Capitulo 5

1054 Palavras
Odysseus estava em frangalhos após o escândalo no hotel de Londres. Durante 48 horas ininterruptas, ele e uma equipe de gerentes de confiança trabalharam freneticamente para tapar o rombo de dois milhões de dólares — desviado por ninguém menos que Nikos, o próprio irmão. No fim, o que salvou a reputação dos negócios foi o aporte dos pais de Odysseus, que cobriram o desfalque antes que a história chegasse aos demais sócios ou vazasse para a imprensa. O cansaço pesava sobre seus ombros quando finalmente voltou a Las Vegas. Já passava das onze da noite quando ele chegou ao hotel de luxo que administrava. Exausto, segurava uma garrafa de champanhe e um buquê de flores raras: presentes que pretendia oferecer a Charlotte, como forma de pedido de desculpas por tê-la deixado sozinha naquela manhã, sem qualquer explicação ou aviso. Assim que saiu do elevador no andar da cobertura, encontrou Nicolai, o sócio e amigo de longa data, que o seguira durante a crise em Londres. — Você vai falar com ela agora? — Nicolai perguntou, observando o rosto tenso de Odysseus. — Sim, — suspirou ele, levantando o buquê como se fosse um estandarte. — Preciso me redimir, ela não e o tipo de mulher que semanda embora no dia seguinte com 500 dolares e um taxi. Eu pedi para Alexa dizer aos funcionarios do hotel para ela ficar e me esperar Nicolai esboçou um sorriso compreensivo. — Sorte a sua ela ter ficado. Você vai ter uma noite melhor que amiga sem paciencia para caçar ou de paga essa noite.. Mas, ao destrancar a porta da suíte presidencial, Odysseus deparou-se com um quarto escuro e silencioso. Nenhum sinal de Charlotte. Ele deixou a champanhe na mesinha de centro e olhou ao redor, tentando ver se havia algum bilhete ou alguma peça de roupa que indicasse que ela voltaria. — Charlotte? — chamou, meio incerto, caminhando até o banheiro. A resposta foi apenas o zumbido do ar-condicionado. Nicolai entrou atrás dele, percebendo o vazio. — Talvez ela tenha ido ao próprio quarto. — Vamos checar, — decidiu Odysseus, engolindo em seco ao sair apressado pelo corredor. Eles pegaram o elevador até o andar onde Charlotte e Laura haviam se hospedado. Durante o trajeto, Odysseus apertava o buquê de flores com tanta força que as pétalas começavam a amassar. No saguão daquele andar, encontraram um funcionário do hotel que carregava uma prancheta. — Boa noite, — disse Odysseus, tentando manter a calma. — A senhorita Charlotte, que estava no quarto... — ele parou, tentando recordar o número exato — … no quarto 1827. Sabe se ela está lá? O rapaz checou rapidamente os registros. — Senhor Megallos, sinto muito, mas a senhorita Charlotte fez o check-out hoje de manhã, por volta das dez. — O quê? — Odysseus sentiu o coração apertar. — Ela saiu sem avisar? — Pelo jeito, sim, — Disse Nicolai. — Liga para ela. Ao ouvir isso, Nicolai piscou algumas vezes, surpreso. — Elas simplesmente foram embora? Me de o telefone e o endereço das duas? E ligue para Charlotte O funcionário folheou alguns papéis, pegou o telefone digitou esperou um pouco depois disse. — Na ficha de cadastro, só tinha um telefone residencial antigo e um endereço em Illinois. Mas parece que o número não funciona. Tentamos confirmar detalhes, mas não havia mais nada registrado. Odysseus levou a mão à testa, sentindo-se um completo i****a. Nem ele nem Nicolai haviam solicitado os contatos de Charlotte e Laura na noite anterior. Na pressa dos acontecimentos em Londres, ele não ligara, não mandara mensagem… nada. Agora, tudo indicava que Charlotte havia partido, cansada de esperar por ele. — Ok, obrigado, — disse ele, quase num sussurro, antes de dispensar o funcionário. Quando ficaram a sós, Nicolai fitou-o com preocupação. — Você tá bem, Ody? Odysseus não respondeu de imediato. Caminhou até o fim do corredor, parando diante da porta do quarto vazio. Encostou a testa na madeira, sentindo a dor de um arrependimento que não conhecera antes. — Eu… tirei a virgindade daquela mulher, a deixei sozinha. E simplesmente sumi. Nicolai tentou amenizar: — Você estava ocupado com a fraude. Estava impedindo que a família afundasse junto com Nikos. — Eu sei, — murmurou Odysseus. — Mas ela não tem culpa de nada. Ele se virou, encarando o amigo. — Eu precisei de 48 horas pra resolver a besteira do meu irmão. E nem parei pra mandar uma mensagem pra Charlotte. Nenhuma ligação. alias não ia adiantar eu não tinha seu numero Nicolai deu de ombros, com um ar de compreensão. — Você não é um homem comum, Odysseus. Seus problemas são gigantes e acontecem em escala global. A Charlotte, pelo que percebi, não está acostumada com esse ritmo frenético. Odysseus meneou a cabeça em concordância, lembrando do jeito frágil e inocente de Charlotte na noite em que se conheceram. As dores nas articulações que ela não mencionava muito, as poucas referências sobre si mesma… e o fato de ter sido a primeira vez dela — algo que ele notara no meio da noite, surpreendendo-se com aquela mistura de timidez e paixão sincera. — Ela partiu… — disse Odysseus em voz baixa, num tom amargo. — Seja por orgulho, magoada, ou… por outros motivos. Eu não sei. Houve um instante de silêncio entre eles, quebrado pelo som de um carrinho de serviço que passava ao fundo. — Podemos tentar rastrear o endereço que ela deixou, — sugeriu Nicolai. — Talvez falar com o pessoal da recepção de novo, ver se alguém a viu, verificar câmeras… Odysseus apertou o buquê de flores contra o peito. Parecia subitamente perdido — uma sensação que raramente experimentava, pois sempre tivera controle de tudo. Porém, dessa vez, não tinha o contato dela, não sabia onde ela poderia estar, e nem sequer tinha garantias de que Charlotte o quisesse por perto. — Vamos fazer isso, — ele decidiu, a voz determinada. — Vou mover o mundo pra encontrá-la. Nicolai assentiu: — Conta comigo. Então, com um suspiro pesado, Odysseus colocou as flores numa pequena lixeira de canto, pois já não faziam sentido naquele corredor vazio. A champanhe que sobrara na cobertura também ficaria sem propósito. Pela primeira vez na vida, o grande magnata grego sentia que um simples “desculpe-me” não bastaria para reparar o estrago feito.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR