Papai chegou com a mala, e pegamos um táxi direto para o hotel Grand Luxe em Houston, Texas. Assim que saí do carro, meus olhos se arregalaram diante da grandiosidade do lugar. O hotel era deslumbrante, com um design moderno em tons claros e palmeiras imponentes decorando a entrada. Parecia um daqueles lugares que só se vê em filmes, cheio de luxo e sofisticação. A diária deve ser um absurdo, pensei, mas papai sempre gostou de ostentar, mesmo que às vezes isso gerasse brigas com mamãe.
Enquanto fazíamos o check-in para o quarto 502, enviei uma foto para o grupo dos meus amigos, acompanhada de uma legenda animada, tentando me convencer de que essa mudança não seria tão r**m.
Oi, galerinha! Cheguei! Até que não é tão r**m quanto eu pensava. Estamos no Grand Luxe!!
A resposta não demorou.
Sara: - Nossa, que chique! Tá podendo, hein?
Make: - Claro, só podia ser a Megan. Sempre no luxo. Aposto que esse hotel é mais caro que a casa onde eu moro. Melanie: - Vai tirar foto na piscina, né? Dizem que esse hotel tem uma das piscinas mais incríveis.
Li as mensagens e senti um aperto estranho no peito. O jeito que eles falavam, como se eu estivesse esfregando minha condição financeira na cara deles, me incomodava. Sempre foi assim. Sempre que algo bom acontecia comigo, parecia que eles ficavam esperando uma brecha para me fazer sentir culpada por isso.
Vamos amanhã pra casa nova, não sei onde é ainda. Vou perguntar pra minha mãe. Estou com saudades de vocês, mas também empolgada com essa nova fase. É uma mistura de sentimentos. Aliás, vou já tirar umas fotos.
Melanie: - É... Bom, pelo menos você não vai esquecer da gente, né?
Sara: - É. Esse ano vai ser cheio de novidades pra você. Só espero que não fique muito "ocupada" pra falar com a gente.
Make: - Aham, bem isso. Mas enfim, divirta-se no seu castelo.
Ignorei o peso das palavras e bloqueei o celular. Sabia que, no fundo, eles não ficavam felizes com as minhas conquistas. Mas fingiam bem o suficiente para que eu tivesse dúvidas.
No restaurante do hotel, o ambiente era de puro requinte. Tons dourados e vermelhos decoravam o salão, e algumas áreas eram reservadas para clientes VIPs. Enquanto esperávamos a comida, olhei ao redor e percebi uma família enorme em uma dessas áreas reservadas. Todos bem vestidos, com uma postura elegante. Fiquei imaginando como seria viver uma vida cercada desse nível de glamour.
Minha mãe interrompeu meus devaneios.
Sushi de novo, filha? - Ela disse, franzindo a testa enquanto eu mordia meu temaki.
Eu gosto, mãe. E tá muito bom!
Você nunca come carne. Isso não é saudável.
Deixa a menina, Lauren. Pelo menos ela tá comendo. - Papai disse, rindo.
É, só que alguém aqui precisa se preocupar com a saúde dela. - Mamãe rebateu, azeda.
Revirei os olhos. Ultimamente, qualquer coisa era motivo para uma discussão entre eles. Eu sabia que estavam brigando cada vez mais, mas fingiam manter a aparência, pelo menos quando estavam na minha frente. Só que eu percebia os olhares, os suspiros pesados, o jeito como mamãe ficava de braços cruzados sempre que papai falava.
Depois do almoço, fomos para a área da piscina. Minha mãe pediu um gin, e eu, uma Fanta. Eu poderia beber, ninguém ia me impedir, mas simplesmente não estava com vontade. Enquanto isso, perguntei para ela sobre a casa nova.
Vamos morar na Sunset Ridge, em Manhattan.
Manhattan? - Arqueei as sobrancelhas. - Isso não deve ser barato.
Deixa seu pai se preocupar com isso. - Mamãe disse, num tom seco, bebendo um gole do gin.
A conversa morreu ali. Como sempre.
Meu pai voltou só às 19h, com um semblante cansado, mas com uma postura orgulhosa.
Amanhã cedo vamos pra casa nova. Está tudo certo. Já dei a entrada no banco e amanhã resolvo as últimas coisas no trabalho.
Mamãe só assentiu, sem entusiasmo. Percebi que não houve nenhuma troca de olhares entre eles.
À noite, saímos para jantar. Pedi um filé com suco natural e finalizei com uma sobremesa incrível: bolo de morango com sorvete. Tirei uma foto e enviei para o grupo.
Boa noite, olha essa belezinha!
A resposta veio rápida.
Sara: - Caraca, Megan, tá mesmo esbanjando, hein? Já se adaptou à nova vida de socialite? Make: - Só quero ver quando começar a escola nova, vai ser a rainha dos riquinhos. Melanie: - Verdade! Mas não esquece de nós, os pobres mortais.
Engoli em seco. Eu sempre achei que eles fossem meus amigos, mas ultimamente parecia que tudo o que eu fazia era uma afronta para eles. Nenhuma mensagem de "que legal" ou "parece gostoso". Apenas indiretas e sarcasmo.
Vocês falam como se meus pais fossem milionários. Não é assim...
Sara: - Ah não? E quantas pessoas você conhece que moram em Manhattan, em um bairro de luxo?
Suspirei, sentindo um nó na garganta. Tentei mudar de assunto.
Make, você disse que sua tia mora lá perto, né?
Make: - Sim. Ela é gente como a gente, mas mora ali.
Mamãe olhou para mim e perguntou baixinho.
O que você acha de tudo isso, filha?
Hesitei antes de responder. Eu queria dizer que estava animada, mas a verdade era que eu sentia um vazio enorme dentro de mim. Nada parecia tão incrível quanto deveria ser.
Tá... tudo bem. Só estou tentando processar.
Papai interrompeu.
E seus amigos? O que disseram?
Engoli em seco antes de responder.
Disseram que é um ótimo bairro...
Eles pareciam felizes por você? - Mamãe perguntou, olhando nos meus olhos.
Fiquei em silêncio por alguns segundos.
Acho que sim.
Mentira.
Meus pais voltaram a discutir entre si, sobre contas, sobre a empresa, sobre qualquer coisa. Eu os ouvia de longe, mas já não me importava. Senti um peso enorme sobre os ombros. Meus amigos não me apoiavam, meus pais não se entendiam, e eu sentia que não pertencia a lugar nenhum.
Talvez essa mudança não fosse um novo começo. Talvez fosse só o começo do fim.