Laís narrando
Já estávamos no quinto prédio, minhas pernas estavam doloridas. As meninas ainda estavam no pique, claro, não carregavam duas crianças em suas barrigas.
— Espero que seja esse. — saímos do elevador em direção ao apartamento.
O apartamento ficava no terceiro andar, em cada um havia dois apartamentos. O que estava à venda era o número quatro.
Adentramos o apartamento com expectativa. Começamos pela cozinha. Era um tamanho razoavelmente bom. Os armários sob medida, uma coisa a menos para me preocupar. Ela era separada da sala por um balcão que ligava em uma parede. Havia uma mesa de seis lugares.
O espaço da sala era bacana. Como a minha televisão seria embutida na parede, iria ocupar menos espaço.
O banheiro do corredor era de um tamanho bom. Não havia nenhuma mudança para ser feita.
Haviam quatro quartos, sendo um uma suíte. Um dos outros era maior, lá seria o quarto dos bebês, ficando ao lado do meu.
— Irei comprá—lo. — avisei ao dono do imóvel.
— Você pode pagar em quantas vezes? — perguntou.
— Cinco? — perguntei.
— Ótimo. — concordou. — Podemos passar os papéis para o seu nome.
Ele colocou os papéis que precisava assinar em cima da mesa. As meninas estavam felizes por mais essa conquista minha. Quem não gostaria nada dessa minha ideia seriam os meus pais.
— Pronto. — apertou a minha mão e me entregou as chaves.
Nós pegamos outro táxi para voltar. Elas ficaram em suas casas, precisava contar a novidade para a minha família.
Meus pais estavam sentados no sofá quando cheguei. Aproveitaria a oportunidade.
— Como foi a tarde com suas amigas? — mamãe perguntou empolgada.
— Emocionante. — respondi, sentando—me na frente deles.
— Que cara de quem aprontou é essa Laís? — papai me conhecia melhor do que ninguém, talvez se lembrando de quando eu era mais nova.
— Comprei um apartamento. — contei rápido, eles estavam parados feito estátuas.
— Você o que? — mamãe começava a andar de um lado para o outro.
— Eu precisava... Não quero depender de vocês para sempre. — expliquei.
— Você está gravida de gêmeos. — papai explodiu.
— Eu sei, mas é aqui perto. — contei.
Eles se entreolharam nervosos com a minha atitude.
— Quero que me ajudem a mobiliar o lugar. — pedi. — Quero me mudar essa semana.
A cada frase dita eles pareciam ficar ainda mais preocupados.
— Você está nos deixando loucos. — papai suspirou. — Mas você é de maior, espero que saiba o que está fazendo.
Naquela noite eles ficaram um pouco mais calados do que o normal. Contaram para dona Margott que acabou fazendo o mesmo escândalo que eles. Ela prometeu que iria três vezes por semana para me ajudar a limpar a casa e deixar algumas refeições prontas.
— Gostei desses daqui. — apontei para dois berços iguais, na cor cinza. Eles estavam com colchões e cobertas, mas falei que só iria levar os berços com colchões, não sabia qual era o s**o dos bebês.
Comprei todos os móveis necessários, além de ganhar alguns dos meus pais e das minhas amigas.
Arthur não havia aparecido mais. Heitor falou que Vanessa estava o deixando bastante ocupado nesses últimos dois dias.
— Preciso te apresentar uma pessoa. — Maria Eduarda chegou de mão dada com um rapaz, essa não sossegava mesmo. — Esse é o Pedro.
— Sou a Laís. — apertei sua mão.
— A Duda fala muito bem de você. — sorrio.
— Espero que fale mesmo. — brinquei. — Quanto tempo estão juntos? — fazer o que era curiosa e além disso ela era a minha melhor amiga.
— Faz seis meses que estamos juntos. — Duda interferiu.
— E por que só estou sabendo disso agora? — perguntei fingindo estar irritada.
— Porque não queria te causar mais preocupações. — Pedro nos olhou confuso, mas eu sabia bem do que ela estava falando.
A Duda nunca foi menina de namorar, normalmente os rapazes não a aguentavam. Por ser grossa? Chata? Irritante? Teimosa? Carinhosa? Companheira? Eram diversos os defeitos e qualidades, mas nunca era o suficiente.
— Espero que faça essa menina muito feliz. — pisquei.
— Estou fazendo. — beijou a testa da minha amiga e pude ver suas bochechas corarem.
Já havia se passado uma semana desde que estava morando no meu novo apartamento. Era estranho muitas vezes me sentia sozinha, porém normalmente uma visita nova chegava e me tirava do tédio.
Dona Margott cumpriu com o que prometeu. Veio três dias na semana me ajudar a limpar a casa e fazer alguma comida nova.
— Estou louca para pegar seu bebê no colo. — contou, estávamos almoçando juntas.
— Imagina como estou? Quero que saiam de uma vez. — brinquei.
— Posso fazer uma pergunta? — ela estava sem jeito. Sabia que a pergunta seria pessoal.
— Claro. — assenti.
— Ficou chateada com Arthur? — perguntou.
— Por ele estar namorando? — ela assentiu. — Não vou negar que havia criado expectativas e pensei que não seria tão rápido, mas está tudo bem. — sorri.
Quando chegou o momento de dona Margott ir embora, fiquei sozinha novamente.
Estava cansada, mas não o suficiente para dormir. Preparei uma pipoca de microondas e sentei em frente a televisão.
Estava passando o filme O Menino de Ouro, chorei com todo o sentimento de mãe. Imaginei—me no lugar da mulher e se caso algo viesse acontecer aos meus filhos.
O filme conta a história de um casal que perde o filho em um acidente. A empresa do marido está falindo e eles já não tem esperanças quando um menino aparece na porta da sua casa.
Muitos fatos vão acontecendo, como por exemplo, eles adotam essa criança. Aos poucos a alegria de viver vai retornando para os seus corações. Uma das partes mais tristes é o final, que também não deixa de ser bonito.
O menino era um anjo. Na verdade ele nunca existiu. Olharam as fotos, só haviam os dois, o menino havia desaparecido. Mas ela fica gravida e a empresa volta a funcionar como nunca antes.
— Vocês tem uma mamãe chorona. — acariciei a minha barriga, os sentindo retribuírem com pequenos chutes.
— Como vocês estão? — perguntei.
Estava sonolenta demais para ir até o quarto. Aconcheguei—me no sofá da sala e continuei assistindo televisão.
Não estava mais aguentando ficar com os olhos abertos. Aquelas crianças realmente me deixavam cansada.
O bom é que não estava frio, não havia pegado nenhuma coberta e não estava nenhum pouco afim de levantar para buscar.
[...]
Acordei de madrugada sentindo fortes dores na barriga. Por sorte o telefone estava ao lado do sofá e consegui alcançá—lo. Faltavam dez dias para os bebês nascerem, poderia ser apenas um alarme falso.
Tentei ligar para os meus pais, nenhum sinal deles.
Liguei para a Maria Eduarda, quem sabe seu namorado ou seus pais pudessem me buscar, mas ninguém atendeu.
Minha terceira opção foi Heitor, por mais que ele não tivesse carro, poderia pedir ajuda para dona Margott.
Mas para que diabos as pessoas tinham celular se não atendiam?
Minha ultima opção era ele. Não queria atrapalha—lo, ainda mais porque ele poderia estar com a sua namorada.
No quinto toque ouvi uma voz de sono.
Senti algo escorrer no meio das minhas pernas, minha bolsa havia estourado.
— Laís? — Arthur havia marcado o meu número.
— Preciso que você venha me buscar. — pedi.
— Onde você quer ir uma hora dessas? — parecia m*l humorado.
— Estou entrando em trabalho de parto. — gritei.
— Calma, eu já estou indo. — gritou de volta.
Como estava usando um vestido, apenas sequei—me no banheiro. Terminei de arrumar a minha bolsa e dos bebês. Arthur estava demorando demais para chegar aqui.