Orion cortou o pescoço de suas vítimas enquanto avançava e deixou os caras mais durões para Jak, que estava coberto de respingos de sangue, porque ele esfaqueou habilmente as facas que carregava nas mãos, rasgando os corpos dos homens que ousaram cruzar seu caminho.
Kael, por sua vez, com precisão de mira, nocauteou aqueles que estavam na mira de sua arma, com um único tiro preciso, enquanto gritava ordens para seus homens a torto e a direito.
Eu os segui de perto, tentando não me notar muito para que nenhuma bala se dirigisse na minha direção. Com a sorte que eu carregava, a bala acabaria me atingindo no centro da testa e, embora Flávio tivesse que cuidar da minha b***a, eu não confiava nele para fazer isso completamente.
Eu não sabia o que esperar quando entrei.
Corpos inertes no chão, paredes salpicadas de sangue e restos de material cerebral decorando o chão.
Jak desmembrou um corpo como se fosse alguma coisa, seu corpo coberto de sangue, suas mãos pingando cheias do espesso líquido carmesim.
— Marque tudo — Kael ordenou.
Os homens sob o comando dos lobos pintaram seu selo por toda a parede, com tinta spray vermelha, bem como vestígios de sangue obtidos dos corpos que Jak foi responsável por deixar irreconhecíveis. Seu símbolo especial, um Ás em todo o seu esplendor. A carta de pôquer característica dos irmãos.
Cada empresa DRAVENS tinha um lobo n***o como selo, representando seu sobrenome. O mesmo lobo que os irmãos mantinham tatuado no pescoço, porém, quando eram suas próprias mãos que estavam manchadas de sangue, quando eram eles que lideravam a caçada, acrescentavam seu símbolo especial.
O Ás.
Não só a foca-lobo era perigosa, como o Ás era ainda mais perigoso. Isso significava que alguém ou alguma coisa realmente se esforçou para perturbar os Dravens, o suficiente para que eles mesmos lidassem com o problema. O suficiente para sujar as mãos.
Kael era o diamante, Orion representava o trevo e Jak o lúcio. Os três símbolos sob o Ás sangrando simbolizam os três irmãos. Eles assumiram a responsabilidade pelo m******e que estavam deixando em seu rastro. Orion até moveu os cadáveres para empilhá-los logo abaixo do selo, tornando a cena ainda mais grotesca.
Na porta quebrada do armazém podia-se ver o lobo n***o dos Dravens, marcado com tinta spray preta. Este armazém agora pertencia a eles.
Eu esperava que a cena gerasse algum tipo de remorso em meu corpo enquanto caminhava pelo armazém até conhecer Kace, que eu havia visto desaparecer com um homem algemado seguindo seu caminho, que gritou de pena. Embora nenhum desses sentimentos tenha chegado até mim.
Eu não estava com receio.
Ele deve ter tido um grande conflito mental recentemente.
Ou talvez, na verdade, meu cérebro ainda não estivesse totalmente curado. Reconheci este lugar, já tinha estado aqui antes, quando era pequena, com o meu pai e a minha mãe. Higor nos trouxe aqui, amarrou mamãe a uma das colunas como punição, oferecendo-a como se ela fosse um pedaço de carne, para deixar todos os seus homens fazerem com ela o que quisessem.
Ver o armazém coberto de sangue, com os homens do meu pai inertes no chão, trouxe-me imensa alegria.
Continuei caminhando até encontrar Kace em uma das pequenas salas nos fundos, que papai usava como escritório. Havia um homem amarrado a uma cadeira com uma corda muito apertada, o que parecia muito doloroso. Ele estava implorando por sua vida, Kael estava girando chaves em suas mãos, seu olhar fixo em um cofre na parte de trás do espaço.
Meu pai está seguro.
— Chegue mais perto, Lyara.
Ele estendeu a mão cheia de sangue em minha direção, olhando para mim. Esperando que ele me assuste por causa do líquido carmesim que escorre de suas mãos.
Incrivelmente, Kael não era assustador para mim agora, porque os Dravens haviam desmantelado uma base inteira onde eu tinha a lembrança de um dos meus piores pesadelos, e isso me deixou bastante em êxtase.
Então encurtei a distância entre nós, pegando sua mão sem hesitar, que observei enquanto ele hesitava, que rapidamente se recompôs.
— Você sabe quem ele é? — Ele perguntou, sem soltar minha mão, posicionando-se em minhas costas.
— Ele é o chefe deste armazém.
— Certo, princesa, e precisamos que ele nos dê a chave do cofre.
— Não é necessário, eu poderia te dar a chave.
Kael soltou minha mão e se virou, de modo que seus olhos atingiram os meus diretamente, suas mãos manchadas deixando meus braços cobertos onde ele estava me segurando.
— Você tem a chave? — Ele perguntou, eu assenti.
O meu pai era um i****a se pensasse que nunca mais voltaria aqui, para reivindicar o que merecia, vingança.
— 481-L.V.M.
Kael sorriu enquanto digitava o número e a fechadura finalmente cedeu.
Eu memorizei esse código quando era criança, porque meu pai guardava todo o dinheiro que minha mãe ganhava lá, mesmo que ela tentasse convencê-lo a lhe dar um pouco para me alimentar, o que ele sempre recusava.
Kael abriu a caixa enquanto assobiava e contou todos os maços de notas na caixa sem se importar muito se os manchasse de sangue, enquanto ouvia os passos se aproximando. Havia também alguns documentos de propriedade e comerciais, que eles logo desmantelariam.
Orion entrou na sala coberto de sangue.
— Tudo pronto, você quer que eu me livre dele também? — ele perguntou, apontando para o homem amarrado à cadeira. O homem tremeu sob as amarras, chorando mais alto.
— Não é necessário, a Lyra nos deu a chave, liberte-a.
Mas não, ele não poderia ser livre, porque eu reconheci esse homem. Ele havia memorizado o rosto dela.
Ele foi um dos que tocaram minha mãe quando meu pai a segurou na espinha. Eu era mais jovem naquela época, mas nunca esqueceria seu rosto.
E ele sabia quem eu era, sabia que eu tinha reconhecido seu rosto quando voltei meu olhar para ele novamente, porque ele tremia mais na cadeira e chorava mais.
— Poderíamos levá-lo conosco? — Eu pedi.
Ambos franziram a testa, confusos, olhando para mim, enquanto o homem choramingava mais alto.
— Por que levaríamos isso conosco? Ele não fez nada — Orion refutou — Seria apenas um fardo.
Hesitei momentaneamente, não queria revelar meus segredos a eles, embora parte de mim quisesse acreditar que, depois da minha conversa esta manhã com Kael, eu poderia confiar neles.
— Se você espera que confiemos em você, a confiança deve ser mútua, princesa — Lyra apontou.
— Ele estuprou minha mãe, bem neste armazém.
Cuspi direto, seco, embora tenha usado um tom baixo. A reação em seus corpos me confirmou que, apesar do meu tom, eles me ouviram perfeitamente. Vi como os dois meninos ficaram petrificados com o que eu disse e notei como Kael cerrou o maxilar furiosamente para olhar novamente para o homem, que choramingou.
— Uau, uau, isso é verdade, seu merdinha?
O nome chorou ainda mais, ele parecia à beira de um ataque cardíaco. Kael não o deixou responder, ele deu um soco forte no queixo que o fez cair no chão com tudo e uma cadeira.
— Vou levar para Jak, aparentemente ele terá algo com que se divertir por alguns dias — Orion exclamou sorrindo, depois arrastou o cara com tudo e a cadeira como se nada importasse.
Kael se aproximou de mim lentamente.
Então, ainda com a mão ensanguentada, ele afastou uma mecha de cabelo loiro que havia caído de seu r**o de cavalo e a colocou atrás da minha orelha.
Nunca tirei o olhar da cadeira, o azul se fundindo com o cinza, embora eu tivesse que levantar o rosto para olhar para o dele, salpicado de sangue por causa da altura dele.
Foi incrível como, com o rosto salpicado de sangue, ele ainda parecia igualmente atraente.
Como ele era, todos os três eram lindos, seus rostos esculpidos e suas mandíbulas marcadas, maçãs do rosto proeminentes, altas, fortes e com aquela aura escura ao seu redor.
Mas o que diz, Lyra?
Não me afastei, continuei olhando para ele, mesmo quando sua mão desceu pela minha bochecha em uma carícia delicada, até chegar ao meu lábio inferior, que ele acariciou com o polegar manchado de sangue.
Ele abaixou a mão, mas não se afastou, observou com os olhos como meus lábios estavam manchados com o sangue de suas mãos, e decidi umedecer meus lábios com a língua sob seu olhar atento, sentindo o gosto metálico invadir minha boca, sem um pingo de desgosto.
Ele sorriu.
— Lyra, você é além de linda e perigosa.