Núbia
Naquela manhã, acordei assustada com berros na sala. Meu coração disparou quando percebi que as vozes não eram familiares. Com medo do que poderia estar acontecendo, me levantei rapidamente e corri até a sala.
Eu saí correndo do meu quarto e segui os berros até a sala. Quando abri a porta, fui recebida por um pesadelo vivo. Homens armados com fuzis estavam espalhados pela sala, apontando as armas para mim e minha família. Meu irmão estava no chão, coberto de sangue, e minha mãe chorava em desespero. Meu pai estava sentado em uma cadeira, imóvel e sem reação. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Os homens pareciam esperar por mim. Um deles me puxou pelos cabelos e me forçou a ficar de joelhos na frente deles.
Eu não conseguia tirar os olhos dos homens armados na minha sala. Meu irmão estava caído no chão, minha mãe chorava e meu pai parecia paralisado pelo medo. Eu precisava ser forte, por eles e por mim mesma.
— Ótimo, família reunida. — o traficante disse com deboche. Ele parecia estar no comando, mas meu medo não me permitia ver seu rosto. Eu sabia que aquelas pessoas eram perigosas. Não foi à toa que eu queria que eles ficassem longe daqui. Nossas terras não eram as primeiras que eles tentavam usurpar para seus negócios sujos.
— Carioca, deixe a minha família, sou eu quem você quer. — o meu irmão diz, tentando manter o equilíbrio em pé.
Eu precisava pensar em uma solução, mas antes que eu pudesse falar algo, o meu irmão interrompeu.
— Vamos, eu vou com vocês, mas deixem a minha família em paz. — ele disse para Carioca. Eu mantinha a minha cabeça baixa, aqueles olhares maliocoso fizeram eu ver que ainda estava com o meu pijama, embora fosse um vestido florido, o seu tecido era um pouco fino, o calor de Minas exigia.
— Calma, calma, calma. Não é você quem dita as regras. — o tal, Carioca respondeu com um sorriso malicioso.
Eu não podia permitir que o meu irmão se envolvesse com essas pessoas. Eu sabia que ele tinha culpa no cartório, mas isso não justificava o fato de ele se colocar em perigo.
— Não, ele não vai com vocês. Nós não vamos deixar que vocês entrem na nossa casa e ditem regras. Essas terras são do meu pai, ele suou para conquistá-las. Não vamos permitir que vocês as usem para seus negócios ilegais. — eu disse, tentando manter a voz firme. Os meus olhos enfrentando o dele, eram frios e vazios, eu não gostaria de descobrir o que teria ali dentro.
Carioca deu uma risada irônica.
— Vocês acham que podem me impedir? Tem algo mais precioso que eu quero aqui. — ele disse, olhando diretamente para mim.
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Eu sabia o que ele queria, e não era algo que eu estava disposta a dar.
— Não vou deixar que você leve nada daqui. Agora, saiam da minha casa antes que eu chame a polícia. - eu disse, determinada. — Vocês têm que sair daqui agora. Se não saírem, vou chamar a polícia. — disse novamente, sabendo que provavelmente não seria a melhor ideia, mas eu não conseguia deixar minha família em perigo.
Carioca olhou para mim com um sorriso debochado.
— Oh, não se preocupe, garotinha. Nós não vamos fazer m*l a você ou à sua família. Afinal, você é uma garota valente, não é — Ele se aproximou de mim, encostando o seu corpo no meu, e eu senti o cheiro forte de cigarro e álcool na sua respiração.
Eu me afastei, enojada.
— Não me chame de garotinha. E eu não quero saber se você não vai fazer m*l a nós, vocês não têm o direito de estar aqui.
Carioca riu.
— Ah, essa garota tem atitude. Eu gosto disso. — Ele se afastou de mim e se virou para Marcio. — Você vê isso? Sua irmãzinha é uma fofura.
Eu podia sentir a raiva borbulhando em mim, mas tentei manter a calma.
— Você ainda não entendeu. Vocês precisam sair daqui agora.
Marcio aproximou de mim.
— Calma, Núbia. Eu vou resolver isso.— Ele se virou para Carioca. — Vamos embora. Mas antes, quero que vocês me deixem claro que não vão mais mexer com a minha família.
Aquele tiro disparado por Carioca me fez gritar e meus pais se assustaram. Minha mãe correu para me abraçar e meu pai pulou da cadeira. Eu olhei para aquele homem com medo, mas também com raiva. Ele estava claramente perdendo o controle da situação.
Foi então que ele anunciou que teríamos uma semana para sair dali e que receberíamos papéis para assinar no dia seguinte. Ele disse que teria gente vigiando para garantir que cumpriríamos o prazo. Mas o que mais me chamou a atenção foi quando ele disse que apenas três pessoas iriam embora, o que significava que meu irmão não iria com a gente.
Eu imediatamente protestei:
— Meu irmão não vai com vocês. — disse com raiva, mesmo sabendo que tínhamos várias armas apontadas para nós.
Carioca respondeu com um sorriso cínico:
— Não vai mesmo, boneca. — Foi a primeira vez que o olhei com mais atenção. Ele era alto e um pouco musculoso, com um sorriso que parecia mais uma careta. Seu olhar era frio e debochado, e eu podia sentir a maldade emanando dele.
Eu sabia que não podíamos enfrentá-los sozinhos, mas também não podia simplesmente deixar que eles nos expulsassem de nossas terras. Minha família tinha lutado muito para conseguir aquela propriedade e não podíamos deixá-la nas mãos daquela gente.