Capítulo 2

848 Words
– Mas mãe, os pais dela deixaram – insistia a pobre Elisa, diante de uma dona Marília irredutível. – Eles sabem da filha deles. Quem sabe da minha filha sou eu – argumentou. – Mas é uma oportunidade única. – Sempre haverá outras oportunidades – cortava a filha, enquanto arrumava a cozinha, guardando as louças no armário. – Quando? Me diz – Elisa cruzou os braços ao lado da mãe, tentando chamar sua atenção. Tentando mostrar o quanto queria aquilo mais que tudo no mundo. – Elisa, eu não vou mandar você para o outro estado com pessoas desconhecidas – decretou. – O que eu posso prometer para você mudar de ideia? – Nada. – Eu trabalho na loja do papai todos os dias até a viagem e faço todos os serviços de casa – propôs. – Essa já deveria ser a sua obrigação – desfez da proposta. – A sua filha só quer ser feliz, porque você quer impedir isso? – Choramingava, em completo desespero. – Minha filha nem sempre sabe o que é melhor para ela. E enquanto ela for menor de idade e morar sob o meu teto, eu é quem tomo as decisões. – Mãe, você sabe que na época da vovó 17 anos já era idade de se casar. – Você quer casar? – Não! – Então, pronto. – Estou pedindo algo muito mais simples. – E já obteve a sua resposta, que é não. Elisa bufou exasperada e agarrou os próprios cabelos. – Nunca mais vou te perdoar por isso! Eu nunca mais vou sorrir, por sua causa! – Esbravejou, batendo o pé com força contra o piso de cerâmica. Elisa saiu da cozinha para o terraço, a mãe não respondeu às últimas ameaças da filha. Com duas adolescentes em casa, já estava acostumada com o drama e as sentenças eternas que não duravam nem 24h. Helena era ainda melhor do que a irmã, em manter sua palavra e infernizava a todos com sua insistência. Elisa a encontrou ocupando a rede no andar superior, agarrada ao seu livro de romance barato. – Pelo visto você não vai a lugar algum – concluiu Helena, ao ouvir os passos pesados subirem as escadas. – Como ela pode ser tão insensível? – Questionou à beira das lágrimas. – Ela conhece nossos pontos fracos e sabe como ninguém os explorar – Helena falava sem tirar os olhos da página. – Diferente de você, que não sabe jogar o jogo dela – concluiu. – E o que você faria no meu lugar? – Elisa colocou as mãos na cintura, descrente da capacidade da irmã, que sempre se achava mais inteligente do que realmente era. – Não falaria nada – disse, puxando a próxima folha com a ponta dos dedos. – Você iria fugida, claro. Super funcionaria. Helena olhou para Elisa por cima do livro, um gesto que com certeza imitava dos filmes que assistia, o que irritava e muito a irmã. – Não iria fugida. Ela mandaria a polícia atrás de mim. Eu faria com que ela me quisesse longe daqui. Psicologia reversa. E ainda acharia que era tudo ideia dela. – Você nasceu com um talento para ser chata, então é fácil fazer as pessoas te quererem longe. – E você nasceu boazinha, não vai aguentar nunca peitar a nossa mãe. Elisa perdeu a paciência e virou as costas para deixar a irmã falando sozinha. – Se você fosse tão boa em manipular a mãe, era você viajando. Mas nem se livrar da recuperação conseguiu com essa sua psicologia reversa. Desceu tão irritada quanto estava quando havia subido até ali, mas os passos tinham suavizado um pouco. Helena não tinha ajudado em nada. A verdade era que seria impossível convencer a mãe à força. Nem se intercedesse ao pai. Quando ela estava decidida, podia sobrar para ele se tentasse intervir. E ele nunca queria enfrentar a fúria da esposa. Elisa não tinha ideias. Foi para o quarto e encontrou o celular cheio de mensagens e ligações perdidas de Gabriela. Pensou na possibilidade da garota ter mudado de ideia e estava tentando comunicá-la. Talvez os pais não quisessem a responsabilidade de levar uma adolescente a mais. Ela ligou de volta e do outro lado, a amiga atendeu. – Onde você estava? – Esqueci meu celular no quarto – justificou. – E aí? Já falou com a sua mãe? – Então, o convite ainda está de pé? – Claro que sim. Você ainda não perguntou para a sua mãe? – Gabriela parecia confusa. – Já sim – respondeu sem emoção. – E então? O que ela disse? Elisa fechou os olhos e respirou fundo. Não queria decepcionar a amiga e nem parecer ingrata pelo convite, mas não dependia dela. – Ela deixou – respondeu. – Vou poder viajar com você. ********************** Obrigada por acompanhar mais essa história. Amanhã tem mais um capítulo, então não deixa de colocar o livro na sua biblioteca e me seguir por aqui para não perder as notificações, tá? E me siga também em todas as redes sociais: Instagram, Twitter e Tik Tok: @thaisolivier_
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