Casada como Punição

Aika Leila e Azamat sabiam desde os seis anos que iriam se casar e hoje chegou o dia. As famílias não concordaram com o casamento na infância, principalmente brincavam sobre isso, mas no final tudo deu certo como previsto. Há seis meses ficou claro que haveria um casamento, mas agora olho para a primeira dança deles e não consigo tirar os olhos. E ainda não consigo evitar o choro. Deliciada, estendo os dedos até a boca entreaberta, com a mão trêmula, filmando no celular minha amada e incrivelmente linda amiga em um vestido branco ofuscante. Claro que tem cinegrafista no casamento e isso é supérfluo, mas não consegui me conter. Tudo está maravilhoso demais. Leila tem postura de ginasta, pescoço comprido e braços graciosos. Não adianta falar da sofisticação de seu vestido e da impecabilidade de sua maquiagem e penteado. Amo minha amiga, mas isso não me impede de me sentir como um patinho feio ao lado dela e de endireitar as costas sem parar. Também costumam me dizer que ela é linda, e isso me faz sentir ainda pior. E o meu coração está partido de ciúme por ela não ser mais só minha. Azamat levou o meu amor. Partiu meu coração, esse canalha. Mas a verdade, é que se alguém merece estar ao lado da minha garota, é só ele. A dança dos noivos termina, a névoa branca sob seus pés começa a se dissipar, pressiono stop, salvando o vídeo, que assistirei metade da noite, enchendo o meu travesseiro de lágrimas, e então bato palmas e grito alto, expressando a minha sincera alegria com o casal, até que ouço uma voz calma atrás de mim. papai: — Kyzym... Eu sei o que isso significa quando combinado com um olhar suplicante. “Fique quieta, filha.” Suspiro e abaixo o meu olhar junto com minhas mãos cobertas de hena. Tenho o melhor pai do mundo, mas não correspondo às expectativas dele. Ele é alto, tem um temperamento duro e ainda não sabe... Ah... Olho para as minhas mãos, me distraio e lembro com um sorriso que noite incrível e simplesmente mágica que foi ontem! Adoro as tradições do meu povo. Eu sei que as minhas amigas da escola e da universidade fazem sua última caminhada antes do casamento de forma diferente. Vão num bar de strip-tease, ou num spa. Elas bebem champanhe, e vão à discoteca, mas no nosso país o nikah as celebrações de casamento são precedidos de uma noite de henna. Parece-me que o cheiro de ervas e especiarias ainda faz cócegas em minhas narinas, uma risada feminina está em meus ouvidos e meus dedos estão cobertos de delicados padrões delicados. Um desejo de um casamento feliz e duradouro está desenhado em cada linha. Eu sorrio mais e tremo. Espero que esses desejos se tornem realidade. Como, sentindo que estou pensando nele, Marcos me lembra de si mesmo com uma mensagem. Abro naquele exato momento, me sentindo uma criminosa. Você virá até mim se eu for? Os meus olhos se arregalam de medo e indignação, e o calor atinge as minhas bochechas. Quero responder: Não, do que você está falando! É proibido. Mas ele ficará ofendido, então hesito e pondero. Olho ao redor do enorme salão de casamento. Nem consigo acreditar que algumas horas antes todos estavam aqui, olhando para baixo, enquanto o imã executava o nikah. Agora tanto os jovens como os mais velhos se divertem, comem, dançam, riem e parabenizam os noivos. Eu olho para minha mãe, ela está na companhia de suas amigas. E o meu irmão mais velho, Bekir está com a galera. Como sempre, muito sério, dedilhando o rosário. No último ano, para aumentar sua autoridade diante do meu pai, ele se aprofundou no estudo do Islã. Agora ele tem uma barba preta um pouco assustadora, aquelas mesmas contas do rosário, um olhar carrancudo, muitas vezes inicia conversas que são sérias demais para mim e faz orações cinco vezes ao dia. Estou feliz por ele, mas provavelmente também não sou madura o suficiente para entender. Estou me equilibrando entre o desejo de ser filha de um papai diligente e pelo menos não me decepcionar letalmente. Volto ao telefone e digito: Vou sair, mas não por muito tempo. Você escreverá quando chegar? Marcos dá um joinha na minha postagem e agora estou três vezes mais preocupada. Tento me distrair com o haitarma (nossa dança nacional) ardente e moderadamente engraçada, mas de vez em quando meus pensamentos voltam para Marcos. Nós nos conhecemos há um ano e meio na universidade. Atualmente estou no terceiro ano da faculdade de medicina. Ele é formado em dentista. Como o próprio Marcos admitiu, uma beleza tão brilhante não pôde deixar de partir o seu coração. E tenho o prazer de ouvir sobre isso todas as vezes. Ele, é claro, não é kyrymly (tártaro da Crimeia). E este é o meu grande problema. Mas você não pode ordenar o seu coração, certo? Resisti aos seus avanços por muito tempo e acabei cedendo. Agora só me resta torcer para que tudo fique bem conosco. - Aika, por que você está tão rosa? Se apaixonou? Ou você está pensando em como roubar Leila de Azamatik? — Aishe, minha amiga surge por trás de mim. Ele brinca, me empurrando no ombro, e eu rio (mais baixinho, para não receber outro comentário do meu pai) e balanço a cabeça. Chegará o momento em que todos saberão tudo sobre Marcos e eu, mas é muito cedo. Mesmo que eu tenha me apaixonado por alguém que não é do nosso povo, acredito que seguiremos o caminho certo. Quase. Porque começamos errado. Mas costumo contar-lhe muito sobre as nossas tradições. ‎ ‌​​​‌‌ ​‌‌​‌​‌​ ​​