Capítulo 17 – A Família que Somos

940 Words
Por Bianca Acordei com o barulho da porta se abrindo. Era cedo demais para estar acordada, mas a luz suave que entrava pela janela me fazia sentir uma estranha paz. Olhei para o lado, e lá estava Pedro, com o rosto ainda cheio de sono, mas com aquele sorriso característico. Era engraçado como o simples fato de vê-lo me dava uma sensação de acolhimento. Ele não precisava dizer nada. O sorriso dele falava por si só. "Sofia acordou cedo hoje", ele disse, passando a mão pelos cabelos, enquanto se levantava. "Eu vou levá-la à escola. Você tem algo para fazer?" Na verdade, eu tinha uma montanha de coisas para organizar na loja, mas naquele momento, a ideia de passar um tempo com eles me pareceu muito mais atraente. Era como se a presença de Sofia completasse algo dentro de mim, algo que eu nem sabia que estava em falta. A nossa relação com Sofia sempre foi algo muito especial, uma espécie de laço invisível que existia entre nós três. "Eu posso ir com vocês", respondi, tentando esconder o sorriso que surgia espontaneamente no meu rosto. Pedro me olhou de canto, um tanto surpreso, mas logo aceitou o convite. A caminho da escola de Sofia, a conversa fluía naturalmente, como sempre. Sofia, com sua energia imensa, já começava a fazer perguntas sobre o dia, sobre o que íamos fazer depois. Ela me chamou de "mamãe" como se fosse a coisa mais normal do mundo, e, para mim, aquilo sempre tinha sido algo tão especial e, ao mesmo tempo, doloroso. Eu sabia que, na cabeça dela, era como se eu fosse uma segunda mãe. Desde o acidente que tirou a vida dos pais de Pedro, ela me via assim, como alguém que não só o ajudou, mas que, de alguma forma, se tornou parte fundamental da vida dela. Eu também me sentia assim. Embora nunca tivesse sido mãe de fato, ser chamada de "mamãe" por Sofia me dava um senso de pertencimento que eu nunca imaginei que sentiria. Eu sabia que ela ainda sentia a falta da mãe biológica, mas eu tentava ser a melhor "mamãe" que podia. "Sofia, você está ansiosa para o fim de semana?", perguntei, tentando puxar uma conversa leve enquanto caminhávamos para a escola. "Sim, mamãe!" ela exclamou, empolgada. "Eu quero ir ao parque com vocês e fazer piquenique. E você vai vir, né, papai?" Ela olhou para Pedro com aqueles olhos brilhantes de expectativa. Pedro sorriu, mas sua expressão era um pouco mais séria, como se houvesse algo que ele estava segurando para si mesmo. "Claro, meu amor. Vou estar lá com vocês, como sempre." Mas eu percebia que ele estava mais pensativo do que normalmente estava. Eu sabia o que ele estava pensando. Ele tinha essa preocupação constante sobre a relação dele com Sofia e o impacto que as coisas podiam ter nela. Mas ele não via como ela o amava profundamente. Ela o via como o pai, e isso era algo que ele tinha conquistado com muito esforço. Desde que os pais dele morreram, ele assumiu o papel de cuidador e protetor de Sofia, e era isso que ela via nele. Ele era o "papai" dela, e nada mudaria isso, não importava o que acontecesse com a nossa situação. Nós três éramos uma família, mas o que acontecia entre Pedro e eu parecia sempre criar uma barreira invisível. Eu sabia o quanto ele me amava, mas o fato de estarmos juntos sem poder dar uma definição clara ao nosso relacionamento me deixava insegura. Ele tinha sofrido tanto em sua vida, e eu não queria ser uma fonte de mais dor ou incerteza para ele. Mas o que eu sentia por ele era tão forte, tão genuíno, que cada vez que pensava na possibilidade de estar ao seu lado, o medo de falhar me consumia. Enquanto caminhávamos, Sofia começou a falar sobre algo que me fez parar por um momento. "Mamãe, você já pensou em morar com a gente, na nossa casa nova? Eu vou adorar! Vai ser tão legal ter você todos os dias." Ela disse isso com tanta convicção que meu coração quase parou. Ela estava falando com a mesma confiança de sempre, mas eu não sabia se estava pronta para dar esse passo. Pedro olhou para mim, notando o silêncio repentino. Eu tentei disfarçar, mas ele sabia. Ele sempre sabia o que eu estava pensando. "Sofia tem razão, Bia", ele disse suavemente, colocando a mão em meu ombro, como se quisesse me dar um pouco de apoio. "A nossa casa nova vai ser incrível. E você faz parte disso, com ou sem título, com ou sem definições. Você já é nossa família." Eu olhei para ele, tentando processar suas palavras. Ele estava certo. Eu já fazia parte da vida deles, de uma forma ou de outra. Mas ainda havia algo dentro de mim que não sabia como se entregar completamente. Algo que me impedia de dar esse passo, esse compromisso de ser realmente uma parte integral da vida deles. A caminhada até a escola de Sofia não foi longa, mas foi suficiente para me fazer pensar sobre o que significava ser parte dessa família, o que significava ser mãe de coração de Sofia e o que eu deveria fazer com o que sentia por Pedro. Ele tinha razão. Eu fazia parte da vida deles, mas, talvez, eu ainda não soubesse como aceitar isso completamente. "Eu vou pensar sobre isso, Pedro", respondi, com um sorriso tímido. "Vamos ver o que o futuro nos reserva." E, mesmo sem ter todas as respostas, naquele momento, eu sabia que, de algum modo, nossa história estava apenas começando.
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