Capítulo 9. Tudo piorando.

1192 Palavras
A ameaça do internato não causou o efeito que Jean e Amelia esperavam. Eles imaginavam que Eleonora ficaria assustada. Que tentaria melhorar. Que abriria mão do excesso de vaidade para mostrar maturidade. Mas o que aconteceu foi o contrário. A “princesa Montreuil” entrou em modo de guerra silenciosa, acreditando que jamais seria enviada a um internato. Na manhã seguinte à conversa com os pais, Eleonora chegou à escola ainda mais impecável do que o normal: cabelo perfeitamente ondulado maquiagem profissional uniforme ajustado como o de uma modelo perfume caro Era como se dissesse ao mundo: “Eles não vão me tirar quem eu sou.” Mas junto do brilho… vinha um ar perigosamente desafiador. No corredor, as amigas correram para elogiá-la. — Gata, você está deslumbrante hoje! — Amore, acho que nunca te vi tão perfeita! Eleonora apenas sorriu, com aquele olhar levemente superior. — Pois acostumem-se… isso aqui é o mínimo que vocês vão ver de mim. E as risadinhas admiradas só inflaram ainda mais sua rebeldia interna. Dormir nas aulas virou rotina Antes, ela dormia porque estava cansada. Agora, dormia por provocação. Quando o professor chamava atenção, ela respondia com naturalidade: — Desculpe, monsieur… acordei muito cedo para ficar bonita para a escola.Prioridades, sabe? Alguns colegas abafavam risos. Mas os professores, já irritados, enviaram mais advertências aos pais. O Celular, agora uma arma Eleonora começou a usar redes sociais durante as aulas, tirando fotos na última fileira: poses impecáveis selfies com o uniforme boomerangs com gloss brilhante E sempre com a legenda: “Estudar é importante, mas ser bonita é indispensável.” As postagens viralizavam entre os alunos. E cada curtida era como gasolina no fogo da rebeldia. Amelia tentava conversar. Tentava ser doce. Tentava entender. — Eleonora, por favor… — Mãe, você quer que eu vire uma monja? Jean era mais rígido. — Não admito desrespeito, Eleonora. — Então não tente controlar minha vida, papai. O tom crescente nas discussões virou rotina. Portas sendo fechadas com força. Silêncios gelados no jantar. Advertências chegando por e-mail diariamente. Era como se Eleonora tivesse decidido provar um ponto para o mundo: “Eu sou linda, impecável, e nada vai me mudar.” Ela começou a gastar ainda mais: maquiagens importadas tratamentos estéticos roupas de grife para eventos sociais idas ao salão de beleza toda semana E sempre postando tudo. E agora, sua rebeldia a tornava ainda mais interessante. — Ela é ousada demais… — Ela enfrenta até os professores! — Ela é icônica… Algumas meninas a idolatravam ainda mais. Outras a invejavam. Mais alguns professores não a suportavam. E Eleonora, no centro de tudo, sentia uma estranha satisfação em ver como todos reagiam a ela. Mas os pais sabiam a verdade Eles conheciam a filha melhor que ninguém. E sabiam que por trás da maquiagem perfeita e da rebeldia afiada… havia uma menina insegura, sobrecarregada por expectativas que ela mesma não entendia. E eles sabiam que a situação só piorava. A cada nova reclamação… A cada nova nota baixa… A cada nova provocação… A pasta do internato ficava mais próxima. A rebeldia de Eleonora estava crescendo como uma onda e ninguém conseguia conter. Mas tudo explodiu em uma tarde de sexta-feira. A escola organizava uma pequena cerimônia de apresentação de projetos acadêmicos. Algo simples… mas importante para a reputação do colégio. Eleonora, obviamente, não tinha preparado o trabalho. Não estudou. Não se interessou. Nem sequer tentou. Quando a professora chamou seu nome, Eleonora levantou com a calma de sempre, caminhou até a frente da sala linda, confiante, maquiada como uma estrela de cinema e simplesmente disse: — Eu não fiz. Achei o tema desinteressante. A sala inteira ficou em choque. A professora insistiu: — Eleonora, este trabalho valia 30% da nota. Isso vai prejudicar muito seu desempenho. Eleonora deu de ombros, mexendo no cabelo: — Eu prefiro perder 30% da nota do que perder minha graça estudando algo tão chato. E então tirou o celular do bolso… e começou a gravar um vídeo. Ali. Na frente de todos. — Bom dia, seguidores, disse ela sorrindo para a câmera. — Hoje eu falhei um trabalho inteiro, mas vejam só como estou impecável. O vídeo viralizou entre os alunos antes mesmo da aula terminar. E quando chegou aos administradores da escola… e aos pais dos outros alunos… e consequentemente a Amelia e Richard… Foi o suficiente. Naquela noite, os Montreuil estavam sentados no escritório novamente. Mas dessa vez, não havia hesitação. Os dois estavam abalados. Envergonhados. Cansados. Amelia falou primeiro, com os olhos marejados: — Eu não reconheço mais nossa filha. Jean assentiu, rígido: — Isso acabou. Ela vai para o internato. Amelia respirou fundo. — E se ela fugir? E se ela piorar? Jean abriu uma pasta. E foi então que Amelia viu o nome: BASIS Tucson, Arizona – Escola de Ensino Intensivo e Internato. Ela arregalou os olhos. — Jean… é onde Adrian estuda. — Exatamente. Silêncio. — Ele é responsável. Disciplinado. Inteligente. — E a conhece desde pequena— Completou Amelia Jean cruzou as mãos. — Exatamente, assim temos alguém de confiança pra ficar de olho nela. Amelia ficou alguns segundos em silêncio, depois apenas disse: — Então é isso, como achar melhor. Eleonora entrou no escritório sem bater. Linda. Altiva. Impaciente. — O que foi agora? Outro drama por causa de professores que não entendem meu estilo de vida? Jean se levantou lentamente. — Arrume suas malas. Ela arqueou uma sobrancelha. — Como é? — Você vai para um internato. — Disse Amelia com a voz firme. — E não é qualquer internato. É o BASIS Tucson, no Arizona. O mesmo onde Adrian está. Eleonora congelou. — Vocês… enlouqueceram. — Não— Respondeu Jean.— Você passou todos os limites possíveis. A partir deste momento, a decisão é final. O rosto de Eleonora mudou completamente. A arrogância deu lugar à fúria. — Vocês querem me mandar para o deserto? Para um lugar sem maquiagem, sem glamour, sem nada? E minha carreira ? — Quero mandar você para um lugar onde você terá o mínimo de responsabilidade— Respondeu a mãe. Eleonora apertou os punhos. — E ainda por cima… vão pedir para o Adrian me vigiar? Vocês acham que eu sou o quê? Uma criança?! Jean foi direto: — Se continuar agindo como uma, sim. Eleonora respirou fundo… os olhos brilhando de pura raiva. — Então é isso, querem me enviar para um lugar lotado de nerds sabe tudo, incluindo o prodígiozinho favorito de vocês. Eu nunca vou ser o que vocês querem, eu odeio tudo isso. E saiu batendo a porta com tanta força que o som ecoou pelo corredor. Na Cabeça de Eleonora, uma tempestade Ser enviada para um internato já era um choque. Mas ser enviada para o mesmo internato de Adrian Ashbourn… O prodígio. O exemplo. O favorito de todos. O garoto que seus pais sempre elogiavam. Que sempre fazia tudo certo. Que agora seria praticamente… seu guardião. Para Eleonora, não havia insulto maior. E no fundo do seu coração ferido, uma tempestade se formava. Uma promessa silenciosa: “Eu não vou facilitar. Se eles acham que podem me controlar… vão se arrepender.”
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