Números: Zero - Aliados

Capítulo 4 - Verdade

pov. Eris

A madrugada teria sido muito fria se Victor não estivesse aqui, embora não tivesse nada inflamável por perto ele aqueceu o próprio corpo com o intuito de fornecer calor para mim e para o Luiz. Estavamos sentados escondidos por trás das motos, eu estava entre os dois com os pensamentos embaralhados e perdidos.

Ooh, ooh, ooh, ooh

Been wishin' for you

Ooh, ooh

Tryna do what lovers do (ooh)

Quando escutei Luiz cantarolando comecei a rir, Victor me encarou como se eu fosse uma louca e por isso tentei disfarçar colocando a mão na boca e puxando as pernas em direção ao b***o. Luiz sabia que eu estava rindo dele e continuou de propósito enquanto ria de mim.

Tell me, tell me if you love me or not

Love me or not, love me or not

I bet the house on you

Am I lucky or not, lucky or not, lucky or not?

You gotta tell me if you love me or not

Love me or not, love me or not

Been wishin' for you

Am I lucky or not, lucky or not, lucky or not?

Isso era uma indireta? Oh isso era uma pedrada. Eu não estava certa se amava um dos dois ou se amava os dois, eu sabia que os sentimentos eram embaralhados e fortes o suficiente para me fazer ficar sem ar. Gargalhei porque eu realmente gostava de ouvir a voz de Luiz e pelas caretas que ele fazia como se realmente estivesse cantando.

- O que foi, Eris? - Victor tocou em minha bochecha com seu dedo quente e senti meu corpo inteiro esquentar, o sorriso diminuiu dando lugar a uma timidez por sua proximidade. - Porque está rindo?

- O que tem de errado? - Luiz questionou murchando sua expressão sorridente, eu estava bem no meio de uma guerra de testosterona. - Não gosta de ve-la sorrindo?

- Não disse isso Luiz, apenas fiquei curioso. E o que eu converso com ela não te interessa. - fechei os olhos com força para espantar as rajadas de ódio que fluia deles para mim, a dor se alojou em minha nuca e eu suspirei profundo , essa seria uma longa madrugada.

- E o motivo pelo qual ela estava rindo também não te interessa, deixa ela em paz que saco. - não me incomodei com a pergunta do Victor, se fosse ao contrário eu faria a mesma coisa. A questão aqui era que o Luiz apaziguador que conheciamos estava ficando irritado pela proximidade do Victor e eu já podia ver os dois embolando no chão aos socos e chutes.

- Vocês podem parar! - gritei, ambos se afastaram e eu sabia que estava brilhando. Eu não estava com raiva, apenas chateada, a dor do ódio deles ainda estava ali martelando minha nuca. - Estamos sozinhos no meio do nada esperando um vento de areia passar, podem por favor tentar se dar bem? Se não podem fazer isso por si mesmo façam por mim! Que droga! O sentimento de vocês machuca sabia?

Me levantei deixando os dois lá sentados com cara de i****a, precisava me afastar deles porque se tentassem se matar ao menos eu estaria longe o suficiente para não ser atingida. Encontrei uma pedra media e subi me sentando sobre ela, meus pés ficavam a quade um metro do chão. As estrelas não brilhavam tanto quanto em Rebelion ou Oncep, aqui as coisas pareciam ser mais obscuras e sem vida.

Demorou cerca de uma hora pela minha percepção limitada do tempo para ouvir os passos em minha direção, os dois agora estavam em minha frente como duas crianças que tinham acabado de aprontar alguma coisa. Dobrei as pernas sobre a pedra e fiquei encarando eles até que começaram a falar.

- Desculpe. Eris, nós esquecemos que pode sentir o que sentimos e eu espero que nos perdoe por isso. - Victor continuou. - O grande motivo pelo ódio que sentimos um do outro não é por sua causa, embora pareça. Mas o fato de não saber o que você sente me deixa louco, estou atirando no escuro... estamos atirando.

- Querem a verdade? - eles se entre olharam, Luiz sabia em parte o que eu sentia mas não pareceu se abalar. - Eu gosto dos dois. Felizes? Eu não sei explicar mas gosto dos dois, não que sejam incompletos mas é assim que eu me sinto e por mais que isso seja errado não consigo mudar. A mistura de sentimentos em minha cabeça lateja e quando estou com vocês fico sem ar. Sei que não era isso que queriam ouvir e eu posso estar errada com meus próprio sentimentos, então se não querem mais "atirar no escuro" fiquem totalmente a vontade para se afastar, não vou julga-los porque as vezes nem eu me entendo ou me suporto. Mas essa é a verdade.

E mais uma vez eu fui embora, eu fugi das minhas próprias palavras e das suas consequências, fugi deles novamente em apenas um dia e talvez continue fazendo isso. Eu não posso ter os dois e nem sabia se era isso que eu queria, eu só tenho dezoito anos e tudo em mim diz que não preciso me preocupar com isso embora eu tenha sido ensinada que teria que amar um homem que meus pais escolheriam para mim.

Estava em pé observando o vento ficando cada vez mais limpo, as lágrimas alfinetando meus olhos para sair em enxurradas desesperadoras. Senti dois braços diferentes sobre mim, um mais quente sobre meus ombros e outro em torno da minha cintura, dois corpos ao meu lado e olhares distantes, não sabia o que isso significava mas era um ponto de esperança na guerra entre eles.

A areia passou e o vento diminuiu a velocidade, iriamos partir a qualquer momento, respirei fundo soltando o ar devagar e dolorosamente. Victor acaricou o local onde o pingente ficava e meus olhos encontraram os seus verdes, um sorriso estava ali aberto e alegre para mim.

Vamos fazer o seguinte, quando chegarmos em Arcaria conversaremos sobre isso. Tudo bem para você?

Não está com raiva?

Eu nunca ficarei com raiva de você, Eris. Te amo demais para isso. Se não quer ou não consegue escolher é direito seu, e nada errado se te faz feliz.

O abracei fugindo do braço do Luiz que envolvia minha cintura, não podia exigir nada deles só queria um tempo para saber o que eu realmente quero. A guerra iria acabar comigo antes mesmo de começar e eu temia por isso, temia por eles. Depois que ele disse te amo senti como se meu coração fosse saltar a qualquer momento, e talvez o Luiz estivesse certo e por um dos dois eu não sentia algo sufocante. Mas no momento eu prefiro deixar como esta e conseguir descobrir mais sobre mim mesma.