Capítulo II

1086 Palavras
          Quando parei na frente do endereço que havia recebido, tive que verificar duas vezes para ter certeza de que não estava no lugar errado. O Spa ficava em um prédio magnifico no coração de Manhattan, onde só a nata elitizada frequentava e quando eu digo a nata, estou falando da nata refinada. Desconfiada de que algo não estava certo, tentei retornar a ligação para Renan, o agente que havia me mandado o endereço, para a minha falta de sorte, o telefone dele estava fora de área. Aguardei por algum momento e quando vi que não conseguiria completar a ligação, criei coragem e entrei no lugar. Não custava nada perguntar se tinha alguém aguardando por mim na recepção.     - No que posso ajudar? - a atendente perguntou fazendo uma rápida varredura com seus olhos por meu corpo, certamente tentando entender o motivo que havia me levado ali, antes mesmo que eu abrisse a boca.  - Lisandra a sra. Luthor acabou de chegar, cuide dela - uma outra atendente loira e muito elegante, também vestida no elegante uniforme do Spa interrompeu a moça me observando sem muita afetividade.  - No que posso ajudar? - ela perguntou visivelmente apressada, observado a entrada e saída dos clientes no salão principal.  - Eu gostaria de saber se tem uma reserva no nome de Lyra Adrien? - Perguntei com a voz mais baixa do que o habitual, soando tão estranha que nem parecia minha.  - Tem alguma autorização do cliente para obter esta informação? - Autorização? - fiquei confusa.  - Sim, precisa de uma autorização do cliente para obter este tipo de informação - ela respondeu voltando-se para outro cliente, me deixando completamente no vácuo.        Mordi os lábios revoltada e esperei por outro atendente, até que um rapaz alto e de sorriso cordial se aproximou e perguntou se eu já havia sido atendida. Peguei meu documento e pedi a ele que verificasse se havia alguma reserva no meu nome. Estava desesperada para esclarecer logo aquilo e sair daquele lugar insuportável. Sem discutir ele pegou o documento e digitou meu nome no computador.  - Ah sim, já estávamos lhe aguardando. Só um momento - ele pediu e caminhou até a atendente arrogante que havia acabado de me atender. Ele cochichou próximo ao ouvido dela. Ela me fitou novamente, com o cenho franzido, visivelmente surpresa.  - Sra. Adrien - ela abriu um sorriso gentil e muito sereno. Se não houvesse presenciado a arrogância de minutos antes, diria que era a mulher mais educada e atenciosa do mundo. Fiquei boquiaberta com a falsidade da diaba.  - Por favor queira me acompanhar, farei questão de lhe fazer companhia. A senhora já conhece o nosso Spa? - perguntou me conduzindo para os elevadores.  - Não - respondi sem demonstrar entusiasmo. Eu odiava gente falsa, que sofria de esquizofrenia induzida pelo dinheiro.       Paramos no vigésimo primeiro andar. Confesso que quando as portas do elevador se abriram eu me encolhi um pouco mais na minha insignificância. As paredes da sala eram todas de vidro, permitindo uma visão exuberante e inesquecível da cidade. Uma piscina retangular estendia-se no meio do gigantesco salão como um grande tapete azul.        Lisa, a loira que me acompanhava pelo tour no salão, não parava de falar, comentando os detalhes e os privilégios que eu teria com eles. Ela conversava comigo como se fossemos melhores amigas, alguém que estaria a minha completa disposição a hora que eu precisasse. Atenciosa ela me entregou aos cuidados de outras duas moças que me receberam com igual sorriso e gentileza.         Eu achava que havia sido revirada no consultório do médico, céus, eu estava redondamente enganada. Quando Júlio me avisou que eu passaria o dia inteiro em um Spa, eu achei um grande exagero, não conseguia imaginar o que uma pessoa poderia fazer tanto tempo trancado em um lugar, mas após três dias de Spa, descobri que a vida das modelos era bem mais exigente e rigorosa do que eu podia imaginar.         Por mais absurdo que possa parecer, tive que seguir para o Spa três dias consecutivos. No primeiro dia fui depilada por completo. Eles só não arrancaram os cabelos da minha cabeça, o restante foi impiedosamente removido, depois eles me mandaram para a limpeza de corpo e rosto. No segundo dia eles gastaram um dia nos meus cabelos e unhas e no terceiro dia, massagens, bronzeamento artificial e sauna. Eu almoçava e lanchava lá mesmo. Havia até um cardápio individualizado, feito especialmente para mim. Obviamente não possuída nada do que eu realmente gostava, só tinha saladas, frutas e carnes brancas e frutos do mar, mas era o que eu devia comer, então não reclamava.          Conheci o Renan pessoalmente, ele era um senhor de seus cinquenta anos, tinha os cabelos grisalhos, sempre bem penteados e estava sempre de terno. Era um homem educado e sempre aparecia no final ou inicio do expediente, certamente para saber se tudo estava saindo de acordo com as exigências de seu cliente. Ansiosa como era, acabei perguntando a ele sobre como seria o pagamento. Não era fácil ficar bronzeando a b***a, enquanto minha irmã ofegava dentro de um hospital e minha mãe vendia tudo o que tínhamos a preço de banana. Contudo minha ansiedade teve que aguardar, pois ele falou que aquele assunto seria tratado com Emma Apliton, a secretária do meu cliente, que por sinal eu ainda não sabia se quer o nome.            Depois dos três dias enterrada no Spa, foi difícil explicar para minha mãe como eu havia conseguido a cor maravilhosa de pêssego da minha pele, ou as unhas impecavelmente quadradas e os cabelos escovados e brilhantes. Era evidente que eu estava torrando uma fortuna com minha aparência, mesmo usando as roupas de sempre.  - São exigências da empresa mãe - falei desconcertada - uma amiga do Júlio tem um pequeno salão na casa dela. Ela trabalha bem e não me cobrou praticamente nada, disse que era uma forma de me ajudar no meu novo emprego - Menti de forma deslavada.   - Nossos vizinhos são humildes, mas estão fazendo o que podem para nos ajudar - minha mãe falou consternada - você acredita que até o mexicano está fazendo coleta para ajudar a pagar as desprezas do hospital? - Eu fiquei sabendo - sorri a abraçando - A Claudia também colocou um cofrinho na loja de conveniência.  - Não estamos sozinhos filha. Tudo isso tem um grande propósito - ela me abraçou e beijou a minha cabeça. Concordei retribuindo o abraço, eu concordaria com qualquer coisa que trouxesse algum conforto para minha mãe. 
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