No dia seguinte, após uma noite de descanso na hospedagem, a manhã chegou com o céu nublado e um vento gelado cortante que me fez sentir os ossos. Pegamos nossas malas, fomos até a recepção e fizemos o checkout. O táxi estava pronto, e logo fomos para o nosso novo lar. Saímos de um hotel imenso e opulento, direto para uma casa simples, em uma cidade distante e fria do interior de Ohio, onde tudo parecia mais vazio e sem vida.
A chegada foi silenciosa. O ar gelado era denso, e a neve caía lentamente, cobrindo tudo com uma camada branca. As ruas eram largas, mas sem vida, com casas antigas e desgastadas, a maioria delas com jardins m*l cuidados e cercados baixos. O bairro era tranquilo, talvez até demais, e a casa que iríamos morar parecia um reflexo dessa monotonia.
A casa tinha uma fachada simples, com uma pintura descascando e o telhado com uma mancha de mofo. O jardim da frente estava coberto de neve, com uma árvore retorcida e sem folhas. Ao lado da nossa casa, havia outra, também com um aspecto envelhecido. No muro, uma garota apareceu, com os cabelos loiros presos em um coque bagunçado. Ela tinha um olhar curioso, mas não parecia ser do tipo amigável. O cachorro dela, um mastim enorme, estava ao seu lado, puxando a coleira. Ela olhou para mim e soltou um sorriso forçado.
Oi, me chamo Emily, você deve ser a nova vizinha, né? - ela perguntou, mas sua voz não parecia muito empolgada.
Sim, sou a Megan. Mudei hoje. - sorri sem saber bem o que dizer. A tensão no ar era palpável.
Ela apenas assentiu com a cabeça, sem se mover muito. O cachorro a olhou, como se estivesse mais interessado em mim do que ela.
Legal. - ela falou sem muito entusiasmo. - Esse aqui é o Rex, ele adora correr por aí. Você vai se acostumar com o frio, ele é bem... persistente.
O cachorro se aproximou e olhou para mim, mas logo voltou a sua atenção para o chão. Emily parecia mais desconfortável do que qualquer coisa. Fiquei em silêncio por um momento, não sabia bem como reagir.
Ah, o Rex é muito fofo! Nunca tive um cachorro assim grande. - comentei, mas minha voz parecia estranhamente fora de lugar.
Ah, é, não tem muito o que fazer com ele, sabe? Só cuida do jardim e corre um pouco. - Emily falou sem interesse. - Bem, se você não tiver nada melhor pra fazer, eu vou dar uma volta com ele.
Ela me olhou com uma expressão que não parecia nem um pouco amistosa, então me despedi e fui até os meus pais, que estavam tirando as malas do táxi. "Eu posso dar uma volta pela vizinhança também, se não for incomodar", pensei, mas ninguém parecia realmente se importar.
Fui até meu pai, que estava observando o mapa da cidade com uma cara cansada, e perguntei se poderia sair para explorar a área.
Vai logo, mas não demore. Tem que ajudar a arrumar as coisas aqui. - ele respondeu sem tirar os olhos do mapa, claramente mais interessado em outras coisas.
"Beleza", pensei, sem vontade de discutir. Eu só queria sair e ver o que aquela cidadezinha tinha a oferecer, mesmo que fosse só mais neve e silêncio.
Enquanto caminhava pela rua, tudo parecia... vazio. As casas eram todas muito parecidas, pequenas, com jardins sujos e carros antigos estacionados na calçada. Eu nunca imaginei que terminaria morando em um lugar assim. Não havia nada de especial ali, nada que chamasse minha atenção. Apenas o vento gelado cortando minha pele e as ruas desertas.
Passei por algumas casas, quando vi uma outra garota caminhando na direção oposta. Ela usava um casaco escuro e tinha o cabelo preso em um r**o de cavalo. Ela não me olhou, mas percebi que não parecia muito interessada em me cumprimentar.
Oi, eu sou a Megan. Mudei hoje para cá. - falei tentando ser simpática, mas ela apenas me olhou de cima a baixo e deu de ombros.
Ah, tá. - foi tudo o que ela disse, antes de seguir seu caminho.
Eu me senti um pouco deslocada, como se não tivesse a menor ideia de onde estava. As pessoas não pareciam querer saber nada sobre mim, e eu m*l podia culpar elas.
Foi então que, enquanto olhava para a rua, um carro parou na esquina, fazendo um barulho metálico nas pedras da calçada. Era um velho sedã que parecia ter visto melhores dias. De dentro, saiu um rapaz, que parecia mais perdido do que qualquer outra coisa. Ele usava um casaco grande e escuro, e seu olhar parecia vazio, como se estivesse indo para um lugar que não queria.
Ele me olhou por um momento, mas não disse nada. Apenas passou por mim, indo em direção à casa ao lado. Não havia um "oi", nem um sorriso. Nada.
Eu olhei para trás e comecei a andar de volta para a minha casa, sentindo-me ainda mais sozinha do que antes. Talvez, na verdade, eu tivesse apenas fugido para mais um lugar onde ninguém realmente se importava com ninguém.
Aquela mudança não parecia um novo começo. Parecia apenas o fim de uma história que eu não sabia se tinha começado realmente.