3 Serpente Narrando

2109 Words
Me chamo Eduardo, mas ninguém me chama assim. Aqui ninguém fala meu nome de batismo porque o nome de rua que eu carrego diz mais da vida que eu vivi. Me chamam Serpente desde moleque — apelido que começou por causa do jeito de andar, do olhar que escaneia a paisagem, e que pegou por causa das histórias que meu velho contava quando eu ainda aprendia a entender o mundo. Serpente cabe melhor do que Eduardo. Eduardo é nome de certidão, Serpente é o nome com que eu respiro. Se quiser saber quem eu sou de verdade, olha pra essa casa lá em cima do morro. Olha pra esses carros alinhados na garagem, prontos como sentinelas, e vê os meninos que correm lá embaixo. Olha pro respeito que tenho aqui, que a galera me dá — Cobra, é o meu braço direito, meu Sub que comanda comigo, tenho ele como meu irmão, ele que aguentou tudo aqui, junto com os outros o Nerd, que é cabeça e olho da rede, nada passa despercebido dele,tem o Rei, que é conselheiro e fera nas finanças; meus homens de confiança, que tem permissão de entrar e sair da minha casa, além deles, são meus vapores Neguinho e Rui, os dois são novos estão ligados, quando me pediram uma chance, não quis deixar eles a mostra, correndo perigo, então deixo eles sendo os chefe dos vapores ali, o Nehuinho de dia, e o Rui a noite, mas agora os dois vão trabalhar da segurança da Talita, e a família que tenho na Rocinha: Vitin e o Finin, são meus irmãos, parceiros que tocam o pedaço deles com disciplina. Todo mundo com seu papel. E tem a Paty, irmã do Cobra, nossa princesinha, e o nosso orgulho. A Paty foi embora do Brasil quando tivemos o inferno da invasão — mandamos ela pra fora pra se salvar — e agora que a poeira baixou e o morro tá mais tranquilo, ela tá vindo de volta. Já imagino a dor de cabeça que ela vai dos dar, ela é surtada, ciumenta, e briga com as mulheres que chegam perto de mim, do Cobra e do Rei, até do Nerd ela pega do pé, ela não era muito fã da Jessica, e tem a Jessica gostava dela, pois dizia que ela me olhava diferente, mas nunca percebi isso, as duas nunca foram amigas, se respeitavam mas não trocava ideia. Minha história não é bonita. Meu pai morreu com as mãos afiadas de quem manda, e o resto veio com consequência. Quando ele levou o tiro, que o Tenente Soares deu dele, o cara era novo do Bope queria mostrar serviço, e eu também mostrei, meu pai caiu de um lado, e o Soares caiu tambem, deu logo dois dele, um da cabeça e outro em seu coração, eu ainda era homem novo, mas com vontade de ser grande. Assumi o morro porque alguém tinha que fazer a curva, e eu fiz. Aprendi com meu velho a não perder a cabeça e a não fazer merda com quem não merece. Uma das coisas que ele repetia como mantra era: “Nunca bate em mulher, Eduardo. Homem que bate em mulher não é homem”. Meu pai tratou minha mãe como uma rainha até o câncer levar ela embora. Vi ele chorar escondido, sem perder respeito por ninguém, mas chorou. E essa lição ficou. Por mais que a vida me endureceu, por mais que a raiva me consuma, eu nunca levantei a mão pra uma mulher, aqui eu tenho a Luh que ama cobrar as minas que pisam da bola, ela desce a mão sem dó. Então por isso que sempre deixei com ela e com umas outras minas também que gosta. Quando assumi o morro, não foi só poder. Foi responsabilidade. Eu garanti comida, botei médico pra galera, construir uma escola, um parque e uma creche do zero, deixando como uma fortaleça onde as balas não atravessam,e acerte nossas crianças, também pago bem para as professoras e os medicos, atender bem nossas crianças e adultos— sei que pode parecer contraditório pra quem só conhece a capa de violência, mas a favela precisa de outras coisas além de tiro, precisa de escola e de atendimento, tem as praças para as crianças, uma ONG, onde ajuda os moradores. Meu pai me deixou ali com uma missão: proteger a família do morro. E eu fiz meu trabalho, duro, com as mãos na lama quando precisava, aqui a população é deixada jogada pelo governo, todos que trabalham foro daqui no morro, sofrem preconceito, muitas vezes chegam a tem falar que moram aqui, por medo do quê pode lhe acontecer. E foi num desses circuitos de vida que eu encontrei Jessica. A primeira vez que vi ela foi do baile na Rocinha. Lembro do som — grave batendo no peito, fumaça cortando a iluminação, gente pulando e gritando. Ela chegou com as amigas, todas patricinhas engomadas, vestidos que brilham e sorriso de quem tá acostumado a ter tudo, e de desafiar os pais, com o perigo. Pareciam um clã de riqueza naquele caos de luz e calor. Ela era assim: impecável demais pro lugar, mas com uma beleza que combinava com qualquer cenário. Quando ela sorriu, eu entendi que ela estava a fim, do mesmo jeito que eu estava, caso de uma noite, só mas uma paty que vai passar da minha cama. Fui até ela com o jeito que se aproxima, já querendo que saiba que aqui é só diversao numa noite, que o pai era gostoso e dono da p***a toda— com conversa reta, sorriso de quem não finge. Ela olhou desconfiada no começo, como manda a regra dela.Essas meninas têm olhar de defesa, usam educação como armadura. Mas algo que ela viu em mim, quebrou a armadura. Talvez tenha sido o meu tom que não fazia show, talvez ela tivesse vontade de pular fora do palco montado pelos pais. A gente ficou naquela noite, num canto onde o som baixava e só existia o calor. Um beijo que foi promessa e risco. A mesma noite foi a primeira vez que eu senti que aquilo podia ser além de desejo, e ela toda debochada, já levei ela pra um hotel, e peguei o quarto vip deles. _ Olha só Serpente só não pode se apaixonar-ela me falava enquanto entrava ali no quarto _ Me chamo de Eduardo gata, esse é o meu nome- falei c*****o nunca revelei me nome pra mulher nenhuma, só a Paty pode me chamar pelo nome _ Hum nome bonito, então Serpente é só o vulgo, e você é o que manda ou é mandado- ela perguntou, enquanto tirava seu vestido pra mim _ Eu sou o dono da p***a toda gata, no morro do Jacarezinho- falei e ela me olhou surpresa e parou _ Acho melhor a gente não continuar então- ela me fala já triste e já fiquei se entender _ Porque, você quer do mesmo jeito que eu quero você gata- falei _ Eu sou a filha do Juiz Baltazar e da Delegada Joana Baltazar, não quero que tu ache que eu quero só me aproximar por interesse, se meus pais sonhar com isso, eles me matam- ela fala e eu n**o _ Eu sei que você não quer me fazer m*l, já que me mandou o papo todo, só vamos deixar rolar e já era, eu assumo as consequências- falei e ela sorriu Então naquela noite, a gente ficou até o dia amanhecer, ela não era mas virgem, mas não estava ligando pra isso, até porque não estava a procura de uma feira neh, lógico que ela sendo filha de quem era, elas chamas iria ser uma pira virgem, assim como suas amigas, essas mina tudo sobe o morro não pra ser patrocinadas mas sim pra dar para os de frente, elas gostam de roçar da glock de bandido. Daí em diante, a gente começou a se ver escondido. Ela vinha com desculpas montadas, saía de casa no escuro, a babá às vezes fingia que não sabia. A Jessica tinha medo do quê eu representava pros pais — juiz famoso e delegada,na família dela não combinam com genro bandido.Mas ela também tinha uma coragem de estar do lado errado por escolha — e isso ferrou com qualquer convenção que ela foi criada pra seguir. Lembro dela contando, com risinho nervoso, que o pai queria que ela fosse advogada, ou quem sabe delegada como a mãe. Eles vinham de geração de gente bem posta, de paletó e discurso, mas ela achava tudo isso engenhoca de teatro. Queria viver sem roteiro, sendo livre pra fazer o que quisesse. Quando o pai descobriu, o mundo dela virou fogueira. Brigou com ela, bateu dela, ameaçou cortar os laços,e de mandar invadir o morro, atras de mim,aí aconteceu o que acontece quando família rica prefere orgulho que filha: expulsaram ela de casa. Ela veio morar comigo no morro. Não foi fácil convencer ela. Eu ofereci meu morro lra ela, simples, comida, proteção, e principalmente amor, mesmo ela com medo do pai invadir aqui.Ela aceitou porque preferiu o risco do amor a uma vida já escrita por outros. Morávamos juntos e era bom. Ela era simples e humilde com todos, lógico que eu a mantinha do luxo que ela era acostumada. A casa era grande, ela deixou a casa do jeitinho que ela queria sua casa, nosso quarto era o maior, ela pediu pra fazer um closet pra ela, e assim eu fiz, toda semana mandava uma meta pra ela não precisar pedi dinheiro pra mim, ela continuo fazendo sua faculdade de advocacia,porque ela iria ser advogada no comando, ela ajudava da ONG, ao lado da Paty, mesmo elas não se dando bem, elas se respeitavam, do último ano de advocacia, ela chegou com a surpresa mas linda que eu esperava, já estávamos a mais de 3 anos juntos, ela me entregou uma caixinha, e dentro tinha uma roupinha azul, e um teste de gravidez, desse dia comemoramos muito. Só que a promessa que os pais fez a ela cumpriu, eles sempre tentavam invadir, mas o que conseguia era invadir uma boca e levar as drogas, as armas e o dinheiro, nunca chegaram até a parte de cima, onde ficava a nossa casa, nunca consegui entender como eles sabiam sobre as bocas, porque sempre estávamos mudando tudo, até chegava a falar com a minha mulher sobre isso, e ela me falou que podia ser x9, e então começamos a reparar dos vapores, e descobrimos dois x9, que estava passando tudo pra mãe dela, eu matei sem dó só que não parou por aí. Até que veio a noite que mudou tudo, para mim e para muitos aqui no morro, a polícia invadiu o morro, só com armamento pessado, ate tanque de guerra eles tinham, explodiram umas tres bocas, mataram inocentes, e o que nunca aconteceu,acabou acontecendo minha casa, eles acharam ela, e simplesmente chegaram ate la, conseguiram pegar a Jessica, e a levou pra rua, e ali eu vi tudo que eu lutei e conquistei para ter, o amor da minha vida, ao lado do nosso filho. O grito daquela noite ainda mora em mim. Lembrar é abrir a ferida. Eu fui preso, e não me deram a chance de enterrar minha mulher e filho, chegou até mim o vídeo deles baleados, e ainda sendo queimados, os pais delas me deram a culpa, a cadeia, fiquei preso feito bicho, apanhei demais ali dentro, fui humilhado. Tivemos que mandar a Paty embora pra proteger ela, e aproveitar pra estudar medicina que ela sempre amou— porque depois daquela carnificina, porque muitos inocentes morreram, enquanto fiquei preso, o Cobra ficou de frente, e o morro não foi mais invadido do jeito que foi, todas as noites não consigo dormir, porque sempre tenho pesadelo. Depois que eu saiu da prisão, a reconstrução do morro foi a primeira tarefa, apesar que o Cobra conseguiu manter as coisas certinho. Organizei, chamei os meninos, arrumei quem precisava, fiz pacto com Vitin e Finin — meus irmãos da Rocinha que somos aliados e que me ajudaram a segurar a porta quando eu tava fraco. Vitin é o dono, Finin o braço direito dele o Sub e irmão de sangue — os dois com sangue quente e lealdade de família. A Rocinha e o Jacarezinho deram as mãos porque a força tem que se somar, não só eles, mas todos os morros aliados. Juntos decidimos que proteger era mais que atirar; era garantir escola, comida, atendimento. VAMOS LÁ MENINAS LIVRO NOVO, META 50 COMENTÁRIOS, E NÃO DEIXEM DE COLOCAR NA BIBLIOTECA DE VOCÊS.
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