No quarto, a noite eu pensava no que fazer. Mas eu não tinha ideia de como ajudar a Julia nesse momento, ela estava grávida e tinha apenas 16 anos. Eu infelizmente não podia recorrer a minha mãe para ajudá-la, ela não entenderia e ainda me proibiria de ver a Julia novamente.
Foi quando a cortina do quarto do Josh se abriu, ele viu que eu o encarava e acenou. Eu sorri e ele fez o mesmo. Em seguida, vejo Josh pegando um papel e escrevendo algo sobre ele. Ele me mostrou o papel escrito “Preciso de você!”, depois me mostrou a mão como se dissesse “espera” e alguns minutos depois a campainha toca.
– Kylie, o Josh está aqui! – Papai gritou.
Eu desci as escadas rapidamente. Quando fiquei de frente para ele tentei fingir naturalidade, mas era um desafio toda santa vez. Respirei fundo. Coloquei as mãos nos bolsos do moletom e saí de casa, fechando a porta por trás de mim.
– Oi, abelhinha. – Ele disse, e eu torci o nariz. Ele me chamava assim desde que somos crianças, porque eu estava brincando na calçada e uma abelha me picou na bochecha e eu fiquei toda inchada.
– Não me chama assim. – Repreendi.
– Desculpa – Ele disse, prendendo o riso.
– O que foi? – Perguntei, sem arrodeio.
– Preciso da sua ajuda. Estou na final em cálculo. – Disparou.
– Josh, nós literalmente acabamos de voltar das férias. – Afirmei, com as sobrancelhas erguidas.
– Eu sei, e eu me dei muito m*l no primeiro teste. Preciso de um A+ no próximo e no mínimo um B no teste final.
– Sério, como você conseguiu? – Indaguei, incrédula.
– Eu nunca fui muito bem em exatas você sabe. Eu quero jogar beisebol, foi o que eu escolhi fazer.
Eu aquiesci. Todo mundo tem direito de ter um sonho, se esse era o dele não havia nada que eu pudesse fazer.
– Por que você não pede a Mandy?
– Ela não tem paciência. – Explicou – Por favor, Kylie, eu faço qualquer coisa.
Num instante, uma luz piscou sob a minha cabeça. Era isso! Era exatamente isso que eu iria fazer para salvar a pele da Julia!
Eu dei um sorrisinho de lado e Josh perguntou:
– Isso quer dizer um “sim”?
– Isso quer dizer um “depende”. Também preciso de um favor seu.
– Como eu disse: qualquer coisa!
– Quantos anos você disse que tinha mesmo?
– 19.
Eu fiz que sim com a cabeça. Perfeito.
– Por que?
Eu o trouxe para um lugar mais distante de casa, para garantir que ninguém mais ouviria o que eu estava prestes a dizer.
– Você está me assustando, Kylie.
– Vou te contar uma coisa, e se você espalhar ou contar para qualquer, QUALQUER pessoa, Josh, eu mato você, está entendendo?
Ele fez que sim, com os olhos arregalados.
– Julia está grávida?
Ele abriu a boca com a intenção de gritar e eu tampei-a imediatamente.
– NÃO FALA, SEU IMBE... – Antes de completar a frase, volto a me acalmar – Se acalma. Por favor. – Larguei minha mão da sua boca aos poucos e ele também parecia ter se acalmado.
– A Julia, aquela sua amiga? Quantos anos ela tem? 15?
– 16.
Ele permaneceu com a expressão assustada, como se tivesse ouvido a maior notícia de sua vida.
– Eu não entendi como posso ajudar.
– Ela quer tirar o... – Eu não consegui completar a sentença, parecia muito pesado quando dito em voz alta.
– Bebê? É essa a palavra que está procurando? Desculpa, Kylie. Eu não vou compactuar com isso. – Josh saiu andando para longe de mim, aparentando estar extremamente chateado. – Prefiro reprovar em cálculo que ajudar vocês nisso. – Acrescentou enquanto andava.
– Josh, espera! Ela é sozinha para tudo. Julia não cresceu com ninguém que pudesse apoia-la ou ensinar sobre essas coisas. – Eu dizia correndo atrás dele – Eu sei que não justifica, mas ela só tem 16 anos. Por favor.
Ele retornou seu olhar para mim, sério.
– Mesmo que eu ignorasse toda essa bobagem, como poderia ajudar? Ela tem namorado, não tem?
– Tem. Mas ela precisa de um responsável maior de 18 anos para assinar a autorização do procedimento. Ela não tem com quem contar. – Disse, olhando no fundo dos seus olhos.
Ele respirou fundo.
– Vou fazer isso apenas por você. Mas eu espero que você consiga colocar um pingo de juízo na cabeça dos seus amigos.
Como um reflexo, eu pulei nos seus braços e o abracei. Quando percebi o que simplesmente havia feito, me afastei envergonhada, queria poder entrar em um buraco e sumir. Me sentia uma completa i****a. Ele também riu, sem graça, mas com certeza menos do que eu.
Josh coçou a garganta e retornou a dizer:
– Se eu for, quero que o namorado dela esteja lá.
Eu concordei com a cabeça automaticamente, pensando em como isso seria mais uma tarefa difícil.