Luto

1253 Words
Capítulo 1 As pessoas me abraçavam e me desejavam seus sentimentos enquanto eu olhava para o túmulo fechado e me perguntava o que seria de mim sem ela. Ela era tudo para mim, e tudo que me restava. Ajoelhei-me em frente a lápide com seu nome. “Descanse em paz, Jocelyn Amarantos.” Depois que as pessoas se dispersaram eu permaneci ali, ajoelhada olhando para o horizonte sem conseguir acreditar. Encostei minha testa na pedra fria e deixei que os sentimentos me atingissem como uma navalha que me cortava ao meio. Eu lutava, lutava para buscar e me apegar a todas as memórias que eu podia ter dela, mas tudo parecia pouco, eu queria poder saber mais. Entender quem ela foi de verdade, porém minha avó sempre foi muito reclusa e discreta. Pouco falava sobre como era a sua vida quando jovem. Aquilo doía tanto, não conseguir alcança-la, compreender quem ela foi antes de mim. Eu não conheci meus pais, tudo o que eu tinha e conhecia deles veio da minha avó. A única foto que eu tinha com da minha mãe era um quadro pintado com sua foto me segurando nos braços em frente às pirâmides do Egito. Vovó Jo me contou que eu estava na creche quando a casa de meus pais foi incendiada. Perdemos tudo o que tínhamos, fotos documentos, tudo. E se eu pouco sabia da minha mãe, muito menos eu sabia do meu pai, que morreu antes de eu nascer. O que será de mim agora? Uma mão quente tocou em meu ombro e fez com que eu despertasse do meu torpor. Ergui minha cabeça e dei de cara com um jovem de cabelos cor de bronze e olhos verdes tão profundos que nem pareciam naturais. Ele tinha rosas brancas em sua mão esquerda e vestia um terno preto. -Boa tarde, moça! Precisa de ajuda? Está aí há horas e daqui a pouco irá escurecer. Olhei ao redor e de fato, o céu já começava a adquirir um tom alaranjado. Respirei fundo e me levantei lentamente, batendo as saias pretas para afastar a terra. -Eu estou bem obrigada é...- o olhei sem saber bem como chama-lo. Ele pareceu compreender a minha confusão. -Dimitri! – disse ele. Assenti e suspirei. -Bem... obrigada, Dimitri, mas preciso ir. – falei pegando minha bolsa do chão e começando a caminhar em direção ao portão. Dimitri apressou o passo para me acompanhar. -Quer que eu a acompanhe? Perdoe-me a intromissão, mas você não parece muito bem.- parei de andar no mesmo instante. Esse cara fala de um jeito tão estranho,... tão... formal? O garotos da minha idade não falam assim, ele parece ter minha idade. Um flash branco forte brilhou em meus olhos e eu cambaleei. A imagem da minha avó na cama de hospital e sai voz me atingiram como um soco. “Eles são os donos das joias” Uma outra voz dentro de mim parecia gritar em meu peito. “Os Donos do Conhecimento Supremo” Dimitri me segurou pelo cotovelo e tentou me firmar. -Você está bem? – o flash foi diminuindo e aos poucos eu fui voltando ao normal. Bem, pelo menos é o que eu acho. Uma dor de cabeça terrível parecia me partir em duas. -Desculpa, eu preciso ir! – falei puxando meu braço de seu aperto firme. -Não posso permitir que parta neste estado. -disse ele pegando em meu braço mais uma vez, sua mão agora parecia queimar como fogo em minha pele. O empurrei com força e comecei a correr. O coração disparado martelando em meu peito, por sorte tinha um táxi na porta do cemitério. Definitivamente eu não queria parar para esperar um Uber. -Senhorita, espere! Acalme-se! Não vou lhe fazer m*l algum. Por favor, deixe-me lhe passar o meu contato, para você ao menos avisar se chegou bem ou se precisar pedir socorro a alguém mais próximo. -disse ele. Como eu era i****a, ele só estava tentando ser gentil e é óbvio que estava no cemitério porque também havia perdido alguém. Talvez estivesse fazendo algo que gostaria que fizessem por ele. Suspirei. -Desculpe, meu nome é Luna Amarantos! -saquei logo meu telefone da bolsa e perguntei seu número, afinal se eu de fato precisasse de ajuda, não tinha mais ninguém com quem contar de fato. E de alguma maneira ele parecia sentir isso.  Ele me passou seu contato e disse para não hesitar em procurá-lo se precisar de socorro. Eu agradeci a gentileza e entrei no táxi. Ele acenou para mim e por um segundo tive a sensação de que seus olhos verdes brilharam em um verde florescente. Esse cara é mesmo muito estranho, ou será que sou eu que estou ficando louca com o luto? Um meio sorriso brincou em meus lábios,  eu acenei para ele. -Eu vou ficar bem, Dimitri. – falei ainda um pouco receosa com a conclusão de se eu estava de fato bem. Ele sorriu para mim e assentiu. -De qualquer forma, Dimitri Bertoliny, ao seu dispor! -disse ele meneando levemente a cabeça e fazendo um movimento como se tocasse em um chapéu invisível. Falei o endereço para o taxista e ele acenou com a cabeça. Um calafrio me atingiu na espinha e o carro deu uma guinada entrando em movimento. Passei as mãos pelos meus braços arrepiados tentando afastar a sensação. A dor de cabeça aumentou. “Os Donos do Conhecimento Supremo” A dor de cabeça aumentava sem parar, eu não estava suportando. Corri para a caixa de remédios e busquei enlouquecida um analgésico. O tomei rapidamente respirei fundo e sentei na poltrona laranja. Respirei fundo e massageei a testa. “ Me prometa!” a voz de minha avó soou forte e estridente em minha cabeça. Abri os olhos e olhei para a porta do quarto. Suspirei e caminhei em direção ao cômodo que antes me era tão familiar e acolhedor, e que agora, me provocava calafrios na espinha. Girei a maçaneta e entrei. “Tem um cofre escondido embaixo de minha cama entre os pisos de madeira” Ajoelhei-me ao lado de sua cama e me abaixei para olhar, mas não havia nada. Minha avó devia estar alucinando quando me falou deste cofre antes de falecer. “A senha é por comando de voz e é Yatziri Temerazi.” Revirei os olhos para o pensamento, afinal tudo aquilo parecia surreal. Cansei de limpar o quarto de vovó e nunca vi nenhum cofre, mas eu havia feito uma promessa em seu leito de morte não é mesmo? “Prometa!” Bufei. Não vai me m***r dizer duas palavras, mordi os lábios e me preparei. -Yatziri Temerazi. – um som como se um computador estivesse ligando começou a soar. Dois pisos se ergueram e chegaram para o lado, revelando um cofre do tamanho de uma caixa de joias e que se abriu com um “click”. Envolvi minhas mãos na pedra que brilhava um claro azul turquesa. Ela estava conectada a um colar de prata. Observei a pedra com atenção, de um jeito muito estranho, ela parecia me chamar. O envolvi em meu pescoço e estranhamente ele fechou sozinho e se ajustou ao meu pescoço. E então um feixe de luz branca e forte brilhou diante de meus olhos. Milhões de imagens e memórias começaram a passar rápido por minha cabeça. Minha cabeça começou a queimar. O que está acontecendo? O que está acontecendo comigo? E então acabou, eu vi o mundo girar ao meu redor seguida pela escuridão, e então nada mais.  
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