Por Bianca
Eu ainda sentia as mãos tremendo. O assalto havia durado poucos segundos, mas na minha cabeça parecia ter acontecido em câmera lenta. A faca brilhando sob a luz da rua, a voz áspera exigindo minha bolsa, o pavor me travando no lugar. Quando tudo acabou, fiquei ali, no meio da calçada, tentando recuperar o fôlego.
Foi só quando o policial me encontrou que percebi que estava chorando.
— Você está bem, Bianca? — Pedro perguntou, a voz suave, diferente do tom firme que usava quando estava de uniforme.
Assenti rapidamente, enxugando o rosto com a manga da blusa.
— Tô… Só um pouco assustada.
Ele me estudou por um momento, como sempre fazia. Pedro tinha essa mania de me observar como se pudesse ver tudo o que eu sentia, mesmo quando eu não queria demonstrar.
— Vem, vamos pra delegacia — ele disse, me guiando para o carro da polícia.
Eu confiava nele. Sempre confiei. Então, entrei sem hesitar.
Quando chegamos, o lugar estava movimentado. Luzes frias, vozes altas, o barulho irritante do telefone tocando sem parar. Pedro me acompanhou até um balcão e começou a relatar o que tinha acontecido. Eu apenas escutava, tentando processar tudo.
Foi então que o vi.
Ele estava sentado no banco do outro lado da sala, os olhos fixos em mim. Pele morena, cabelo bagunçado, barba por fazer. Havia algo nele que chamava atenção. Talvez fosse a maneira como me olhava — não com pena, não com curiosidade, mas com um tipo de interesse que eu não entendia.
Desviei o olhar, desconfortável.
— Quem é aquele? — perguntei baixinho para Pedro.
Ele ficou tenso.
— Ninguém que importe.
A rispidez na resposta me pegou de surpresa. Pedro não costumava ser rude comigo. Segui seu olhar e percebi que ele encarava o homem como se o odiasse.
— O que ele fez? — insisti.
Pedro suspirou, visivelmente irritado.
— Foi preso por se envolver com uma mulher casada num motel.
Engoli em seco. Meu olhar voltou para o homem, que agora sorria de canto, como se se divertisse com a situação.
Desviei o rosto imediatamente, o coração batendo mais rápido.
Não sei por que, mas tive a sensação de que aquela não seria a última vez que eu cruzaria com ele.