Aquela noite parecia não querer terminar. E, a cada segundo que passava, mais eu me dava conta de que, talvez, estivesse começando algo que não tinha como terminar. Eu estava ali, com Manuela, a poucos centímetros de distância, e o mundo todo ao nosso redor parecia ter se dissolvido na suavidade do momento.
Ela ainda estava encostada em mim, a cabeça sobre meu ombro, os cabelos soltos, levemente ondulados, com aquele cheiro de flores frescas que eu ainda sentia na ponta do nariz. O toque de seu corpo contra o meu era reconfortante, como se finalmente as peças de um quebra-cabeça se encaixassem. Aquela noite, com toda a sua suavidade e complexidade, nos unia de uma forma que não conseguíamos evitar.
Foi Manuela quem quebrou o silêncio, ainda com a voz suave, mas com uma sinceridade palpável.
— Eu… — ela começou, e uma leve pausa se fez, como se estivesse organizando as palavras. — Eu preciso te dizer algo.
Levantei o olhar, mais atento, e meus olhos encontraram os dela. Havia um brilho suave neles, algo misterioso, como se o que ela fosse dizer fosse, de alguma maneira, decisivo.
— Eu sei que pode parecer precipitado… mas, desde aquele primeiro momento, quando te vi no leilão, eu… eu senti uma coisa diferente. — Ela respirou fundo. — Algo que eu não senti por mais ninguém. E, depois daquele beijo, eu só tenho mais certeza disso.
Havia uma vulnerabilidade no olhar dela que tocou meu peito de forma quase arrebatadora. Eu senti que ela estava se entregando, expondo uma parte de si que, talvez, nunca tivesse mostrado a ninguém antes. Era como se ela tivesse tirado uma camada fina de proteção, se permitindo finalmente a algo que parecia tão natural, mas que, ao mesmo tempo, era um grande risco.
Eu a observei em silêncio por alguns segundos, processando as palavras dela. E, então, com a mesma sinceridade, disse:
— Manuela, você é diferente. De tudo que eu já conheci. Você me desperta algo que… — olhei para ela, meu tom mais suave, quase como um sussurro — algo bom, algo que eu não sabia que precisava. Você me traz uma calma que eu não senti em muito tempo.
Ela sorriu, uma expressão de pura ternura. Algo quase infantil, mas ainda assim profundamente adulta, como quem percebe pela primeira vez que encontrou um porto seguro.
Eu me incline para ela lentamente, como se o ato de me aproximar fosse uma continuidade natural de tudo o que já estávamos compartilhando, e a beijei novamente. Um beijo mais longo desta vez. Um beijo que parecia ser mais do que um simples gesto. Cada movimento de nossos lábios falava sobre o que estávamos construindo ali, sem pressa, sem necessidade de explicações, apenas sentindo o que o outro nos oferecia.
Manuela deslizou a mão até meu pescoço, sentindo o ritmo do meu coração enquanto o beijo se aprofundava. Suavemente, como quem descobre algo precioso e quer guardá-lo para sempre, ela passou os dedos pela linha do meu cabelo, pressionando levemente, como se quisesse sentir mais daquilo — mais de mim.
O toque de sua pele contra a minha era um alicerce invisível, mas muito firme. Eu não queria apressar. Não queria que aquilo fosse apressado. Tudo o que eu desejava naquele momento era sentir cada segundo como se fosse único.
Nos afastamos, mas apenas o suficiente para que pudéssemos respirar, e nossos olhos se encontraram mais uma vez, profundos, sem pressa. Manuela estava com as bochechas rosadas, o olhar brilhante, e seu peito subia e descia com uma leveza perceptível.
Ela sorriu, dessa vez mais para si mesma, mas ainda olhando para mim.
— Eu não consigo evitar, Leonardo. Eu estou… Eu estou me apaixonando por você.
As palavras dela me atravessaram como uma flecha suave, mas intensa. Eu sabia o que ela queria dizer. Sabia, também, que isso significava algo maior do que qualquer expectativa. Mas não precisei responder. Não com palavras, ao menos.
Em vez disso, tomei sua mão e a conduzi gentilmente até a escada que levava aos quartos. Não havia pressa. Cada passo dado era um novo acordo silencioso entre nós. Era uma escolha que tomávamos juntos, sem palavras, mas com a certeza de que queríamos continuar.
Subimos as escadas sem pressa, os pés fazendo o som suave do piso de madeira sob nossos passos, como se o ambiente inteiro fosse parte de um cenário que estava sendo construído aos poucos.
Ao chegarmos ao topo, Manuela olhou para mim com um sorriso quase tímido.
— Você me acompanharia até o quarto? — perguntou, a voz baixa, quase como se fosse um pedido secreto.
— Claro — respondi, com a voz suave. — Aonde você for, eu vou.
Ela sorriu com mais intensidade. Às vezes, um simples sorriso tem mais força do que mil palavras. O olhar que ela me lançou estava cheio de cumplicidade, de uma confiança mútua que já estava florescendo entre nós.
Quando entramos no quarto, o ambiente era acolhedor. A iluminação suave, a cama grande com as cobertas de linho, e um clima íntimo que parecia predestinado. Manuela se virou para mim, seus olhos fixos nos meus, e houve um instante em que o mundo inteiro parecia se perder ao redor de nós dois.
Sem palavras, ela começou a desamarrar o vestido, e cada movimento parecia um convite. Não para algo apressado, mas para algo profundo. Algo que envolvia mais do que os corpos, mais do que o toque. Era uma entrega.
Eu, por minha vez, fui mais devagar. Passei a mão delicadamente pelo braço dela, tocando-a com uma suavidade que me surpreendeu, e a respiração dela começou a se misturar à minha, como uma sinfonia quase perfeita.
Em cada movimento, em cada troca de olhares, em cada toque, havia uma história sendo escrita — uma história que só nós dois poderíamos contar. E, enquanto as roupas eram deixadas para trás com uma calma silenciosa, os corpos se aproximaram mais, o calor compartilhado, os suspiros suaves se misturando ao ambiente.
Quando ela finalmente encostou-se a mim, a sensação de total entrega foi algo avassalador, mas tranquilo. Eu a tomei em meus braços com uma devoção que vinha do mais profundo de mim. Não havia pressa. Não havia necessidade de urgência. Era apenas o momento, a sensação, o contato. O corpo de Manuela contra o meu. O calor dela. O beijo dela. O toque dela.
O que aconteceu a seguir, naquela noite silenciosa e serena, foi o que sempre acontece quando dois seres humanos se permitem sentir um ao outro de forma pura e verdadeira: o tempo desacelerou, a respiração ficou mais profunda, e o mundo — lá fora, à distância — não importava mais.
Apenas nós dois. Naquele quarto. Naquela noite.
Era a primeira de muitas.