Eu estava preocupada com a Julia, mas ela só rejeitava a minha ajuda. Quando eu e a mamãe a deixamos em casa, eu a disse que me chamasse quando precisasse e ela assentiu. Mesmo que aparentemente ela esteja bem, eu ainda tinha medo de que algo r**m pudesse acontecer.
– Ela está esquisita – Mamãe observou – O que aconteceu?
– Nada, provavelmente algo pessoal – Respondi, tensa.
– Você também está esquisita. – Afirmou, enquanto dirigia para casa.
Eu preferi não responder.
– Vou ao shopping – Ela continuou. Me perguntei o que estava deixando-a nervosa, se algo estava acontecendo em casa ou em seu trabalho para que ela sentisse necessidade de fazer compras. – Quer alguma coisa?
Mamãe percebeu que eu abaixei minha cabeça quando ouvir ela dizer essas palavras, então suspirou e tentou se explicar:
– Eu estou bem, tá legal? Eu realmente preciso comprar copos! Estamos sem copos em casa. – Aquilo me pareceu apenas uma desculpa esfarrapada, mas eu não queria retrucar.
– Mãe, podia voltar com a terapia.
– E você já podia deixar. – Respondeu, rapidamente. Aquilo me magoou, mas eu mereci. Minha mãe não gosta de ser contrariada.
Respirei fundo tentando fazer com que aquilo não me abalasse. Qual é, isso é uma tremenda besteira. Eu estou tentando resolver os meus conflitos.
– Mãe – Chamei-a novamente, alguns minutos depois.
– Que? – Indagou, concentrada no trânsito.
– Josh me pediu aulas particulares de cálculo, tudo bem se eu der?
– Contando que seja na nossa casa, na sala e sob meus olhos, não tem problema nenhum. – Ela disse – Eu sei que é o Josh e que ele não daria em cima de você, mas eu sei como são os rapazes dessa idade...
Eu sei.
Não foi a intenção dela me magoar com aquela frase. Mas me atingiu como uma flecha!
“Ele não daria em cima de você.” O que ela quis dizer com isso?
Eu conheço a minha mãe, ela somente quis dizer que ele é um rapaz íntegro que não daria em cima de uma garota que ele praticamente cresceu junto. Mas eu já me sentia ridícula, sempre senti que não era atraente o suficiente. Talvez ele fosse sempre me enxergar como criança. Não posso culpa-lo, eu meio que parecia uma. E a Mandy é... tão perfeita. Nunca chegaria aos seus pés. Não que eu queira ficar no meio dos dois, e é burrice pensar nisso, mas eu não conseguia evitar.
J
As 15h da tarde chegaram rapidamente. Eu estava no telefone com a Julia quando a campainha tocou. Ela acabara de me contar que estava deitada e que estava bem. Abri a porta para o Josh ainda com o telefone no meu ouvido.
– Julia, tenho que desligar agora, ok? Nos falamos mais tarde.
Josh sorriu com uma pilha de livros na mão e eu abri passagem para ele entrar.
– Onde estão seus pais? – Indagou o rapaz.
– No trabalho – Afirmei. Eu vi sua bochecha corar.
– Tem certeza que tudo bem?
– Minha mãe disse que não tem problema contanto que a gente fique na sala.
Ele assentiu.
– A Mandy sabe que está aqui?
Ele pigarreou, eu percebi que quis fugir da resposta então não insisti.
Começamos a estudar e percebi que ele realmente não sabia nada sobre matemática, mas pelo menos era esforçado e tentou se manter focado durante toda a explicação.
– Certo, então, sabendo que na função exponencial a variável está no expoente e a base é sempre maior que zero e diferente de um, se usarmos dessa equação y igual a 2 elevado a 0 igual a 1, quanto vale x?
Ele colocou a mão no rosto, pensativo. Já haviam se passado 30 minutos desde que eu comecei a explicação.
– 1? – Perguntou, com um dos olhos fechados, temendo a resposta.
– 0. – Respondi. Ele bufou.
– Eu nunca vou aprender. – Afirmou, fechando o caderno.
– Ei – Toquei-lhe os ombros – Você vai conseguir. É complicado no início, mas você vai se dar bem.
Ele suspirou, ficou um tempo calado e disse:
– Eu sei o que pensa sobre mim e a Mandy.
Eu arregalei os olhos. Como assim?
– Eu sei que pensa que somos um casal tóxico e que eu preciso esconder dela as coisas porque se não sou proibido..., mas não é assim. Ela até que deixa.
– Tudo bem, Josh. Não sou ninguém para julgar. Eu nunca namorei, não sei como isso funciona – Admiti, sinceramente.
– É difícil, às vezes. – Falou o loiro. – Queria que ele estivesse aqui.
– Eu também. – Completei.
– Quando eu estou com você sinto que estou próximo dele. É bom me sentir assim.
Eu sorri, feliz com o que tinha ouvido. Caleb era a pessoa mais importante do mundo para mim, saber que pessoas olham para mim e se sentem próximas a ele me deixa muito confortável, como se ele estivesse por perto realmente.
– Sinto falta de quando éramos nós três juntos. – Acrescentou.
Ele tinha razão. Éramos inseparáveis. Mesmo que eu fosse apenas a irmã mais nova que muitas vezes não passava de uma garota insuportável, nos divertíamos muito juntos, como uma família, entende? Quando Caleb fez amizade com o Josh ainda no fundamental, mamãe obrigava o Caleb a me levar juntos a quase todas as suas saídas, então chegou uma época em que eles gostavam realmente de me levar, gostavam que eu fizesse parte daquilo, e eu amava também.
Depois que o Caleb morreu, eu me isolei, deixei o Josh e qualquer outra pessoa de lado porque nada conseguia preencher o vazio que a falta dele me trazia.
Nos entreolhamos por alguns segundos e eu fiquei desconfortável o suficiente para coçar a garganta e me afastar. Josh percebeu minha estranheza e ficou sem graça.
– Obrigada pela aula de hoje. Vou treinar o que me ensinou.
– Nos vemos na quinta! – Exclamei.
E assim Josh foi embora. E eu fiquei pensando o quanto eu era uma tremenda estúpida.