Capítulo 2 - Marcas do Passado

378 Words
Por Bianca Eu ainda sentia as mãos tremendo. O assalto havia durado poucos segundos, mas na minha cabeça parecia ter acontecido em câmera lenta. A faca brilhando sob a luz da rua, a voz áspera exigindo minha bolsa, o pavor me travando no lugar. Quando tudo acabou, fiquei ali, no meio da calçada, tentando recuperar o fôlego. Foi só quando o policial me encontrou que percebi que estava chorando. — Você está bem, Bianca? — Pedro perguntou, a voz suave, diferente do tom firme que usava quando estava de uniforme. Assenti rapidamente, enxugando o rosto com a manga da blusa. — Tô… Só um pouco assustada. Ele me estudou por um momento, como sempre fazia. Pedro tinha essa mania de me observar como se pudesse ver tudo o que eu sentia, mesmo quando eu não queria demonstrar. — Vem, vamos pra delegacia — ele disse, me guiando para o carro da polícia. Eu confiava nele. Sempre confiei. Então, entrei sem hesitar. Quando chegamos, o lugar estava movimentado. Luzes frias, vozes altas, o barulho irritante do telefone tocando sem parar. Pedro me acompanhou até um balcão e começou a relatar o que tinha acontecido. Eu apenas escutava, tentando processar tudo. Foi então que o vi. Ele estava sentado no banco do outro lado da sala, os olhos fixos em mim. Pele morena, cabelo bagunçado, barba por fazer. Havia algo nele que chamava atenção. Talvez fosse a maneira como me olhava — não com pena, não com curiosidade, mas com um tipo de interesse que eu não entendia. Desviei o olhar, desconfortável. — Quem é aquele? — perguntei baixinho para Pedro. Ele ficou tenso. — Ninguém que importe. A rispidez na resposta me pegou de surpresa. Pedro não costumava ser rude comigo. Segui seu olhar e percebi que ele encarava o homem como se o odiasse. — O que ele fez? — insisti. Pedro suspirou, visivelmente irritado. — Foi preso por se envolver com uma mulher casada num motel. Engoli em seco. Meu olhar voltou para o homem, que agora sorria de canto, como se se divertisse com a situação. Desviei o rosto imediatamente, o coração batendo mais rápido. Não sei por que, mas tive a sensação de que aquela não seria a última vez que eu cruzaria com ele.
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