo!
Theodore franziu o cenho, cruzando os braços.
— Algum problema sério?
Sophie bufou, girando para ele com os olhos faiscando raiva e frustração.
— O lugar que eu escolhi para o jantar antes do casamento teve uma confusão de reservas e agora querem mudar tudo. — Ela bateu levemente a mão no balcão. — E você vai me ajudar a tirar esse vestido.
Theodore a observou, surpreso, mas não hesitou.
— Eu ?
Sophie ergueu uma sobrancelha, desafiadora, mas não conseguiu evitar um leve sorriso sarcástico.
— Com medo, Beaumont?
— Certo. — ele respondeu, firme, aproximando-se.
Com cuidado, Theodore desabotoou o vestido enquanto Sophie permanecia imóvel, concentrada. O toque dele era preciso, controlado, mas ainda assim carregava uma tensão que os dois sentiam no ar.
— Não se esqueça — disse Sophie, com a voz baixa, quase um sussurro —, nada de brincadeiras, Theodore.
— Eu sei. — ele murmurou, um canto de sorriso nos lábios.
Finalmente, o vestido estava solto o suficiente para que ela pudesse se mover sem desconforto.
Ela pegou o casaco que tinha trazido e caminhou à frente, com Theodore logo atrás ajudando ela com a calda do vestido.
O trajeto até o restaurante foi silencioso, mas o silêncio não era confortável era carregado de tensão. Cada vez que seus olhares se cruzavam um arrepio percorria seus corpos.
Quando chegaram ao local, Sophie respirou fundo, ajustando os ombros e voltando à postura firme e controlada.
— Certo, vamos resolver isso antes que alguém decida inventar outra confusão.
Ele apenas assentiu, com um sorriso quase invisível, guardando para si a tentação de dizer o que sentia.
E assim, lado a lado, eles entraram no restaurante dois parceiros em aparência fria, mas com o coração batendo mais rápido do que qualquer um deles queria admitir.
O restaurante estava em uma pequena confusão quando Sophie e Theodore chegaram. Mesas desalinhadas, alguns garçons circulando apressados e o gerente tentando acalmar os clientes que reclamavam. Sophie cruzou os braços, o olhar afiado, respirando fundo com dificuldade.
— Isso é inaceitável! — ela começou, a voz firme, mas carregada de tensão que ia além do problema. — Eu marquei esse jantar há semanas! E agora querem me empurrar para outra sala, outro horário... não vou permitir!
Theodore percebeu, enquanto a observava, que o problema ia além das reservas. Havia algo nos ombros dela, na maneira como a mão dela apertava o celular, no ligeiro tremor da mandíbula. Não era apenas frustração com o restaurante era raiva contida, uma mistura de stress e algo pessoal.
— Sophie — ele disse, aproximando-se com cautela —respire. Você vai acabar se exaltando demais.
Ela se virou para ele, os olhos faiscando, quase desafiando-o.
— Theodore, eu não posso simplesmente aceitar que façam o que quiserem com os meus planos! Você sabe que eu gosto de ter tudo sob— ele a interrompe.
— Eu sei — ele interrompe,com a voz firme, mas calma. — Mas se você perder o controle agora, vai acabar complicando tudo ainda mais.
Sophie respirou fundo, tentando se recompor, mas Theodore percebeu que a irritação não diminuía. Ele sabia que precisava agir rápido antes que o temperamento dela a levasse a uma explosão maior.
— Deixe comigo — disse ele, se aproximando do dono do restaurante, que se mostrava nervoso diante da fúria de Sophie. — Vamos resolver isso.
Theodore fez uma rápida proposta: um aumento do valor do jantar e alguns ajustes no serviço para acomodar os desejos de Sophie. O dono do restaurante, surpreso com a iniciativa e o gesto financeiro, imediatamente concordou.
— Está bem, senhor Beaumont. Podemos reorganizar tudo como você pediu. — disse o homem, aliviado.
Sophie respirou fundo, cruzando os braços novamente, mas agora com menos tensão. Ela lançou um olhar para Theodore, ainda irritada, mas havia um lampejo de reconhecimento no modo como ele interveio.
— Você realmente não perde tempo, não é? — disse ela, ainda firme, mas a voz suavizada.
— Não quando você está prestes a explodir. — ele respondeu, um leve sorriso brincando nos lábios.
Sophie desviou o olhar, tentando disfarçar o rubor no rosto. Theodore percebeu que havia acertado o tom.
O problema estava resolvido, mas o silêncio que se seguiu entre eles carregava mais do que satisfação profissional. Carregava tensão, respeito e reconhecimento.
Enquanto o gerente reorganizada os detalhes para o jantar com Sophie.
Theodore permaneceu ao lado dela, pronto para qualquer eventualidade, e Sophie, por um instante, deixou de lado a máscara rígida, permitindo que ele visse o quanto ela se importava com tudo e talvez, com ele também.