Por Bianca
O vento estava gelado naquela tarde, mas não era apenas o frio que fazia meu corpo tremer. Era a conversa que acabara de acontecer, as palavras de Marcos ainda ecoando na minha mente. Eu sentia uma mistura de emoções, algo difícil de traduzir. Eu queria acreditar no que ele disse, queria acreditar que nós dois podíamos superar tudo, mas a realidade parecia tão distante.
Ele me amava. Ele me amava, e isso fez meu coração bater mais rápido. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que nossas vidas eram diferentes, que existiam barreiras entre nós que poderiam ser intransponíveis. Ele tinha uma família que não me aceitava, e eu tinha minhas inseguranças, meus medos, a doença que me consumia silenciosamente, a SOP que me deixava com o corpo que eu não conseguia aceitar.
Era estranho, como se eu estivesse dividida entre dois mundos. O mundo de Marcos, o mundo dos sonhos e da paixão, onde eu finalmente poderia ser amada do jeito que sempre desejei. E o meu próprio mundo, onde o medo e a dúvida me cercavam, onde eu não me via suficiente, onde a ideia de ser amada parecia um sonho distante demais para ser real.
Eu sabia que estava me apaixonando por ele, mas o que isso significava para mim? Eu não queria me envolver em algo que me fizesse sofrer, mas eu não queria perder Marcos também. Ele era a única pessoa que havia me feito sentir algo além da solidão que eu carregava, e isso me assustava.
A minha cabeça estava a mil, tentando processar tudo. Eu sabia que ele queria lutar por nós, que ele estava disposto a enfrentar sua família, suas expectativas. Mas e eu? Eu estava disposta a enfrentar minhas próprias inseguranças? Estava disposta a deixar que o amor de Marcos superasse os medos que eu carregava sobre meu corpo e minha saúde?
Eu sempre me senti excluída, diferente. Desde a escola, eu me via como a “gordinha”, aquela que não se encaixava nos padrões. E agora, eu estava sendo desafiada a acreditar que eu merecia algo mais, que eu merecia o amor de Marcos, mas como poderia aceitar isso se eu mesma não conseguia me aceitar?
Olhei para o espelho do meu quarto. A mulher que refletia de volta para mim não era a mesma mulher de três anos atrás, quando comecei a loja. Mas, mesmo com o sucesso e o apoio de Marcos, ainda havia algo em mim que não estava completo. Eu queria ser suficiente para ele, mas será que eu conseguiria? Será que ele seria capaz de olhar para mim, para o meu corpo e me ver da maneira que ele dizia me ver?
A pergunta que me torturava era: eu seria capaz de me entregar a ele, a esse amor, ou meus medos e inseguranças iriam me afastar dele?
Fechei os olhos por um momento, tentando encontrar alguma resposta dentro de mim. Marcos havia se aberto para mim de uma forma que eu nunca imaginei que alguém faria. Ele me amava, e isso era real. E, por mais que o medo fosse imenso, algo dentro de mim sabia que eu não queria perder isso. Não queria perder o que poderíamos ser juntos.
Peguei meu celular, ainda sentindo o peso da conversa anterior. Decidi mandar uma mensagem para ele, algo simples, mas sincero, para que ele soubesse que eu estava pensando no que ele disse, que estava disposta a tentar.
"Marcos, eu quero tentar. Eu sei que as coisas são complicadas, e eu não sei como tudo vai ser, mas estou disposta a ver onde isso pode nos levar. Eu só preciso de um pouco mais de tempo para entender a mim mesma."
Respirei fundo e enviei.
O medo ainda estava lá, mas algo dentro de mim sabia que, talvez, dar esse primeiro passo fosse tudo o que eu precisava para, finalmente, começar a acreditar que o amor, apesar de tudo, poderia ser real.