Almoçando segredos

1939 Words
Julia A manhã passou voando, na hora do almoço recebi uma mensagem de Danilo me convidando para almoçar com ele. Detesto ter que dizer não para ele, mas Ana me chamou para comer com ela e eu estava pensando em chamar a Helen também, para ver se as duas ficam mais amigas e se essa implicância gratuita da Helen com a Ana deixe de existir. Decido ligar para Danilo para ouvir a voz do meu amado professor, parece que faz uma eternidade que não o vejo, sinto saudade o tempo todo. Ligação on: "Oi, minha linda." "Oi, Dani. Desculpa não poder almoçar com você, mas quero por o papo em dia com as meninas." "Sem problemas, Ju. Vou fazer uma comida bem gostosa pra você no jantar." "Você é o melhor noivo do mundo, meu amor. O que está fazendo agora?" "Estava terminando de ler um livro, acabei agora." "Humm, sobre o que era esse livro?" "É um livro sobre pesquisa na atualidade." "Oook, um livro bem universitário. De forma alguma quero pensar nisso agora. Professor sendo professor. " -- ele ri do outro lado da linha. "É como dizem: Um professor nunca tira férias." "O melhor professor do mundo, meu professor." "Não me tente, Julia! É sexy pra c*****o ouvir você falar "meu professor". Eu não aguento."  --- eu dou risada. "Pois não aguente! Eu tenho que desligar agora, amor. Já vou sair para almoçar." "Tenha um bom almoço, amo você." "Você também. Te amo, te amo, te amo." Eu desligo e vou falar com as meninas. Helen parece decidida a não sair para almoçar, jogada em sua cadeira. ---- Amiga,  a Ana me chamou para almoçar, vamos também? -- eu digo a Helen, ela me olha com a cara desanimada. --- Pode ir, vou ficar por aqui mesmo. -- ela diz. --- Helen, por favor, vamos? Vai ser legal, só as meninas, jogando conversa fora. -- eu insisto, sua expressão não muda. --- O que eu vou fazer lá? Eu não sou amiga dela, você é. -- eu reviro os olhos, como a Helen é teimosa! --- Por isso mesmo, quero que vocês duas fiquem amigas. Eu gosto muito da Ana e você é a minha melhor amiga-irmã.  --- Não sei... --- Vai, vamos, por favor. -- eu a abraço pelos ombros. -- ela sorri. --- Tá bom! O que você não pede sorrindo, que eu não faço chorando? -- eu rio. --- Não seja dramática! Está querendo roubar o meu posto de rainha do drama? --- Vamos, antes que eu mude de ideia. Pegamos nossas bolsas e fomos até a mesa de Ana, que nos olha com um sorriso largo. --- Ana, tudo bem se a Helen for almoçar com a gente? -- eu pergunto. --- Não, nenhum. Quanto mais, melhor. Vamos no meu carro? Tem um restaurante super bacana aqui perto e não é caro. -- ela diz, animada. --- Por mim  tudo bem -- eu digo. --- Por mim também, mas prefiro ir no meu carro se não se importa. -- Helen diz. --- Tranquilo. Você vai comigo, Ju? -- pergunta Ana. Eu olho para Helen e engulo em seco, ela me encara duramente. --- Ou comigo? --- diz Helen. Nossa, isso é o que chamam de saia justa! Como vou sair dessa agora? Se pelo menos eu tivesse vindo com o meu carro, ao invés de ter vindo de carona com Danilo, cada um poderia ir no seu carro e todo mundo ficaria feliz. As duas estão me encarando e eu percebo que ainda não respondi. Eu limpo a garganta e respondo: --- Desculpa Ana, eu vou com a Helen. -- digo, sem graça. Não queria magoar a Ana, ela parece ser tão sensível. --- Tudo bem. Então vamos? A hora está passando. -- ela diz, noto que ficou um pouco chateada. d***a! --- Claro.  Ana entra no seu carro e eu e Helen no dela. Ela começa a dirigir e a me olhar de canto. --- O que foi? -- pergunto. --- Ficou chateada por não ter ido com a Ana? -- ela pergunta. --- Não, eu só... não queria que nenhuma de vocês ficassem chateadas comigo. --- Eu não estou. --- noto uma leve ironia em seu tom de voz. --- Mas ela... --- Julia, relaxa! Ana não está chateada, ela sabe que somos melhores amigas, e por Deus! É só uma carona.  --- Não sabia que você era tão ciumenta assim, Helen. -- comento. --- Não estou com ciúmes, Ju. Foi você quem decidiu vir comigo. -- ela fala com tranquilidade. "Falar é fácil", eu penso. Helen seguiu o carro de Ana, logo chegamos ao restaurante que ela falou. O lugar parecia agradável e simples, embora fosse muito bonito. Entramos e pegamos uma mesa, um garçom veio nos atender. --- Boa tarde, senhoritas. Aqui está o cardápio. ---- Boa tarde, obrigada. -- eu digo. As meninas estudam o cardápio em silêncio. Eu sou rápida na escolha: --- Uma salada de frango com rúcula, arroz branco e um suco de laranja, por favor.  -- Certo. -- diz o garçom. --- Uma salada verde e um suco de morango. --- disse Helen. --- Só Helen? --- pergunto, ela dá de ombros. --- Eu vou querer um filé grelhado, arroz, salada de frango e suco de laranja. -- eu olho espantada para ela.  --- Ok, já trago os pedidos. -- Obrigada. -- dizemos. ---- Que fome, hein amiga. -- eu digo para Ana. --- Eu como bem. -- ela dá de ombros. Ficamos em silêncio por alguns minutos, até eu me dar conta de que teria que quebrar o gelo. --- Gostei daqui, aconchegante  e tranquilo. -- falei, me referindo ao restaurante. --- Sim, sempre venho aqui com... --- Ana para de falar, seu rosto fica vermelho. --- Com o Jeff? Sempre vem aqui com ele? -- pergunto, Helen observa achando graça. --- Sim... Nós... Olha só, Ju. --- ela gagueja. --- Ana, tá tudo bem. Não precisa ficar nervosa, fico feliz por vocês. -- eu digo. --- É sério? --- ela pergunta aliviada. --- É claro, porque não ficaria?  ---- Porque eu achava que vocês dois já tinham ficado. -- ela diz sem graça. --- Eu e o Jeff?! Não! Jeff é meu amigo, assim como você. Ele é uma ótima pessoa, mas eu nunca olhei pra ele de outra forma.  --- Mas ele já olhou pra você... -- ela diz, insegura. --- Eu sei... mas agora vocês estão juntos, é isso o que importa. -- tento passar confiança para ela.  --- Como você sabia? -- Ana questiona. Eu olho pra Helen de canto. --- Fui eu quem comentei com a Julia, desculpa. -- diz Helen. --- Eu vi vocês chegarem juntos, um dia desses.  --- Sem problemas, não é como se fosse segredo, né?  --- Não, não é. -- eu digo. "Sou eu quem tem um segredo aqui", penso. Nossa comida chega e comemos em silêncio. Depois dividimos a conta. Ana insistiu em pagar, mas eu não deixei. Ela vem de família rica, mas gosta de bancar os próprios gastos, a admiro por isso. --- Meninas, o que acham de marcarmos de sair um dia desses? Ir em uma balada, dançar um pouco. --- eu digo. --- Eu vou adorar. --- diz Ana, animada. --- Dançar? Julia! Ficou louca? Você não pode, está grávida! --- Helen deixa escapar. Um minuto de silêncio para o meu segredo que acabou de morrer. Ana me olha boquiaberta e Helen está branca igual papel, visivelmente arrependida do que acabou de dizer.  --- Me desculpa, amiga. -- ela diz. --- Ju, você tá grávida? Eu nem sabia que você tinha namorado. --- diz Ana, surpresa. --- Pois é, eu tenho. É uma longaaa história. -- digo sem graça.  --- De quantos meses você está?  --- Quase três meses.  --- Uau! Nem dá para ver.  --- Eu sou bem magra, é por isso. -- dou de ombros. --- Olha Ana, eu quero conversar com você e Jeff sobre isso, contar tudo. Podemos nos encontrar no fim de semana? --- É claro que sim, vou falar com ele. --- que bom que Ana é compreensiva. --- Obrigada. -- eu digo. --- Vamos? Nosso horário de almoço está no fim. -- Helen checa o relógio no pulso.   Voltamos para a editora, no caminho Helen não para de se desculpar: --- Ju, me desculpa de verdade. Eu deixei escapar, esqueci que Ana não sabia de nada... ---- Tudo bem, não tem problema. O que está feito, está feito. Ela ia ficar sabendo de qualquer jeito, hoje de manhã eu até conversei com Danilo sobre isso. Não esquenta. --- Tem certeza? --- ela insiste. --- Claro, essas coisas acontecem. Fica tranquila. No fim do expediente, Danilo me busca para irmos até a igreja marcar a data do nosso casamento. ---- Até amanhã, meninas. -- me despeço. --- Tchau, Ju. -- diz Helen. ---- Até amanhã, amiga. -- fala Ana. Danilo já está na frente da editora esperando. Eu entro e ele me puxa para um beijo demorado. --- Nossa, estava com tanta saudade assim? --- eu brinco. --- Muita, você nem imagina. E você? Não estava com saudades de mim não, é? -- ela diz, fazendo biquinho. --- É claro que eu estava, meu amor. Muita, muita, muita. -- digo beijando todo o seu rosto. --- Vai ter que fazer mais que isso para me convencer. -- ele diz com cara de s****o. --- Eu faço tudo o que você quiser, meu professor.  --- Quero só ver. --- ele sai com o carro. --- Me conta, como foi seu dia?  --- Foi tranquilo, saí para almoçar com as meninas em um restaurante perto da editora.  --- É mesmo? Alimentou direitinho nosso bebê? --- ele passa a mão carinhosamente na minha barriga. --- Bem alimentado. -- digo com um sorriso. -- Ah! tenho algo para te contar. --- ele me olha preocupado. --- O que é? -- eu conto sobre a Helen ter deixado escapar sobre a minha gravidez. --- Você contou sobre nós? -- ele pergunta. --- Não, eu disse que falaria com ela e Jeff juntos e explicaria tudo. --- Bom, ela ficaria sabendo de qualquer jeito mesmo.  --- Foi isso o que falei para Helen, ela ficou m*l por ter deixado escapar sem querer.  --- Ela não teve culpa, essas coisas acontecem. Danilo estaciona o carro em frente a igreja e entramos. O padre da paróquia nos recebe. --- Boa tarde, Padre. Sua benção. -- eu digo. --- Sua Benção, Padre. -- diz Danilo. --- Deus vos abençoe. -- ele diz. --- Padre, gostaríamos de marcar a data do nosso casamento. -- fala Danilo. --- Então, vamos ver uma data para vocês. Entramos e o Padre nos leva até a secretaria da igreja, onde ele verifica em um grande livro, as datas disponíveis. --- Vejamos aqui. -- ele diz. --- Vocês querem para logo ou para mais adiante? -- ele pergunta. --- Para logo. -- responde Danilo. --- Mas se não tiver, tudo bem. --- eu digo. --- Tenho uma data aqui para um domingo, às 17h00 da tarde, daqui a dois meses. -- ele nos mostra a data e eu anoto na agenda do celular. --- Está perfeito. -- Danilo é só satisfação. --- Ótimo, obrigada Padre. --- Não tem de que. Voltamos para casa, felizes com a data do casamento marcada. --- Quero o jantar que me prometeu, hein. -- digo para o meu noivo. --- Promessa é divida. -- diz ele. --- É mesmo, mas antes vem tomar banho comigo.  --- É claro que eu vou.  No chuveiro nos amamos até ficarmos igualmente cansados e saciados.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD