Capítulo 3

1129 Palavras
Dylan Observo, atordoado, Scarlett se afastar furiosa, os cabelos dourados balançando a cada passo decidido. Sua saudação fria me pegou completamente desprevenido, deixando-me às voltas com um turbilhão de emoções. Repasso mentalmente nosso breve reencontro, tentando entender sua hostilidade. Por que tanta raiva? Não fui eu quem desapareceu sem deixar rastros. Como a feri tanto a ponto de ela m*l conseguir me encarar? Durante muito tempo depois que ela partiu, alimentei raiva e ressentimento, sentimentos que enterrei sob o peso dos negócios da família. Mas agora, revendo-a, esses não são os sentimentos que me consomem. O que pulsa em meu peito, mais forte que tudo, é a saudade — uma dor pungente, cravejada pelo desejo de restaurar o que perdemos. A nostalgia me envolve enquanto a observo se afastar. Ela está deslumbrante, embora haja em seu semblante um cansaço, talvez uma cautela, que me faz questionar o que viveu nesses anos. Scarlett sempre foi intensa, franca, mas aquela frieza e sarcasmo... isso é novo. E, maldito seja, me machuca. Enquanto desaparece entre os rostos anônimos da cidade, o aperto no meu peito se intensifica. Oito anos se passaram, mas a conexão entre nós continua viva — um fio invisível, inquebrável. Quero desesperadamente respostas. Quero saber o que aconteceu. Quero consertar tudo. É evidente que ela não quer nada comigo. Ainda assim, as perguntas me assombram. Sou um homem que precisa de respostas. Caminho pela calçada, perdido em pensamentos, com seu nome queimando na minha língua: Scarlett... As palavras dela ecoam em minha mente, afiadas, ácidas, mas algo nelas acendeu minha determinação. Não consigo evitar. A imagem da vida que sonhei um dia — com ela — toma forma em minha mente com cores vivas e pulsantes. Posso vê-la na minha casa. Na minha cama. Na minha vida. Merda. Consigo até sentir o gosto. Mas tem um problema. Pouco depois que ela desapareceu, meu pai selou uma aliança com os Bonanno — uma união selada com o meu casamento com Ava Bonanno. Ela tinha apenas dez anos na época. Isso, por si só, já era perturbador. Agora, Ava tem dezoito. E embora meu pai esteja morto, mantive todas as alianças que ele fez. Estava pronto para cumprir essa também. Não amo Ava. Na verdade, m*l a conheço. Mas pretendia tratá-la bem. Compartilharíamos uma casa. Eventualmente, faríamos sexo para garantir um herdeiro. Nada disso se aproxima da vida que sonhei com Scarlett… mas a mulher que amei sumiu. Até hoje. Sinto um nó no estômago. Aquela aliança com os Bonanno foi um movimento calculado — um avanço estratégico que garantiu o poder da nossa família. Mas agora, com Scarlett de volta, essa união soa como uma maldita sentença. Como posso me casar com Ava, quando Scarlett está aqui? Se há alguma chance, mesmo que mínima, de verdadeira felicidade... ela é minha. Scarlett é minha. Xingo baixinho, lembrando do desprezo nos olhos dela — e ainda assim, por um breve segundo, tive a impressão de ver algo mais ali. Esperança, talvez? Estou ciente de que posso colocar tudo a perder. Mas não tenho escolha. Preciso descobrir o que realmente aconteceu tantos anos atrás. E não vou deixar esse casamento me impedir. Começo a seguir Scarlett de longe, mantendo uma distância segura enquanto ela percorre as ruas da cidade como se nunca tivesse partido. Após alguns quarteirões, ela sobe os degraus de uma casa ampla, de dois andares. Ela venceu na vida — e isso me arranca um sorriso, um misto de orgulho e frustração. Ela destranca a porta e entra. Hesito. Estou mesmo disposto a colocar tudo a perder? Tudo o que meu pai construiu, tudo o que sustenta a nossa família? Claro que estou. Pode ser egoísmo. Pode ser loucura. Mas só houve uma coisa verdadeira que desejei nessa vida, e essa coisa sempre foi Scarlett. Caminho em silêncio até uma janela lateral, observando-a mover algumas caixas. Me sinto um maldito voyeur. Um vizinho chamaria a polícia — Homem rico e influente é preso por invasão de propriedade enquanto espiona ex-namorada. Uma piada. A casa é calorosa, convidativa. Muito diferente da casa simples onde ela morava quando nos conhecemos. Sinto um misto de felicidade pela estabilidade que ela encontrou e dor pelo abismo que nos separa agora. Enquanto a observo montar o que parece ser um escritório, um plano começa a se formar. Preciso falar com ela. Entender. E então, derrubar o muro que ela ergueu entre nós. Preciso convencê-la de que ainda somos certos um para o outro. Com essa certeza queimando dentro de mim, deixo a propriedade e volto para o carro. Meus homens me encaram quando entro. — Não podemos te proteger se você fugir assim — comenta um deles. Afasto a preocupação com um gesto impaciente. — Estou bem. Me levem para casa. Chegando em casa, sou recebido por minha irmã, Harper, que me lança o mesmo olhar impaciente que Scarlett me deu há pouco. — Aí está você. Está atrasado. Os Bonanno estavam te esperando. Normalmente, sua irritação me tiraria do sério, mas agora... não sinto culpa alguma. — Matteo os entreteve na sua ausência — ela continua, os olhos cortando os meus. — É bom que não os faça esperar de novo. Resisto ao impulso de lembrá-la de quem comanda essa família. Não agora. Respiro fundo, endireito os ombros e afasto o nome de Scarlett da minha mente. Preciso parecer calmo. No controle. Ainda que por dentro esteja uma tempestade. Entro na sala e sou recebido pelos olhares atentos de Ava e sua família. Matteo está ali, como sempre firme, dando-me um breve aceno. Cumprimento-os com o sorriso ensaiado de quem nasceu para comandar. Dimitri Bonanno, patriarca formidável e parceiro de longa data da Outfit, estende a mão e eu a aperto com firmeza. — Me desculpem pelo atraso. Me volto para Ava. Ela é linda. Cabelos negros, olhos cinzentos. Jovem demais. Ingênua talvez. Mas há algo ali... um brilho, um lampejo de espírito. — Ava, é um prazer conhecê-la. — O prazer é meu, Sr. Torello. — Me chame de Dylan. A conversa avança com fluidez. Me esforço para parecer engajado, respeitoso, centrado. Ava se expressa com segurança e inteligência. Ela será uma boa esposa. Mas não será minha esposa. Porque, por mais que tente, não consigo tirar Scarlett da cabeça. Seu rosto, sua voz, o olhar magoado, quase esperançoso. Matteo me lança um olhar lateral, talvez percebendo o conflito em meus olhos. Ele não diz nada. Mas sabe. E eu também sei. Posso ser o herdeiro da família Torello. Posso estar prestes a selar uma aliança vital. Mas por dentro, tudo o que quero é desfazer esse noivado e correr atrás da mulher que partiu com meu coração anos atrás. E que agora, por um capricho do destino... está de volta.
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