Prólogo
Eu tinha apenas doze anos quando o vi pela primeira vez.
Lembro-me bem — o riso fácil, o terno alinhado, o jeito como sua presença parecia ocupar todo o espaço, mesmo sem esforço. Ele não era como os outros amigos do meu pai; tinha um olhar profundo, atento, que parecia atravessar minhas defesas infantis.
Um ano depois, aos treze, descobri o que era ter uma paixonite. Ridícula, inocente, impossível. O coração acelerava só de ouvir seu nome ser mencionado. Eu o observava de longe, sem que ele soubesse, colecionando em segredo cada palavra, cada gesto, cada sorriso que me fosse dirigido.
No dia em que completei quinze anos, o destino — ou talvez apenas uma coincidência c***l — nos colocou frente a frente de um jeito diferente. Ele estava lá, elegante, com aquele perfume que eu já sabia de cor. Em meio à música, estendeu-me a mão. Aceitei, e dançamos.
Foi nesse instante que a coragem adolescente tomou conta de mim. Entre uma volta e outra, olhei para ele e, com a ousadia de quem não conhece o peso do tempo, pedi meu presente de aniversário:
— Quero um beijo.
Ele parou por um segundo, fitou-me como se gravasse aquele momento na memória e, inclinando-se até que seus lábios quase tocassem minha pele, sussurrou no meu ouvido:
— Me procure quando tiver dezoito.
Não houve beijo. Mas houve uma promessa.
E desde aquele dia, o relógio da minha vida começou a contar em direção a esse encontro.