Juliano
A reunião foi mais rápida do que eu esperava. No começo a diretora ainda tentou contornar a situação, mas a Talita foi mais incisiva e a desarmou. Escolhi a mulher certa para estar ao meu lado, isso é fato.
Chegamos em casa e somos recepcionados pelos pequenos. Catarina está chatinha como nunca esteve antes, esses picos de crescimento são terríveis. Ela é encrenqueira que nem a mãe dela. Bruno estava mais quieto que o habitual, já começo a me questionar se aconteceu mais alguma coisa na escola.
Tomo um banho enquanto a Talita prepara o jantar, depois ela toma o banho dela e nos sentamos para comer.
- Mamãe fez o franguinho que você ama, filho. – Vejo que ela tenta puxar assunto com o Bruninho, que está quietinho demais.
- Está gostoso, mamãe. – Ele responde desanimado, mas ao olhar para a mãe dele abre um sorriso.
É notório o amor que ele tem pela Talita, desde pequenininho. Sempre foi um grude com essa mulher. Ele, definitivamente, a escolheu como sua mãe.
Após o jantar, colocamos Catarina na cama. Ela deu um certo trabalho para dormir, está meio irritadinha hoje. Quando ela adormeceu, chamamos o Bruno para conversar.
- Filhão, vem aqui com o papai. Eu e a mamãe queremos conversar com você. – Ele se senta com a gente no tapete da sala.
Olho para a Talita e ela concorda com a cabeça, como quem me incentiva a falar.
- Filho, antes de começar a conversar, quero te falar que você é o melhor filho que poderíamos ter. Se pudéssemos escolher, escolheríamos você todas as vezes. Você é o nosso maior orgulho. Eu sempre serei seu pai e ela sempre será a sua mamãe. Você é o nosso filho, porém não nasceu da barriga da mamãe. – Eu falo e ele fica boquiaberta.
- Mas de onde eu nasci então papai?
- Você nasceu de outra barriga. A pessoa que tinha você na barriga, tinha um namorado. Eles fizeram você. Essa pessoa era amiga do papai e da mamãe. Nós te amamos tanto, que queríamos você como nosso filho. A pessoa que levou você na barriga, não está mais aqui. Ela virou estrelinha, igual a tia Rute. – Tento explicar de uma forma mais leve, mesmo deixando pontas soltas, no futuro ele entenderá.
- Mas e o namorado da mulher que me levou na barriga? – Sinto um frio na barriga quando ele pergunta do pai, fico sem reação.
- Ele foi embora filho, ficou muito triste que a mulher virou estrelinha. Aí ele ficou chateado e foi embora, porque ele sabia que o papai e a mamãe estavam aqui pra cuidar de você, como vai ser para sempre. – Talita diz segurando as lágrimas.
- Então por isso eu sou diferente, mamãe? – Ele pergunta intrigado.
- Por isso você é mais bonito, filho. Por isso sua pele é mais bonita, por isso seus olhos são tão lindos. Você é o nosso filho, a única diferença é que você não saiu da barriga da mamãe.
- Ah ta, mamãe. Então vocês não me acharam no sol? – Ele fala e nós dois damos um sorriso com a sua inocência.
- Claro que não, meu filho. Nós vimos você nascer da outra barriga. Pegamos você no colo pequenininho, te demos o primeiro mama. Sempre estivemos lá com você. – Ela explica pegando na mãozinha dele.
Ele entende bem e parece até que isso o conforta. Me sinto aliviado, apesar de triste. Se eu pudesse jamais permitiria que meu filho passasse por isso, mas sei que é necessário para a evolução dele como ser humano e ele é um menino forte. Desde o ventre daquela que deveria ser sua mãe, ele lutou muito.
Chego no quarto e abraço a Talita, ela chora copiosamente. Parece que tudo o que segurou na frente do Bruno, ela desabou no meio peito. Tento acalmá-la de alguma forma, mas acabamos dormindo, em meio ao pranto.
No dia seguinte resolvo acordar mais cedo e pedir um café da manhã da padaria que eles amam, para agradar a minha família. Quando estou arrumando a mesa, ela aparece de cabelos molhados, com os olhinhos ainda inchados.
- Bom dia lindão. – Ela me diz e me dá um beijo, a puxo para um abraço.
- Bom dia, meu amor. Está se sentindo melhor?
- Sim, o tempo vai melhorar tudo. – Ela responde quando sai do meu abraço e vejo os dois pequenos vindo para a cozinha, ainda de pijama.
- Papai, mamãe... – Bruninho vem correndo na nossa direção e nos abraça, sempre que ele nos vê, tem a mesma reação. Catarina vem também.
- Bom dia meu príncipe e minha princesa. – Tali diz abraçando e beijando muito os pequenos.
- Cheirosa mamãe, cabelo cheiroso. – Catarina diz e eu percebo algo que nunca tinha acontecido antes.
Bruno puxa o braço da Catarina para afastar da Talita e a abraça. Não tenho reação nesse momento e, por sorte, Catarina não dá tanta atenção e eu pego no colo.
- Como dormiu filha? – Pergunto olhando nos seus olhinhos.
- Bem papai, fome. – Não seguro a risada e eles se deslumbram quando veem a mesa posta.
- Quanta coisa deliciosa, mamãe. – Bruno diz pegando um mini croissant.
- Papai preparou essa surpresa para nós, filho. Vamos comer. – Ela o coloca sentado e eu coloco Catarina.
Tomamos um delicioso café da manhã e nos divertimos muito. Digo que eu vou leva-los para a escola e seus olhos brilham.
Os deixo na escolinha e vou embora os vendo fazendo tchau com a mãozinha. Sinto que tudo está entrando nos eixos e eu espero que permaneça assim. Ver a minha mulher chorando daquela maneira, cortou meu coração. Vou para o escritório mais cedo porque tenho pendências acumuladas.
Quando o relógio aponta 11h25, meu telefone toca e a secretária anuncia que tem um homem querendo falar comigo. Acho muito estranho, porque não agendei com ninguém, mas decido deixar entrar. Quando ele cruza a porta, m*l posso acreditar no que eu estou vendo. É o pai biológico do Bruno. Fico sem palavras, nunca tinha o visto pessoalmente, mas é inegável a semelhança física entre os dois. Parece que o meu mundo para naquele momento...