Respostas

1639 Words
-Achei que havia dito para estar pronta! - acordei com uma voz rouca em meu ouvido.  Abri os olhos lentamente ainda um pouco grogue, até perceber no meu campo de visão um rosto fino com olhos verdes sobrenaturais. Dei um grito e me sentei em um pulo, puxei o lençol sobre o peito e o encarei furiosa.  Eu estava tão cansada mais cedo, que deitei na cama nua mesmo. Dimitri revirou os olhos e caminhou até o armário e o abriu. Sem o olhar muito puxou um vestido qualquer e o jogou sobre a cama aos meus pés.  -Vista-se, você tem 15 minutos.  -Saia do meu quarto! - gritei enquanto ele já fazia exatamente o que eu havia pedido. Suspirei aliviada ao perceber que havia sentido frio e que por isso estava toda coberta. Vesti o vestido rapidamente e corri para preparar uma mala com roupas e coisas mais básicas. Por sorte já havia viajado diversas vezes ao lado de minha mãe, por mais que antes eu não lembrasse, agora as memórias apareciam vividas pra mim. Algumas mais do que outras.  Minha mãe!  Ela passou anos pesquisando e procurando as Temerazi, ela deve ter algo de útil guardado. Corri para o escritório no qual ela trabalhava e comecei a revirar os papéis e as pastas.  -Já deu o tempo, pode parar de me enrolar, vamos! - falou Dimitri autoritário.  -Calma! -falei. Esse tom autoritário dele já estava começando a me tirar do sério, ele podia até ser um dos "Donos do Conhecimento Supremo" mas eu sou uma Temerazi, eu tenho o sangue marcado pela joia que ele tanto deseja. Isso devia me fazer ser um pouquinho mais importante que ele não é? Bem, eu espero que sim porque detesto que me tratem como criança. -Minha mãe passou séculos procurando e pesquisando as Temerazi, alguma coisa de útil deve ter por aqui.  Dimitri andou rápido até onde eu estava e começou a me ajudar. Pelo menos quantos as joias ele me ouvia. Pegamos tudo que parecia relevante e saímos.  Ele caminhou até um carro preto lindíssimo, que eu definitivamente nunca vi na vida, e olha que eu tive séculos para conhecer muitos carros. Algumas pessoas na rua paravam rapidamente para tirar fotos do veículo e logo saiam as pressas em uma tentativa falha de disfarçar que em algum momento pararam para tirar foto de um carro que não era delas.  Dimitri abriu a porta do carro para mim e acenou para que eu entrasse. -Por gentileza, senhorita! - eu entrei no carro. Ele fechou a porta e correu para o lado do motorista.  -Então, por qual das civilizações abençoadas iremos começar? - perguntei enquanto ele manobrava. Ele fez uma careta quando mencionei a palavra abençoada e então balançou a cabeça em negativa, como se a minha definição para as civilizações que receberam as Temerazi, não fossem nem de longe abençoadas. Aquilo me magoou, mas decidi relevar.  -Egito! -disse ele.  -Eu estive lá com a minha mãe mas não me lembro de sentir o chamado.  -Cada Temerazi emana uma energia diferente, talvez não esteja identificando pois o chamado da Temerazi egípcia não é nada parecido com o da Temerazi Atlante. -aquilo me pegou de surpresa.  -Então como vou identificar? Como vou saber... -Vai saber! - ele me interrompeu sem tirar os olhos da rua por onde agora dirigia - Você tem que saber!  Recostei-me no carro inconformada. Um silêncio constrangedor se seguiu até o aeroporto. Ele começou a entrar em uma ala que eu nunca tinha percebido antes. Ele estacionou o carro, abriu o porta malas e puxou a minha mochila e a dele.  Dimitri nos guiou até uma porta que destravou quando ele descansou seu dedo por um leitor digital. Ele a empurrou para que eu passasse na frente e logo eu estava dentro de um enorme hangar e no meio dele estava um jato prateado que todo ele estava desenhado com marcas e símbolos em cinza escuro que muito me lembravam a minha língua Atlante, mas não era a mesma coisa, tinha algo de diferente nas curvas e nos símbolos. Se eu ficasse ali por mais algumas horas, poderia decifrar o que estava escrito.  -Vai ficar parada aí, majestade? - perguntou Dimitri com as mãos na cintura me esperando na pequena escada de cinco degraus que dava para o interior do jato. Revirei os olhos.  - Você no cemitério era bem mais... - qual seria a melhor palavra para defini-lo? - cortês. Gostava mais daquele cara. - alfinetei enquanto caminhava até a escada que logo comecei a subir.  -Foi por isso que me empurrou e saiu correndo? Por que eu fui muito cortês? - ele cruzou os braços e abriu um sorriso sarcástico. - parei de frente para ele na escada e o olhei de perto. Aquela reação ainda era um mistério para mim, um Supremo não deveria me parecer assustador. Pelo contrário, fomos sempre ensinados sobre o quanto eles eram nossos aliados e como mereciam ser bem recebidos e recompensados sempre. Então por que o meu instinto não seguiu os preceitos de minha cultura? -Na verdade, eu não sei o porque. Era como se algo dentro de mim gritasse que você... que a sua presença significava perigo pra mim. - seu sorriso sarcástico vacilou, e o ar brincalhão deixou seus olhos que começaram a brilhar como esmeraldas contra o sol, exatamente como haviam me ensinado. Estreitei os olhos. Algo estava errado!  Eu devia tomar cuidado, havia algo que Dimitri não me contava, e não me parecia que seria algo de bom. Soltei um sorriso leve e cínico.  -Mas deve ser coisa da minha cabeça não é mesmo?  -Sim, de fato, majestade! - disse ele sério e frio como uma estátua sem sequer desviar os olhos dos meus. Ficamos analisando um ao outro por um tempo até que a expressão de Dimitri relaxou e ele começou a prestar mais atenção na minha boca, me afastei dele e segui para dentro do jato, sumindo rapidamente de seu campo de visão.  O interior do avião era todo padronizado em branco e bege, havia um corredor lago e poltronas viradas umas para as outras. Fui até uma a direita e me sentei. Dimitri entrou pouco tempo depois e se sentou do outro lado do corredor. O comissário de bordo fechou a porta, verificou nossos cintos e desapareceu por uma porta nos fundos do avião. -Então vocês, Supremos, o que são? Divindades? Mutantes? Anjos? -Somos o que vocês chamam de alienígenas. - eu o olhei de olhos arregalados.  - O QUE? - ele tinha toda a minha atenção e pareceu perceber que não se livraria dela tão cedo, então respirou fundo, inclinou a poltrona para deitar e se virou de lado para que pudesse ficar de frente para mim.  -Meu planeta fica há 10.000 anos luz daqui. Mas passamos por três buracos de minhoca no trajeto, o que reduz a nossa viagem a 10 anos.  -Ainda assim é bastante tempo. -falei. Dimitri deu de ombros indiferente. - Não para quem envelhece devagar como nós. -disse ele. O avião começou  a se movimentar e ele ajeitou logo a poltrona para a vertical. Ergui uma sobrancelha, será que os voos no planeta dele também exigiam essas regras de segurança? Logo que o avião se estabilizou. Dimitri voltou para a posição anterior.  -Como é o seu planeta? - perguntei. Ele deu um meio sorriso revelando um covinha na bochecha direita.  -Não tem tanto mar como na Terra, o que é uma lástima porque ver o azul de longe é uma visão de tirar o fôlego. Mas tem muito verde pois nos adaptamos a equilibrar desenvolvimento com sustentabilidade, temos prédios altos cobertos por plantes e muitos rios de água azul e cristalina que cortam nossas cidades, então quando você o vê do universo, é como se ele estivesse marcado por milhões de veias azuis. - inclinei minha cadeira e fiz como ele, eu estava encantada com a beleza que esse planeta, em sua essência, também devia ter.  - E como se chama? - perguntei.  -O nome dele é Alma Mater que significa... - Mãe que alimente! - completei. Ele sorriu e assentiu uma vez.  -Isso mesmo, mas o chamamos só de Mater. -Isto é latim! - constatei surpresa - Foram vocês que trouxeram esta língua pra cá?  -Este é um grande mistério até mesmo para nós. Mas quando os Maternos descobriram a Terra se surpreenderam ao perceber que falavam a mesma língua apesar de com algumas poucas diferenças. Foi um dos motivos para eles terem escolhido este planeta para deixar as Temerazi.  -Mas... como?  -Temos uma teoria de que nossas origens se cruzaram em algum momento da história. Pois ambos os povos, em sua maioria, acreditam em um criador do universo, não achamos que isto seja mera coincidência. -assenti.  -Você algumas vezes fala de um jeito super antiquado e outras não. Por que?  -A última vez que Maternos estiveram na Terra foi durante a Primeira Guerra Mundial, os registros de estudo sobre, linguagem, comportamento e cultura que eu treinei e estudei são daquela época, mas pode ficar tranquila pois estou me adaptando à vida contemporânea. - eu ri.  -Não sei se gostaria disso. - ele ergueu as sobrancelhas.  -E por que?  -Porque você agindo dessa forma faz com que eu me sinta mais... normal. - aquilo o deixou ainda mais confuso.  -Por que quer ser normal?  -Não quero! - falei. -Ser uma Temerazi faz parte do que sou, mas ter alguém mais como eu por perto me traz certa serenidade. Mesmo que você não seja um Atlante... entente? - ele sorriu.  -Sim, entendo! - ele abriu a mochila e puxou um casaco de dentro antes de se virar para mim novamente.- Sanei suas dúvidas.  -Ainda tenho muitas perguntas, mas por enquanto isto basta. -disse já me virando para o lado oposto e me preparando para dormir. 
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