Depois de tomar um banho rápido e comer apenas uma maçã, corri para a empresa.
Cheguei cerca de vinte minutos atrasada.
— Bom dia senhora.
— Bom dia Samantha.
Entro em minha sala e jogo a bolsa na mesa.
— O rapaz indicado pelo Clive chegou.
— Peça para esperar um pouco.
Checo meu e-mail e nenhuma novidade.
Meu celular vibra.
Estou precisando de dinheiro.
Ligo para Jason.
Levanto da cadeira e vejo se alguém se aproxima.
— Estou no escritório.
— Acho que consegui algo, mas estou sem dinheiro. Meus cartões ficaram em Roseburg.
— Onde você está?
— Na frente do prédio.
— Então suba.
Desligo o celular enfurecida.
— Diga o rapaz que espere na recepção e que daqui a pouco o chamo. Chegará um rapaz para falar comigo, deixo-o passar direto.
— Sim senhora.
Olho algumas vezes para a porta, mas Jason parecia ter se perdido no prédio.
Levanto e vou até a recepção.
Vejo o elevador se abrir e para meu alívio, era ele.
— Pensei que tivesse se perdido — sussurro.
— Estava procurando vaga para estacionar.
Entramos em minha sala e tranquei a porta.
— O que acha que encontrou?
— Um nome. Katie Lukke.
— E quem seria?
— Uma mulher que diz ter conhecido Lawrence há muito tempo.
— De quanto precisa?
— Vinte mil.
Olho-o repreendendo-o, mas ele apenas me ignora. Confiava em Jason, ele não me pediria dinheiro se não precisasse.
— E preciso de passagens para Inglaterra.
— Certo. Quando vai?
— Assim que tiver as passagens.
Saio da sala e peço a Samantha que verifique a disponibilidade de vaga para o próximo voou. Ela verifica que há um voou dentro de algumas horas.
— Pronto. É só retirar a passagem no aeroporto.
— Obrigado.
— Eu que agradeço.
Acompanho-o até o elevador.
— Me dê notícias…
— Avisarei assim que chegar…
O elevador chega e Jason entra. Observo a porta se fechar e sinto que uma nova oportunidade estava por vir.
Passo o olhar pela recepção, e vejo um homem de jaqueta preta. Ele estava de cabeça baixa.
Sigo para minha sala e digo que Samantha já podia mandar o rapaz entrar.
— Licença — Samantha abre a porta e entra, logo atrás dela entra um homem jovem — este é Apollo Kendrick.
Levanto-me para cumprimentá-lo e sinto minhas pernas falharem.
Apollo era um pouco mais alto que eu. Sua barba e cabelos claros faziam contraste com seus olhos claros e traços marcantes.
Quando seus olhos encontraram os meus, senti-me envergonhada.
— Preciso dizer que é um enorme prazer conhecê-la — ele estenda a mão e eu retribuo.
— Digo o mesmo. Clive falou muito bem de você…
— Ele também me falou sobre a senhora.
— Me chame de você, aliás, me chame de Savana.
Apollo sorri.
— É um belo nome.
— Obrigada.
Samantha ainda estava na sala e me olhava com uma cara risonha.
— Aceita um café? — Apollo assente — dois cafés Samantha.
— É pra já.
Espero Samantha fechar a porta para tornar a olhar para Apollo, que para minha surpresa olhava-me intensamente.
— Sente-se — indico a cadeira bem à minha frente.
Acomodo-me em minha cadeira e tento disfarçar o desconforto de tê-lo ali me encarando.
— Me fale um pouco sobre você.
— O que quer saber exatamente? — rebate com um tom de voz mais grave.
— De onde é? Já trabalhou para outras empresas?
— Sou do Missouri e sim, já trabalhei em outras empresas.
— Entendo…
— Com licença — Samantha serve o café e rapidamente se retira.
— Há quanto tempo trabalha na área?
— Há cerca de oito anos.
— Agora entendo porque Clive o indicou — digo sorrindo.
— Também entendo o que Clive quis dizer, quando mencionou o crescimento repentino da empresa. Que sócio resistiria a um sorriso desses…
Envergonhada, levo a xícara a boca e tomo um longo gole do café, que por sinal estava amargo.
Apollo balança a cabeça levemente e sorri.
— O que eu quis dizer é que você consegue cativar as pessoas com sua simpatia. É muito melhor ver uma mulher sorrindo, do que outro homem — explica.
— Tenho tido muito trabalho para recuperar clientes e sócios perdidos, mas com a ajuda de todos, tenho conseguido driblar as situações difíceis.
— E presumo que para que as coisas melhorem mais ainda, você precisa de uma pessoa capaz de lhe orientar sobre as melhores mercadorias e suas funcionalidades. Estou certo?
— Exatamente. A empresa tinha um funcionário para tal serviço, mas alguns sócios começaram a reclamar da mercadoria e quando a empresa foi analisar a situação, descobriram que o funcionário estava desviando a mercadoria boa para o concorrente e vendendo aos clientes o pior material que tínhamos, pra falar a verdade, era basicamente os restos das mercadorias com defeito. Estamos há quase três meses sem uma pessoa no cargo e isso tem nos trazido muitas dores de cabeça.
— Entendo. Já tem muito serviço e ainda ter de se preocupar com algo tão simples para quem já está acostumado, é muita perda de tempo.
— Exatamente.
— Bem, posso lhe garantir que poderei resolver todos os seus problemas.
Apollo olhava diretamente para meus olhos. Ou ele estava tentando me persuadir ou ele era apenas muito sério em cada gesto.
— Assim eu espero. Confio em Clive, ele não me indicaria alguém que não fosse me servir.
Ponho me de pé e Apollo faz o mesmo.
— Seja bem-vindo — digo estendendo a mão.
— Prometo que não irá se arrepender — Apollo pega minha mão e a leva até os lábios, onde deposita um beijo suave — prometo não decepcioná-la, e saciar todas as suas necessidades…
Apollo sorri e eu tento não pensar que ele poderia estar flertar comigo.
Ela solta minha mão e eu o acompanho até o elevador.
— Então, vejo-o amanhã as 07hr00min?
— Com toda certeza — mais uma vez ele me observava atentamente, e aquilo me deixava desconfortável.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos, até a porta do elevador se abrir.
— Savana? — olho para Eric que fitava-me desconfiado.
— Até amanhã — Apollo se despede.
Eric sai do elevador e Apollo entra. Eric o observa, e antes que as portas se fechassem totalmente, vejo uma linha fina se formar nos lábios de Apollo. Um sorriso malicioso demais para a ocasião.
— Quem era?
— O novo analista — passo a fitar Eric que olhava-me de volta seriamente.
Seguimos para minha sala, e logo depois de entrarmos ele fechou a porta.
— A mercadoria nova chegou…
— Apollo irá até lá amanhã para analisar — interrompo.
— O cara do elevador?
— Sim.
— Quando o contratou?
— Hoje.
— Hoje?
— Sim. Hoje.
— Porque?
— Porque precisamos de um analista — respondo prontamente.
— Eu sei, mas refiro-me a rapidez da contratação. Quem garante que ele não é mais um que finge saber de algo e no fim das contas é burro feito uma porta?
— Clive me garantiu que não. Apollo foi indicado por ele.
Eric passou a me fitar seriamente.
— O que foi? — pergunto percebendo seu jeito.
— Nada — ele dá as costas e fica de frente para a janela.
— Nada? — pergunto aproximando-me dele — diga-me o que foi.
Ele permanece calado.
— Não vai me dizer?-- pergunto, mas ao perceber que não responderia, respiro fundo afasto-me e pego minha bolsa em cima da mesa. Era melhor sair dali antes que discutirmos por algo bobo.
— Aonde vai? — indaga.
— Sair. Tenho umas coisas para resolver.
— Que coisas?
— Visitar alguns sócios.
Saio da sala e sigo para o elevador.
— Senhora — Samantha me alcança — precise que assine alguns papéis.
— Amanhã assino.
Entro no elevador e pego meu celular.
Já estou no aeroporto, embarco dentro de duas horas.
Aperto o botão para a garagem.
Saio rápido da garagem do prédio. Tinha uma reunião a poucas quadras da empresa. Paro no sinal vermelho e checo novamente meu celular.
Quando levanto a cabeça, vejo um homem atravessando na faixa de pedestres; ele vestia um terno branco bem alinhado. O homem olha diretamente para mim e sorri.
Lawrence parecia ainda mais jovem.
O segui com a vista, até onde pude. Acordo de meu transe com um carro buzinando freneticamente atrás de mim. Avanço a rua e olha mais uma vez para o rumo que o homem havia tomado, mas não o vejo.
Estaciono o carro o em frente ao escritório de um dos sócios.
Recosto-me no banco e respiro fundo. Há dias que não conseguia dormir direito. Acordava atordoada, e por vezes não conseguia voltar a dormir.
Pego um batom em minha bolsa e passo um pouco.
Desço do carro tentando mentalizar que nada tinha acontecido. Precisava de concentração, precisava fechar esse negócio. Ter o apoio desse sócio seria uma grande ajuda para a empresa.