Cheguei em casa por volta das 19hr30min.
— Eric?
Vou até a cozinha, mas não o encontro.
Tiro os saltos e jogo a bolsa no sofá.
Sigo para o quarto e percebo que ele não estava em casa.
Tiro a roupa e vou para o banheiro. Tomo uma ducha e enrolo-me no roupão.
Verifico o celular — havia duas chamadas de Jason.
Estou em casa. Amanhã ligo para você. Eric já deve estar para chegar.
Digito rapidamente quando ouço alguém bater à porta.
— Oi, sou seu vizinho aqui do lado. Recebi isso hoje de tarde. A pessoa esteve a sua procura, mas como não estava e me viu saindo, perguntou se eu poderia receber e lhe entregar.
— Ah, obrigada.
— De nada.
O rapaz me entrega uma caixa muito bem embrulhada.
Fecho a porta e balanço na tentativa de descobrir o que era.
Rasgo o papel e deparo-me com uma caixa-preta.
Sento no sofá e analiso a caixa por um momento.
— Savana — Eric abre a porta.
Escondo a caixa debaixo das almofadas, antes que ele a visse.
— Onde estava?
— Você fugiu e sobrou pra mim ficar na reunião da Diretoria.
— Ai que d***a, esqueci completamente. Estava tão focada em conseguir aquela parceria que tanto estamos precisando, que esqueci de todo resto.
— E conseguiu?
— Depois de quase me jogar nos pés de todos, eles optaram por voltar para a Wood’s.
— Tá brincando!
Eric se aproxima e me abraça.
— Também não acreditei, mas quando chamaram o Diretor-Presidente, vi que tínhamos ganho.
— Também, quem resiste a esse seu jeitinho encantador e sedutor?
— Não consegui a parceria seduzindo ninguém, consegui mostrando-lhes a maravilhosa oportunidade que eles estavam perdendo.
— Sei… O que acha de você me mostrar a maravilhosa oportunidade que estamos perdendo enquanto conversamos?
— Pode até ser, mas antes, quero que me responda uma coisa.
— O que?
— O que deu em você hoje mais cedo?
Eric solta-me e fica sério.
— Nada.
— Não, foi alguma coisa sim. E foi depois de ver o novo analista. Por acaso o conhece de algum lugar?
— Não.
— Tem certeza?
— Tenho Savana — responde rudemente e segue para o quarto.
— Ei, o que houve? Porque está agindo assim?
Eric permanecia calado enquanto tirava a roupa.
— Não vai me responder?
— O que quer que eu diga?
— Quero que me diga o motivo de estar com essa cara — estava ficando impaciente.
— Desculpe-me se não lhe agrada, mas é a única que tenho.
— Sabe que não me refiro a isso. Quero saber porque fechou a cara quando viu aquele rapaz?
— Você quer mesmo saber?
— Quero!
— Como se sentiria se saísse de um elevador e me visse olhando para outra mulher, da mesma forma que eu te olho?
— O que? — sabia sobre o que ele se referia.
— Vi seu jeito. Vi a forma que olhava para aquele homem. E não gostei.
— Meu deus, Eric, você está entendo tudo errado e ainda por cima distorcendo as coisas.
— Não sou burro Savana, eu vi.
— E qual o problema de olhar para outro homem? Vai dizer que não olha para outras mulheres e não as admira?
— Uma coisa é olhar, outra coisa é lançar um olhar.
Ele segue para o banheiro e eu o sigo.
— “Lançar um olhar?” Do que está falando?
— Sabe muito bem sobre o que estou falando. E eu não fui o único a perceber, Samantha também notou.
— Samantha também notou o que? Vocês são dois cegos.
Eric entra no chuveiro e eu abro a porta do box.
— Só me diz o que você quer com tudo isso? — indago.
— Quero ter certeza de que estou certo.
— Certo de que?
— De que ao pôr os olhos naquele homem, o contratou não por sua competência, mas sim por querê-lo por perto.
— Querê-lo por perto? Tem noção do que está falando? Entendo que ter ciúmes é normal, mas isso, já é paranoia. Conheci o homem hoje e já está tendo ataques de ciúmes e pior, insinuando que o contratei porque o quero por perto? Se quer saber, quero mesmo o Apollo por perto, ele será de grande ajuda na empresa.
Saio do banheiro e visto minha roupa para dormir.
— Para empresa, ou para você?
Olho para ele sem acreditar que ele dissera tal coisa.
— Ouça, não vou admitir que insinue algo do tipo contra mim. Estamos juntos há quase dois anos, e nos últimos oito meses, vivemos debaixo do mesmo teto. Eu o respeito e você retribui da mesma forma, mas se agora, depois de tudo o que passamos, você apontar o dedo na minha cara e ter a coragem de dizer que estou me insinuando para outro homem, eu sinto lhe dizer, mas pedirei que saia da minha frente, antes que cometa uma loucura.
— Cometer uma loucura?
— Sim.
— Que tipo de loucura?
— Do tipo, avançar em cima de você e surrar sua cara até dizer chega.
Eric olha-me por alguns segundos antes de soltar uma gargalhada.
— Há quanto tempo não se transforma? Sete meses? Já deve ter perdido a prática.
— Não ouse me desafiar.
— Não farei.
Tentei me manter séria, mas foi em vão. Comecei a rir e Eric me acompanhou.
— O que estamos fazendo? — digo — brigando por conta de um estranho?
— Culpa sua.
— Minha?
— Sim, não precisava ficar olhando para o tal Apollo daquele jeito.
Aproximo-me de Eric e abraço-o.
— Olhando de que jeito?
— Do mesmo jeito que você me olha.
— Não seja t**o, eu nunca olharei para outro homem da mesma forma que eu lhe olho.
— Promete?
— Prometo. O que você pensou ter visto, não passou de uma mera ação. Não há nada com que se preocupar.
Eric acariciou meu rosto e beijou-me suavemente.
— O que acha de passarmos o dia fora?
— Amanhã? — ele assente — não posso, ficou algumas pendências a serem resolvidas. Mas quais seriam seus planos?
— Nossa cabana…
— Na floresta?
— Sim, pensei em passarmos o final de semana em Roseburg.
— Acho uma ótima ideia — digo beijando-o — poderíamos nos encontrar amanhã. Vou para a empresa, resolvo tudo por lá, e sigo para Roseburg.
— Pode ser.
Eric apertou-me ainda mais contra si.
— Há uma coisa que quero muito conversar com você, mas deixarei para quando estivermos longe de toda essa barulheira.
— O que é?
— Amanhã eu lhe digo.
— Não. Me diz, vai! Sabe que sou curiosa e faz isso.
— Faço o que?
— Isso — empurro contra a cama e caio em cima dele — me provoca e depois se esquiva.
— Eu nunca me esquivo de você.
— Então me diz o que é…
— Não adianta, não vai conseguir arrancar nada de mim.
Sorrio maliciosamente.
— É aí que você se engana. Há algo sim que consigo arrancar facilmente de você…
— Meu juízo? — rebate rindo.
— Não, essa toalha — arranco a toalha da parte de baixo — o que me diz?
— Digo que é uma ótima ideia…