Elijah Narrando
Meu nome é Elijah Montgomery. Tenho trinta e quatro anos e sou diretor financeiro das Montgomery Industries, o império que meu avô construiu do absoluto zero. Cresci ouvindo cada detalhe dessa história. Era como um mantra na nossa família: trabalho, poder, expansão. Minha avó repetia isso com orgulho enquanto segurava o braço do meu avô em fotos antigas espalhadas pela mansão. Eles construíram tudo juntos, tijolo por tijolo, decisão por decisão.
Quando meu avô morreu, minha avó assumiu a presidência como se tivesse nascido pra isso. Mãos de ferro. Voz firme. Olhar que fazia até acionista veterano tremer. Ela teve três filhos: meu pai, Elvis, e meus tios Edgar e Elliot. Todos homens, todos criados para comandar, mas nenhum com o pulso que ela tinha.
E entre todos os netos, eu era o favorito declarado.
— Você puxou ao seu avô, Elijah. — ela dizia, passando a mão no meu cabelo quando eu era moleque. — Você tem visão. Tem ambição. E um dia, quando eu me for, só você será capaz de manter esse império de pé.
Eu cresci acreditando nessa promessa. Era mais que um elogio. Era um destino.
Meus primos não trabalhavam na empresa e sinceramente? Ainda bem. São inúteis. Filhos de berço de ouro que só sabem esbanjar e causar vergonha em festas de luxo. Já meu pai e meus tios assumiram funções importantes nas áreas administrativas, mas nenhum deles tem o que é preciso para sentar na cadeira principal.
Eu tenho.
Sempre tive.
E fiz de tudo para provar isso. Virei diretor financeiro aos vinte e quatro anos. Cresci dentro da empresa, passei noites sem dormir, virei mestre em números, estratégias e expansões. A Montgomery Industries respira por minha causa e todos lá dentro sabem disso.
Mas não pense que minha vida pessoal é tão organizada quanto minha carreira. Longe disso.
Os relacionamentos da minha família sempre foram, um desastre anunciado. Meu avô e minha avó se amavam, mas viveram entre brigas épicas e silêncios cortantes. Nada romântico. Nada inspirador. Um casamento de negócios que funcionou porque ambos tinham mais ambição do que sentimentos.
Meus pais seguiram o mesmo roteiro, só que pior.
Meu pai trai minha mãe desde que eu era criança. E ela faz exatamente a mesma coisa, com a mesma frequência. Eles não se suportam, não se respeitam e não se separam porque nenhum dos dois quer dividir bens, imóveis, empresa, ações. É uma convivência tóxica disfarçada de casamento elegante.
Meu tio Edgar, bom, ele coleciona ex-esposas como quem coleciona taças de vinho. Três casamentos. Todos com festas enormes, fogos de artifício, bolo gigante e divórcios ainda maiores.
Meu tio Elliot nunca chegou ao altar. Vive namorando, engravidando, se apaixonando e, quando a mulher começa a falar de aliança, ele foge sem olhar pra trás.
Eu, por outro lado, aprendi cedo a evitar qualquer problema emocional.
Moro sozinho. Sempre foi melhor assim. Silêncio. Ordem. Controle. Nada de gritos, traições, drama, ciúmes, miséria emocional. Meu apartamento é o contrário de tudo o que vivi dentro daquela família. E a minha vida amorosa, se é que posso chamar assim, segue o mesmo princípio.
Não sou romântico. Nunca fui.
Não acredito em amor, em alma gêmea, em destino, nessas baboseiras que as pessoas inventam para justificar decisões idiotas. Pra mim, essa coisa de amor nada mais é do que uma estratégia biológica que te deixa vulnerável. Prefiro distância.
O máximo que aguento com uma mulher são algumas horas.
Uma noite e Nada mais.
Eu deixo isso claro desde o início. Sem mensagens no dia seguinte. Sem apelidos melosos. Sem expectativas. Entrou na minha vida pela porta da luxúria, sai pela mesma. E funciona perfeitamente. Ninguém sofre. Ninguém cria laços. Ninguém perde tempo.
Meu único verdadeiro relacionamento é com meu trabalho. Minha paixão é a Montgomery Industries. Meu coração bate por lucro, expansão, poder e estratégia. O resto? Distração passageira.
E sinceramente? Eu gosto assim.
Acordo cedo, treino, reviso relatórios, faço reuniões, tomo decisões que movimentam milhões. À noite, às vezes saio pra um evento social, bebo meu whisky, escolho companhia se estiver com disposição, e no dia seguinte, volto à minha rotina.
É simples. É funcional. É perfeito.
Ou, pelo menos, era.
Na manhã em que tudo mudou, eu estava na sala de reuniões do 32º andar, revisando o fechamento trimestral, quando meu pai entrou sem bater. Ele nunca bate. Adora fingir que tem alguma autoridade sobre mim.
— Elijah, precisamos ir.
Levantei os olhos da tela.
— Ir pra onde?
— Leitura do testamento da sua avó.
Travei por um segundo.
Minha avó faleceu há três semanas. A única pessoa dessa família que gostava de verdade. Ela foi a única pessoa da família que realmente acreditou em mim, não pelos laços sanguíneos, mas pela minha capacidade.
Fechei o laptop.
— Estou pronto.
Descemos juntos, mas sem falar nada. Meu pai sempre foi péssimo em conversas emocionais, não que eu seja melhor. Pegamos o carro oficial e seguimos até o prédio do advogado da família.
A sala estava lotada. Meus tios discutiam baixinho. Meus primos jogavam no celular como se tudo aquilo fosse um tédio mortal. E no centro, a cadeira onde minha avó sentava nos encontros mais importantes estava vazia. Estranhamente simbólico.
O advogado, Sinclair, ajustou os óculos.
Eu fiquei de pé, olhando aquela família que se achava tão poderosa, tão preparada, e sabia que, entre todos eles, eu era o único que realmente merecia o império que minha avó construiu.