Sentindo meu coração disparado, sabendo que pode ser meus últimos segundos, o choro vem com tudo e me encolho ainda mais esperando o tiro. O som da bala saindo da arma ecoa em meus ouvidos e abro meus olhos a tempo de ver o homem cair de joelhos no chão me olhando. Seu peito está cheio de sangue, assim como meu corpo, as paredes do chuveiro e o chão. Meu corpo todo treme e o homem desaba a minha frente, caindo com o rosto em meus pés. Minhas mãos tremem e quando olho meu corpo sujo, percebo que na verdade tudo treme em mim.
- Victória!
Escuto alguém me chamar, mas parece tão distante. Minhas pernas vão perdendo as forças e então vejo Erick me segurar pelos braços. A água do chuveiro bate em seu corpo e tudo parece em câmera lenta.
- Respira!
Pede com a mesma voz baixa que antes me chamou. Tudo parece estar fora de sintonia comigo, sons, movimentos e me sinto estranha.
- Olha pra mim!
Segura agora meu rosto em suas mãos e encaro uma imensidão muito azul.
- Ele te machucou, te feriu em algum lugar?
Só consigo mover a cabeça de forma negativa, mas meus lábios não se movem. Meus olhos percorrem seu rosto todo machucado, tem um corte no canto na boca.
- Precisamos sair daqui!
- Suja...
É a única coisa que digo e seus olhos descem para o meu corpo, vendo o sangue em mim.
- Tem outro banheiro aqui?
Confirmo com a cabeça.
- Consegue andar?
Olho minhas mãos e pernas ainda trêmulas e volto a chorar vendo o homem no chão.
- Me abraça e fecha os olhos.
Pede me pegando no colo e abraço seu pescoço, enfiando o rosto em seu pescoço. Sinto Erick começar a andar, mas continuo evitando olhar.
- Quando você entrou no quarto, percebi que tinha alguém na casa, só não sabia que eram mais de um.
- Tem mais gente aqui?
Pergunto me encolhendo em seus braços e ele me aperta.
- Tinha! Avisei que não era uma boa idéia vir aqui. Estavam te esperando e sabiam que uma hora viria pegar suas coisas.
Para de andar e o sinto respirar fundo.
- Suas coisas são essas na cama?
- Sim!
- Vou te colocar no outro chuveiro e venho pegar tudo. Onde fica o outro chuveiro?
- Quarto ao lado de visitas.
Me leva para o outro banheiro, me coloca no chão e liga a ducha. Espera a água aquecer e me coloca embaixo dela.
- Se lava rápido, temos que ir embora logo, seu apartamento não é seguro.
Fecho meus olhos ao sentir a água em minha cabeça, descendo pelo meu corpo.
- Vou pegar suas coisas.
Desesperada abro meus olhos e seguro sua mão.
- Não me deixe sozinha!
Seus olhos pela primeira vez amolecem pra mim e se aproxima sem se importar com a água molhando ainda mais sua roupa.
- Segure isso e atire em qualquer pessoa que aparecer, que não seja eu.
- Não sei atirar.
Mexe em uma trava e arruma a arma na minha mão.
- Apenas aperte e atira. Já volto!
Vejo sair do banheiro e meus olhos não saem da porta. As batidas do meu coração ecoam em meus ouvidos e minha respiração fica intensa. Não sei quanto tempo se passou, mas começo a ficar preocupada.
- Erick!
O chamo e não escuto nada. Saio do chuveiro, ando em direção a porta do banheiro e não vejo ninguém no quarto. Ando pra fora e escuto coisas se quebrando, vindo da sala. Ando mais rápido e vejo um homem em cima do Erick, batendo com força. Com as mãos tremulas ergo a arma, mas não sinto firmeza.
- Solta ele!
Grito e o homem para de bater no Erick, que está jogado no chão. Vira e não vejo seu rosto por causa da proteção que usa pra não se expor.
- Sai de perto dele ou eu atiro.
O homem vai se afastando, mas vem se aproximando. Manca de uma perna e vejo escorrer sangue pelo chão.
- Não se aproxime.
- Só quero ver de perto esse lindo corpo.
Diz e pela voz, sei que não é o mesmo homem que matou o Jonny.
- Se der mais um passo eu atiro.
- Gatinhas como você não sabem atirar.
Dá mais um passo em minha direção e antes que eu aperte o gatilho, Erick o acerta com a minha cadeira de ferro, fazendo o homem cair no chão apagado.
- Vamos embora!
Vem cambaleando em minha direção e tira a arma da minha mão.
- Se troca, por favor!
Pede ofegante e imagino que com dor.
- Você está todo machucado.
- E você nua.
Sorri cansado e guarda a arma nas costas.
- Saímos em cinco minutos. Tem carro, algum veículo.
- Tenho! Está na garagem do prédio.
- Ótimo! Só preciso ver uma coisa.
Caminha lentamente para o corredor e vejo mais um corpo no chão, perto da cozinha. Sem pensar muito vou até o corpo e me abaixo.
- Não tem tatuagem.
Escuto Erick dizer e sua voz já está distante. Deve estar no quarto já. Mesmo ele avisando, quero olhar pra ter certeza. Puxo a manga da blusa do braço direito do homem e realmente não tem nenhuma tatuagem. Me ergo do chão e vou pro quarto me trocar.
Assim que entro no quarto, escuto um gemido baixo de dor vindo do banheiro. A passos suaves vou até a porta e vejo Erick sem camisa, se olhando no espelho. Seu peito todo forte é tão lindo quanto suas costas bem definidas. Sua mão sai de cima do ombro e vejo um corte que não para de sangrar. Ele tenta estancar, mas sua mão não alcança muito bem pra fazer pressão. Me aproximo por trás dele e seus olhos pelo espelho acompanham meus movimentos.
- Deixa que limpo.
Coloco minha mão sobre a dele e nossos olhos se cruzam no espelho.
- Obrigado!
Sussurra e me entrega a gaze que usa no corte.
- Vamos precisar de uma mais limpa.
Me entrega uma, que pega da minha caixinha de primeiros socorros.
- Obrigada por me salvar. Aquele homem quase atirou em mim.
Agradeço enquanto tento fazer o sangue parar. Me posiciono melhor atrás de seu enorme corpo e isso faz nossos corpos ficarem mais próximos. Observo os músculos de suas costas e contenho a vontade de percorrer eles com o dedo.
- Vão vir mais, precisamos ir embora.
- Suas roupas estão molhadas.
- Depois me troco. Suas roupas estão na cama, quando terminar de se arrumar, me encontra na sala.
- Pra onde vamos? Acha que esse tal do Richard pode me ajudar?
Sua mão vem pesada sobre a minha e volto a olhá-lo pelo espelho.
- Não! Algo me diz que não devemos confiar nele. Jerry acha que Richard é um superior honesto, mas tenho minhas dúvidas.
- Ele quem te afastou da policia?
Vira o corpo sem soltar minha mão. Fica de frente pra mim e a expressão de seu rosto não é nada boa.
- Sei que deve estar sendo bem libertador andar nua por sua casa, mas acho realmente, que deveria se vestir.
Sorri sem jeito, meio envergonhado por algumas vezes me olhar nua.
- Estou indo!
Devolvo a gaze pra ele e saio do quarto caminhando de forma bem sensual. Não é momento pra isso, mas já que está olhando, que me veja linda e plena.
**************
Termino de amarrar meu tênis e vou pra sala encontrar o Erick. No corredor o escuto furioso falando com alguém.
- Não! Você me ouviu?
Ele está furioso andando pela sala.
- Tentaram matar a Victória!
Grita no telefone e paro de andar.
- Eles não vão parar até que a única testemunha que pode f***r com eles esteja morta.
Respira fundo e para de andar.
- Desculpa, Jerry!
Fala com a voz calma ou tentando se acalmar.
- Não posso colocar a vida dela em perigo só pra limpar algo que eu não fiz. Só estou te avisando que vamos sumir até que eu tenha provas contra o Zach para prendê-lo. Victória vai comigo e a manterei segura bem longe do Richard.