Capítulo 8. A fama de Eleonora

1104 Palavras
Se Adrian era o prodígio brilhante e popular de um internato americano, Eleonora Montreuil era o próprio ícone de elegância dentro da escola francesa onde estudava. Aos 16 anos, ela já havia conquistado um título que ninguém ousava discutir: A mais linda. A mais estilosa. A mais comentada. A mais desejada. E ela sabia disso. Talvez até demais Eleonora acordava às 5h30 nunca mais tarde. Seu quarto, decorado com móveis clássicos franceses e toques modernos, era o cenário de seu ritual diário. Ela levantava devagar, alongava o pescoço e caminhava até a penteadeira iluminada, onde dezenas de produtos estavam organizados em perfeita harmonia. Enquanto outras meninas se preocupavam com provas e trabalhos, Eleonora tinha prioridades muito claras: maquiagem impecável uniforme perfeitamente ajustado cabelo sempre brilhante perfume discreto, mas inesquecível Quando terminava, sua mãe, Amelia, sempre dizia: — Ma chérie… você parece saída de uma revista. Eleonora sorria, satisfeita. E era exatamente isso que ela queria. A Escola de Eleonora sua passarela. Assim que chegava à escola, já sabia o que esperar: — Eleonora, você está deslumbrante hoje! — Que bolsa é essa? Nova? — Você viu o que postaram sobre você no i********:? — Ensina a gente a fazer o coque que você usa! Eram meninas demais admirando, seguindo, copiando. Eram garotos demais olhando por tempo demais. Eleonora caminhava com confiança quase ensaiada como se os corredores fossem uma passarela exclusiva para ela. E com o tempo… isso subiu à cabeça. Não de forma agressiva. Mas em pequenas atitudes. Um olhar de superioridade. Uma resposta curta quando alguém elogiava demais. Um "não tenho tempo" dito com ar de importância. Nada que a fizesse parecer má apenas… inalcançável. Apesar de inteligente, Eleonora não era brilhante como Adrian. Mas era esforçada, ao seu modo. Em matérias de artes, história da moda e literatura, ela brilhava naturalmente. Já em matemática e física… Bom, era comum a professora chamá-la discretamente: — Mademoiselle Montreuil… acordada, s’il vous plaît. As amigas riam. — Você é tão bonita até dormindo, amiga. Ela apenas respondia: — Querida, algumas de nós nascem assim. Em pouco tempo, virou quase uma lenda entre os alunos: a mais bem vestida a mais fotografada a mais seguida nas redes a mais desejada a menos acessível Tinha muitos amigos, mas poucos íntimos. E embora fosse educada, existia uma camada de arrogância fina quase imperceptível que a tornava ainda mais enigmática. E no fundo? Eleonora adorava cada segundo. O brilho. A atenção. A admiração. Afinal, crescer cercada de riqueza, luxo e expectativas a ensinou desde cedo que ela não era comum. Mas às vezes… falta algo Em noites silenciosas, quando estava sozinha, ainda havia momentos raros em que Eleonora se perguntava: Por que sinto que falta alguma coisa? Talvez fosse porque, ao contrário de Adrian, ela não tinha encontrado sua verdadeira paixão ainda. Talvez fosse porque sua vida, embora perfeita por fora, nunca tinha sido desafiada. Talvez fosse porque… algumas pessoas deixam marcas que aparecem anos depois, mesmo que ela não perceba. Como aquele garoto curioso, inteligente e de sorriso tímido que ela conheceu anos atrás. Mas Eleonora não pensava muito nisso. Afinal, ela tinha um império de popularidade para manter. O brilho de Eleonora continuava impecável, mas suas notas… não. No início, foram pequenas quedas um 7 virando 6, um trabalho entregue às pressas, uma prova perdida por estar dormindo. Nada que chamasse demasiada atenção. Mas, aos poucos, a curva só apontava para baixo. Eleonora continuava chegando à escola como um desfile de moda ambulante, mantendo seu ar de superioridade delicada, os cabelos perfeitos e a pose de quem nunca erra. Mas atrás dos boletins caríssimos, a verdade aparecia: Eleonora estava indo muito m*l. E não parecia se importar. Certo dia, Amelia recebeu três ligações: Eleonora tem dormido constantemente em sala de aula. Eleonora perdeu o prazo novamente. Eleonora está se distraindo demais. E sua média está perigosa. Amelia desligou o telefone sentindo um aperto no peito. Jean, ao ver a expressão da esposa, não precisou de explicações. — Outra ligação? — Três, respondeu ela, sentando-se devagar.— E todas sobre o mesmo assunto… Nossa filha está deixando de lado os estudos. Jean suspirou profundamente. Os dois sabiam que Eleonora era inteligente, mas também sabiam que ela estava viciada em manter sua imagem impecável e que isso estava consumindo o tempo que deveria ser dedicado à escola. Naquela noite, no elegante escritório dos Montreuil, Amelia colocou os boletins sobre a mesa. Jean leu cada nota com o semblante cada vez mais sério. — Isso… não é aceitável. — Não é nem metade do que ela pode oferecer— Amelia completou. O silêncio se prolongou, até que Jean disse: — Ela precisa focar. Longe de distrações. Longe de… tudo isso, tudo que deslumbra ela. Amelia ergueu o olhar. — Você está pensando no mesmo que eu? Jean tirou uma pasta da gaveta uma que estava guardada ali há meses, como um "se necessário". — O internato. O que foca em desempenho, disciplina e rotina rígida.Sem maquiagem cara. Sem compras. Sem glamour. Sem redes sociais. Amelia ficou em silêncio por um momento, imaginando como Eleonora reagiria. A filha criada em luxo absoluto, tendo que dividir quarto, acordar às cinco da manhã para atividades obrigatórias, e sem permissão para sair gastar dinheiro com estética. — Jean… ela vai nos odiar. — Ela precisa disso, Amelia, temos um império no qual ela vai herdar. Eleonora entrou no escritório no dia seguinte, com o mesmo ar de sempre: confiante, linda, postura impecável. — Vocês queriam falar comigo? Sorriso perfeito. Cabelo arrumado. Perfume importado. Amelia respirou fundo. — Eleonora, suas notas caíram de forma preocupante. Eleonora ergueu as sobrancelhas, entediada. — Ai, mamãe… é só uma fase. Jean cruzou os braços. — Uma fase que dura meses. E que está afetando sua educação. — Exagero, papai. Ela mexeu no celular, distraída. Amelia então disse suavemente, mas firme: — Estamos considerando enviá-la para um internato. O celular caiu das mãos dela. — O quê?! — Um internato com aulas intensivas, disciplina rígida e foco completo no futuro, explicou Jean.— Lá, você não terá distrações. —E nem dinheiro para maquiagem e roupas.— Completou Amelia. Eleonora empalideceu. — Vocês… não podem estar falando sério. — Estamos— disse Jean.— E se suas notas não melhorarem nos próximos meses… você irá. Eleonora ficou em silêncio. Mas não era arrependimento. Não era medo. Era pura indignação. Como ousavam ameaçar sua liberdade, seu estilo, seu brilho? Ela levantou queixo, altiva: — Eu não preciso de internato nenhum. — Então prove.— Respondeu Jean. E, pela primeira vez, algo ameaçou rachar a bolha perfeita onde Eleonora vivia
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