A ameaça do internato não causou o efeito que Jean e Amelia esperavam.
Eles imaginavam que Eleonora ficaria assustada.
Que tentaria melhorar.
Que abriria mão do excesso de vaidade para mostrar maturidade.
Mas o que aconteceu foi o contrário.
A “princesa Montreuil” entrou em modo de guerra silenciosa, acreditando que jamais seria enviada a um internato.
Na manhã seguinte à conversa com os pais, Eleonora chegou à escola ainda mais impecável do que o normal:
cabelo perfeitamente ondulado
maquiagem profissional
uniforme ajustado como o de uma modelo
perfume caro
Era como se dissesse ao mundo:
“Eles não vão me tirar quem eu sou.”
Mas junto do brilho… vinha um ar perigosamente desafiador.
No corredor, as amigas correram para elogiá-la.
— Gata, você está deslumbrante hoje!
— Amore, acho que nunca te vi tão perfeita!
Eleonora apenas sorriu, com aquele olhar levemente superior.
— Pois acostumem-se… isso aqui é o mínimo que vocês vão ver de mim.
E as risadinhas admiradas só inflaram ainda mais sua rebeldia interna.
Dormir nas aulas virou rotina
Antes, ela dormia porque estava cansada.
Agora, dormia por provocação.
Quando o professor chamava atenção, ela respondia com naturalidade:
— Desculpe, monsieur… acordei muito cedo para ficar bonita para a escola.Prioridades, sabe?
Alguns colegas abafavam risos.
Mas os professores, já irritados, enviaram mais advertências aos pais.
O Celular, agora uma arma
Eleonora começou a usar redes sociais durante as aulas, tirando fotos na última fileira:
poses impecáveis
selfies com o uniforme
boomerangs com gloss brilhante
E sempre com a legenda:
“Estudar é importante, mas ser bonita é indispensável.”
As postagens viralizavam entre os alunos.
E cada curtida era como gasolina no fogo da rebeldia.
Amelia tentava conversar.
Tentava ser doce.
Tentava entender.
— Eleonora, por favor…
— Mãe, você quer que eu vire uma monja?
Jean era mais rígido.
— Não admito desrespeito, Eleonora.
— Então não tente controlar minha vida, papai.
O tom crescente nas discussões virou rotina.
Portas sendo fechadas com força.
Silêncios gelados no jantar.
Advertências chegando por e-mail diariamente.
Era como se Eleonora tivesse decidido provar um ponto para o mundo:
“Eu sou linda, impecável, e nada vai me mudar.”
Ela começou a gastar ainda mais:
maquiagens importadas
tratamentos estéticos
roupas de grife para eventos sociais
idas ao salão de beleza toda semana
E sempre postando tudo.
E agora, sua rebeldia a tornava ainda mais interessante.
— Ela é ousada demais…
— Ela enfrenta até os professores!
— Ela é icônica…
Algumas meninas a idolatravam ainda mais.
Outras a invejavam.
Mais alguns professores não a suportavam.
E Eleonora, no centro de tudo, sentia uma estranha satisfação em ver como todos reagiam a ela.
Mas os pais sabiam a verdade
Eles conheciam a filha melhor que ninguém.
E sabiam que por trás da maquiagem perfeita e da rebeldia afiada…
havia uma menina insegura, sobrecarregada por expectativas que ela mesma não entendia.
E eles sabiam que a situação só piorava.
A cada nova reclamação…
A cada nova nota baixa…
A cada nova provocação…
A pasta do internato ficava mais próxima.
A rebeldia de Eleonora estava crescendo como uma onda e ninguém conseguia conter.
Mas tudo explodiu em uma tarde de sexta-feira.
A escola organizava uma pequena cerimônia de apresentação de projetos acadêmicos. Algo simples… mas importante para a reputação do colégio.
Eleonora, obviamente, não tinha preparado o trabalho.
Não estudou.
Não se interessou.
Nem sequer tentou.
Quando a professora chamou seu nome, Eleonora levantou com a calma de sempre, caminhou até a frente da sala linda, confiante, maquiada como uma estrela de cinema e simplesmente disse:
— Eu não fiz. Achei o tema desinteressante.
A sala inteira ficou em choque.
A professora insistiu:
— Eleonora, este trabalho valia 30% da nota. Isso vai prejudicar muito seu desempenho.
Eleonora deu de ombros, mexendo no cabelo:
— Eu prefiro perder 30% da nota do que perder minha graça estudando algo tão chato.
E então tirou o celular do bolso…
e começou a gravar um vídeo.
Ali.
Na frente de todos.
— Bom dia, seguidores, disse ela sorrindo para a câmera.
— Hoje eu falhei um trabalho inteiro, mas vejam só como estou impecável.
O vídeo viralizou entre os alunos antes mesmo da aula terminar.
E quando chegou aos administradores da escola…
e aos pais dos outros alunos…
e consequentemente a Amelia e Richard…
Foi o suficiente.
Naquela noite, os Montreuil estavam sentados no escritório novamente.
Mas dessa vez, não havia hesitação.
Os dois estavam abalados.
Envergonhados.
Cansados.
Amelia falou primeiro, com os olhos marejados:
— Eu não reconheço mais nossa filha.
Jean assentiu, rígido:
— Isso acabou. Ela vai para o internato.
Amelia respirou fundo.
— E se ela fugir? E se ela piorar?
Jean abriu uma pasta.
E foi então que Amelia viu o nome:
BASIS Tucson, Arizona – Escola de Ensino Intensivo e Internato.
Ela arregalou os olhos.
— Jean… é onde Adrian estuda.
— Exatamente.
Silêncio.
— Ele é responsável. Disciplinado. Inteligente.
— E a conhece desde pequena— Completou Amelia
Jean cruzou as mãos.
— Exatamente, assim temos alguém de confiança pra ficar de olho nela.
Amelia ficou alguns segundos em silêncio, depois apenas disse:
— Então é isso, como achar melhor.
Eleonora entrou no escritório sem bater.
Linda.
Altiva.
Impaciente.
— O que foi agora? Outro drama por causa de professores que não entendem meu estilo de vida?
Jean se levantou lentamente.
— Arrume suas malas.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Como é?
— Você vai para um internato. — Disse Amelia com a voz firme.
— E não é qualquer internato. É o BASIS Tucson, no Arizona. O mesmo onde Adrian está.
Eleonora congelou.
— Vocês… enlouqueceram.
— Não— Respondeu Jean.— Você passou todos os limites possíveis. A partir deste momento, a decisão é final.
O rosto de Eleonora mudou completamente.
A arrogância deu lugar à fúria.
— Vocês querem me mandar para o deserto? Para um lugar sem maquiagem, sem glamour, sem nada? E minha carreira ?
— Quero mandar você para um lugar onde você terá o mínimo de responsabilidade— Respondeu a mãe.
Eleonora apertou os punhos.
— E ainda por cima… vão pedir para o Adrian me vigiar? Vocês acham que eu sou o quê? Uma criança?!
Jean foi direto:
— Se continuar agindo como uma, sim.
Eleonora respirou fundo…
os olhos brilhando de pura raiva.
— Então é isso, querem me enviar para um lugar lotado de nerds sabe tudo, incluindo o prodígiozinho favorito de vocês. Eu nunca vou ser o que vocês querem, eu odeio tudo isso.
E saiu batendo a porta com tanta força que o som ecoou pelo corredor.
Na Cabeça de Eleonora, uma tempestade
Ser enviada para um internato já era um choque.
Mas ser enviada para o mesmo internato de Adrian Ashbourn…
O prodígio.
O exemplo.
O favorito de todos.
O garoto que seus pais sempre elogiavam.
Que sempre fazia tudo certo.
Que agora seria praticamente…
seu guardião.
Para Eleonora, não havia insulto maior.
E no fundo do seu coração ferido, uma tempestade se formava.
Uma promessa silenciosa:
“Eu não vou facilitar. Se eles acham que podem me controlar… vão se arrepender.”