Colapso

2269 Palavras
Ulisses e o policial vão se aproximando com cuidado do shopping, que estava muito escuro e deserto, isso deixou o policial muito preocupado, e Ulisses nota isso e sugere: - Será que você não consegue contato com alguém lá dentro? - Boa ideia. Ele pega o rádio e diz: - Aqui é o 087, estou me aproximando do abrigo e gostaria do status local para adentrar. Trouxe um sobrevivente comigo, repito, preciso saber do status local, câmbio. Mas o rádio só apresentava estática. - Não vamos entrar lá assim. - disse Ulisses. - Tem milhares de sobreviventes lá dentro! - Ou milhares de zumbis. Nós ainda nem sabemos como a infecção acontece, não é? E o lugar mais seguro de Antananarivo estar um breu no meio da madrugada não é um bom sinal. O policial fica pensativo, e analisando toda a situação, ele já estava para chegar em uma decisão, até que de repente as luzes do shopping voltam. - Viu, eu disse que é o local mais seguro, e não é atoa. - disse o policial. Ulisses fica quieto, e o policial tenta contato outra vez: - Aqui é o 087, estou levando um sobrevivente e preciso do status da situação local, câmbio. Dessa vez o rádio deu resposta: - Não muito boa, 087. Ulisses e o policial se entreolham. - O que aconteceu? - perguntou o policial. - Tivemos problemas inesperados, perdemos centenas de sobreviventes e a área central do shopping está isolada. Os dois ficam em silêncio por um tempo, e então o policial pergunta: - Existe alguma entrada segura? - Pelo canto noroeste, nas docas. - Estamos indo pra lá. O policial muda a rota, entrando por outra avenida. Ulisses percebe como ele tinha ficado silêncioso depois da notícia, e resolve falar: - Você tem nome, 087? - Eu me chamo Mendrika, Mendrika Torres. - Eu sou Ulisses de Sá. - Pelo seu sotaque, você é estrangeiro. De onde você veio? - Rio de Janeiro. - Brasil, huh? Péssima hora pra trocar Ipanema por uma cidade contaminada. - Eu só estava de passagem com um amigo, não pretendíamos ficar aqui mais do que o necessário, porém... é, porém aqui estamos. Mendrika olha para a tatuagem no ombro de Ulisses e pergunta: - Você é surfista? - Espero continuar sendo por muitos anos. - Você é otimista. Ulisses olha pra ele e responde: - Espero que você também seja. Mendrika fica exitante e fala: - Fui eu quem colocou a maioria daquelas pessoas lá dentro, eu prometi que elas seriam salvas dessa tragédia, e agora várias delas morreram, e as que ficaram vão pensar que eu sou um mentiroso. - Bom, você parece se importar com os outros. Eu acabei de presenciar um guarda estourando a cabeça do meu amigo bem na minha frente, no mínimo um b****a você não é. - Você parece estar bem pra alguém que acabou de testemunhar uma cena tão horrenda e traumática. - Meus amigos costumam dizer que eu tenho sangue de barata, mas eu acho que ainda tô no choque. Eu espero encontrar um local seguro quando eu tiver um colapso. - Espero poder fornecer isso, e apoio psicológico também. - O que é você? Um super herói? - Sou só um cara fazendo o meu trabalho. Eles estavam se aproximando da entrada, e alguns guardas estavam ali parados e esperando por eles. Quando Mendrika aproximou a viatura do portão, eles abriram e apontaram armas pro carro, e Ulisses se retraiu todo. - Calma, esses caras são meus amigos, eles não vão atirar em nós. - disse Mendrika. Mendrika foi desacelerando e parou o carro no meio da doca, e logo em seguida eles fecharam o portão. Um guarda se aproximou do vidro do lado de Mendrika e deu uns toques, e Mendrika abriu, e o guarda falou: - 087, esse sobrevivente está sujo de sangue, ele foi atacado? - Sim, 043, mas não por um zumbi. Esse sangue é de um amigo dele que foi assassinado na frente dele por um guarda. - Como você sabe disso? - Ele não tem nenhum ferimento. Todos os guardas se entreolham e Ulisses fica com medo, mas então o 043 diz: - Encaminhem ele pro chuveiro e dêem roupas novas. Nessa hora todos eles abaixaram as armas e Ulisses respirou mais aliviado. Eles saíram do carro, e os seguranças escoltaram Ulisses até fora das docas. Mendrika vê um homem brando de corte de soldado e expressões brutas se aproximando dele e estendendo a mão, e os dois se cumprimentam com um aperto de mãos. - Bom ver que está vivo, Mendrika. - Se até Hank Jones consegue sobreviver, por que eu não conseguiria? Eles riem juntos. - O que foi aquele apagão por aqui? - perguntou Mendrika. - Tivemos uma queda de luz quando toda a loucura começou, foi difícil conter o avanço da horda que se formou do nada, mas conseguimos fazer barricadas improvisadas e lacramos a região da praça de alimentação toda. - disse o 043. - Vai ficar difícil conseguir suprimentos frescos agora. - Temos bastante coisa intocada aqui nas docas, deve durar até o resgate chegar, já que estamos com um número muito reduzido de pessoas agora. - disse Hank. Mendrika fica em silêncio e entristecido. - É, eu sei. Também me sinto do mesmo jeito, mas precisamos cuidar dos que ainda estão aqui. - disse Hank. - Ao menos, fizemos descobertas interessantes sobre como essa transformação doida acontece. - disse o 043. - Perai, estão falando sério? - Sim, as câmeras gravaram todo o momento em que o ataque começou. Quer dar uma olhada? - ofereceu Hank. - Querer eu não quero, mas precisamos entender como isso funciona. - É assim que se fala. Ulisses entra no banheiro com uma muda de roupas novas dentro de um plástico, mas ele percebe que jáa tinha outra pessoa tomando banho ali, em uma cabine fechada do banheiro. Ele percebeu que aquela pessoa estava sentada no box do banheiro e chorando silenciosamente enquanto a água caia. Ulisses tenta ignorar e tira suas roupas sujas e entra em um box, ligando o chuveiro e começando a limpar o sangue e o lixo. - QUEM ESTÁ AÍ? - perguntou a pessoa que estava sentada no box e chorando silenciosamente quando ouviu o som do chuveiro ligando, com uma voz estérica. - Ei! Relaxa cara, eu sou um humano normal. Um sobrevivente igual a você. - Você foi mordido? - O que? Mordido? Mordido por quem? - Pelos zumbis. Ulisses fica pensativo e responde: - Não. - Por que você exitou? - Eu não exitei. Só não entendi qual é a relação entre os zumbis e uma mordida. - É assim que a infecção acontece, eles te mordem e você fica contaminado. Isso deixou Ulisses surpreso. - Como você sabe disso? - Eu estava lá quando aconteceu. - Na zorra no centro do shopping? - Sim. Hank e o 043 levaram Mendrika até uma sala de segurança, onde eles começaram a assitir as gravações do incidente de horas atrás, e Mendrika vê como tudo começou: Na gravação mostra aquela mulher que os policias trouxeram em cima das mesas, e no momento que Dominic olhou pra ela, ela saltou pra cima do policial e mordeu ele na jugular. Um pânico começou, e as pessoas começaram a tentar se afastar dali. O outros policias chegaram armados, e vendo que a mulher estava completamente fora de controle, eles abriram fogos todos juntos contra ela, e pra surpresa de todos, foram necessários muitos disparos para enfim tombar a mulher, que quando chegaram para olhar mais de perto, viram que ela tinha virado um zumbi. Isso deixou todos muito chocados, e quando um dos policiais pegou o rádio para avisar os outros, o policial que estava com a jugular aberta se levanta de repente e ataca os outros policiais, que tentavam atirar contra ele, mas as balas estavam penetrando com muita dificuldade por conta do colete grosso que ele estava usando e do capacete resistente. Os policias logo foram contaminados também, e rapidamente a situação foi saindo do controle, e agora tinha uma grupo de policiais zumbis atacando as pessoas e devorando várias delas enquanto elas tentavam fugir para outras áreas do shopping. Mendrika fica horrorizado assistindo aquela carnificina, e a situção só é controlada finalmente quando chegam policiais com escudo de acrílico e cercam os zumbis formando uma barreira que não os deixava passar, enquanto outros policiais fizeram rapidamente barricada improvisadas com mesas, cadeiras e cordas. Eles deixaram um pequeno espaco para os policias com os escudos saírem enquanto os outros reterdavam os zumbis com tiros. Eles fecharam as portas de emergência que tracavam os corredores para outras áreas do shoping, isolando completamente a praça de alimentação. A gravação para, e Mendrika já estava sentindo náuseas, mas se recompõe e diz: - Então, é a mordida, não é? - É, pelo visto sim. - disse Hank. - Isso é uma informação muito útil, agora podemos enfim bolar meios de evitar a infecção. - disse o 043. - Vamos nos basear nisso daqui pra frente. - determinou Mendrika. De volta para Ulisses, ele ouve todo esse relato pela perspectiva da pessoa que estava tomando banho no outro box. - Você tava lá de frente? Minha nossa, eu lamento muito. Deve ter sido terrível. - Foi, foi a experiência mais traumática que eu já vivi até hoje. Só de pensar que aquela zumbi poderia ter pulado em mim ao invés do policial. - Falando em experiências traumáticas... - Oh sim, claro. Você também deve ter passado por muita coisas, eu imagino. - Um guarda matou meu melhor amigo bem na minha frente. Eu ainda tô tirando os miolos dele do meu cabelo. A outra pessoa no box fica horrorizada ao ouvir isso. - Qual é o seu nome mesmo, colega? - perguntou Ulisses. - Dominic Splinder. - Você é alemão, eu já desconfiava pelo seu sotaque. - Eu não conheço o seu, mas você fala inglês perfeitamente. - É o idioma mundial, é preciso saber essas coisas se quiser viver em um mundo tão globalizado como o de hoje. - Mas de onde você é realmente? - Brasil. Sou um carioca. - Carrioca? - Você falando faz parecer engraçado. Os dois não estavam com a menor vontade de rir, apesar disso. Um tempo depois os dois saem do box e se vestem, e então eles finalmente se vêem e Dominic fica impressionado em o quão grande e forte Ulisses era, e Ulisses por outro lado fica surpreso em ver o quão baixo e raquítico Dominic é. Eles se entreolham, e Ulisses diz: - É um prazer te conhecer, cara. - Digo o mesmo, na medida do possível. Ulisses acena com a cabeça, e Dominic começa a dar umas tossidas de leve, e isso deixa Ulisses preocupado, que já pergunta: -Você está bem? - Sim, eu tô, é só que... eu não encontrei a minha bombinha ainda. - Sua bombinha? Você é asmático? - Eu sei, péssimo momento para ter problemas respiratórios, não é? - E como! Dominic senta em uma banco e tenta respirar fundo, Ulisses fica ali de olho nele. Até que Dominic alcança alguma coisa numa mochila que ele tinha deixado perto de um banco no banheiro e tira uma arma lá de dentro, deixando Ulisses alerta, mas Dominic simplesmente estendeu a arma pra ele e disse: - Toma, pode ser útil pra você. - Mas por que está me dando isso? Essa arma é sua, não é? Ela pode vir a ser útil pra sua p******o. - O policial Hank me deu isso, eu odeio armas. - Você está me dando o único meio que você tem de se defender não só dos zumbis, mas de um completo desconhecido? - Não tem munição. - Oh... - Eu descarreguei tudo tentando impedir que os zumbis me devorassem na praça de alimentação. Ao menos deu certo, eu ainda estou vivo e sem estar faltando nenhum pedaço. - E você ainda quer se desfazer disso? - Você quer ou não, Ulisses? Então Ulisses dá de ombros e pega a arma, e a põe no cós da calça. - Obrigado, Dominic. - Disponha. Dominic consegue recuperar o fôlego, e depois de um tempo ele se levanta e Ulisses o acompanha para fora do banheiro. Os dois saem em um corredor de lojas cheio de pessoas pelo chão, todas olhando para eles e eles olhando de volta. - O que vamos fazer? - perguntou Dominic. - Eu não sei, talvez esperar o resgate. Que tal sentarmos ali? - disse Dominic. Então os dois vão e se sentam no chão em um canto, até que Dominic começa a puxar assunto: - Você disse que um guarda matou seu amigo, né? Como foi isso? - Bem rápido. Eu m*l percebi as coisas a ponto de fugir e evitar ser baleado também. - Eu lamento muito por isso. - Obrigado. Na sala de comando, Hank Jones estava olhando as câmeras de segurança do lado exterior do shopping, e ele leva um susto de leve quando vê uma mulher vestindo um jaleco de enfermeira batendo dessesperadamente em um portão, pedindo por socorro. Hank vê aquilo e diz: - Mendrika, olha isso! Mendrika vê rapidamente chegando no monitor e comenta: - Uma enfermeira? - Ela está gritando por socorro! - Temos de ajudá-la. - Não, é muito perigoso! - Ela é uma enfermeira, pode vir a ser muito útil. - Ou está infectada. Mendrika ignorou o que Hank falou e saiu correndo em direção à porta. - E-Ei Mendrika! Onde você está indo?! - Salvá-la!
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