Capitulo 4

858 Palavras
Eram nove horas da manhã quando o celular de Odysseus tocou. Ele despertou de sobressalto, soltando um murmúrio de irritação, e atendeu a chamada com a voz ainda rouca de sono. — Fale, Alexa. — disse ele, esfregando o rosto. Do outro lado da linha, Alexa, sua secretária e assistente pessoal, soava tensa: — Sr. Megallos, desculpe incomodar, mas descobrimos uma tentativa de fraude em um dos seus hotéis. Houve um grande desvio de dinheiro e… Bem, há indícios de que seu irmão mais velho possa estar envolvido. Odysseus praguejou em grego, as palavras saindo como um rosnado abafado. Charlotte, ainda sonolenta, virou-se na cama para observá-lo. Ele se levantou de imediato, jogando o celular na poltrona ao lado. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou ela, levantando-se sobre um dos cotovelos. — Negócios. — Odysseus respondeu secamente, começando a recolher as peças de roupa espalhadas pelo quarto. — Preciso resolver isso agora. Ele vestiu a camisa apressadamente, os movimentos tensos denunciando o estado de irritação. Charlotte sentiu um desconforto percorrê-la; após a noite anterior — a primeira vez dela com um homem —, esperava acordar com uma leveza diferente, talvez mais carinhos, mais tempo juntos. Mas não ousou reclamar. — Pode voltar a dormir, — disse Odysseus, abotoando a calça. — Vou mandar servirem seu café da manhã aqui mesmo. Prometo que cuido de tudo para você e a Laura irem no passeio de barco com Nicolai. Ela o olhou, tentando não demonstrar decepção: — E você… não vai? Que pena! Odysseus respirou fundo. — Vou tentar encontrá-las mais tarde, mas não garanto. Tem muita coisa para resolver. — Ele forçou um sorriso rápido, passou a mão pelos cabelos e, aproximando-se, depositou um beijo curto nos lábios dela. — Volto à noite. Aproveite o dia, minha pequena corsa Antes que ela pudesse responder, ele já pegara o celular e saiu pela porta, falando ao telefone novamente. Charlotte suspirou, deitando-se e encarando o teto por alguns instantes. “Talvez seja normal ele agir assim, afinal, é um homem de negócios…”, pensou, tentando se convencer de que as coisas estavam bem. Mas, poucos minutos depois, a porta do quarto se abriu abruptamente. Um funcionário do hotel entrou, parecendo impaciente: — Com licença, senhorita, mas o senhor Megallos pediu que desocupasse a suíte em trinta minutos. Precisamos fazer uma manutenção urgente aqui. Charlotte ergueu-se na cama, confusa: — O quê? Mas ele não me disse nada disso… O homem a olhou com uma expressão impassível, como se apenas cumprisse ordens. — Sinto muito, mas essa é a instrução que recebi. Humilhada e decepcionada, ela percebeu que nem Odysseus nem Nicolai estavam à vista para explicar a situação. E lá estava ela, dolorida pela noite anterior — seu primeiro encontro íntimo —, vestindo-se apressada e recolhendo as poucas coisas que trouxera consigo. Guardou na bolsa a lembrança daquela noite intensa, mas agora com um amargo na boca. Assim que saiu da cobertura, retornou ao próprio quarto. Esperava, no fundo, que Odysseus a procurasse pessoalmente mais tarde, nem que fosse para se desculpar. Talvez lhe ligasse ou mandasse um recado carinhoso. Porém, o tempo passou, e ele não apareceu. Nicolai também não deu qualquer sinal de vida. Laura veio procurá-la mais tarde, cheia de entusiasmo pelo passeio de iate. Mas ao olhar para o rosto cabisbaixo da amiga, a animação diminuiu. — Ei, você está bem? Cadê o Odysseus? Vai me dizer que nosso passeio de barco melou? Charlotte se esforçou para sorrir. — Ele teve que resolver problemas na empresa e… Não sei se vai voltar a tempo do passeio. Alias nem sei se vamos ter passeio. — Bom, se eles aparecerem bem, se não aparecerem azar o deles, vamos nos divertir Uhul!! Charlotte respondeu — Urrul — Sem animação alguma. Ela tentou manter o clima, acompanhou Laura até o barco e até se divertiu por algumas horas — mas não havia como negar: sentia-se jogada de lado. A cada vez que o telefone dela tocava, esperava que fosse Odysseus, mas nada acontecia. Quando o dia chegou ao fim, Charlotte retornou ao quarto do hotel, olhando para o céu noturno de Las Vegas pelas janelas iluminadas. Por um instante, desejou ver Odysseus sair de um elevador, aproximar-se dela com aquele sorriso sedutor e dizer que tudo não passara de um m*l-entendido. Mas a noite passou e, na manhã seguinte, ele continuava ausente. Sem respostas, cansada e profundamente magoada, Charlotte tomou a decisão de partir. Pegou as malas e foi embora do hotel. Fosse por orgulho ou por autoproteção, ela não queria ficar ali esperando por alguém que, aparentemente, esquecera sua existência depois de tê-la nos braços. Ao sair, sentiu uma pontada no peito. Recordou-se do breve momento em que ele a chamara de “minha rosa de cabelos castanhos” — e de como se sentira única nos braços dele. Agora, aquela lembrança só reforçava o gosto de abandono. Assim, seguiu pelos corredores vazios, deixando para trás o que podia ter sido um conto de fadas… mas que, na prática, se transformara em apenas mais uma desilusão na cidade onde tudo parecia brilhar — exceto o seu coração.
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