Capítulo 03

1301 Words
Laís narrando Fiquei desapontada por não ter sido encontrada. A carta já havia sido enviada segundo Hugo e o mesmo falou que não deveria me preocupar a não ser que estivesse esperando por uma resposta. Claro que a primeira coisa que fiz foi fingir que não era isso e que só estava curiosa para saber se eles tinham a recebido. Após isso não toquei mais no assunto, não queria que ele desconfiasse do meu plano. Faltava apenas um mês para o meu bebê vir ao mundo. O que mais me intrigava é que durante esse tempo todo Hugo prometeu que iria me levar a uma consulta médica e nunca o fez. Ele começou a comprar algumas roupas, fraldas, brinquedos e ursos para o bebê. Como não sabíamos o s**o, por birra dele, comprava tons em amarelo ou branco. Era a noite de sexta—feira, como sempre Hugo saiu para ir a um bar que segundo ele ficava próximo da nossa casa. Não tinha noção de onde estávamos ou da distância dos lugares até nossa casa. Estava dormindo na nossa cama quando ouvi um batido na porta. Acordei assustada, olhando para o relógio ao lado da nossa cama. Marcava exatamente meia noite. Nunca ninguém havia batido na nossa porta. Estava assustada. Não tinha a chave da porta. — Hugo? É você? — perguntei, encostada com o ouvido na porta. — Laís afasta—se da porta, iremos arrombar. — um homem com a voz grossa gritou. — Quem são vocês? — perguntei preocupada. Afinal eles poderiam ser ladrões. Mas espera ai. Como eles poderiam saber o meu nome? — Somos policiais. Por favor afasta—se. — pediu novamente e dessa vez corri para o outro lado da porta. Finalmente a minha ajuda havia chegado. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, finalmente iria para casa e meu bebê nasceria em um bom lar. — Está tudo bem. Você precisa vir conosco. — pediu, levando—me para fora e encostando a porta rapidamente. No caminho até uma van da polícia que me esperava do lado de fora, totalmente disfarçada com papéis de propaganda eles me explicaram como funcionaria a prisão do Hugo. Assim que ele chegasse sentiria a minha falta e os policiais entrariam deixando ele sem opção para fugir. De longe conseguia ver a casa, agora percebia o quanto o lugar era longe de tudo. — Vocês receberam a carta? — havia uma mulher ao meu lado, e um distintivo em seu peito. — Sim. Nos mandaram para cá. — explicou. — Como souberam do Hugo? Que ele estava exatamente aqui? — eram tantas perguntas. — As pessoas da cidade, elas comentaram sobre um garoto estanho que estava procurando emprego, dizia que precisava porque sua mulher estava gravida. — explicou. — Algumas lojas onde ele comprou as roupas também o descreveram para nós. — Ele chegou. — um dos policiais avisou. Já estavam posicionados do lado de fora, porém escondidos atrás de árvores e matos. Hugo estava visivelmente bêbado. Por um momento senti um forte aperto no coração e lembrei—me de tudo que vivemos quando mais novos. De todos os sonhos que havíamos imaginado e nas nossas expectativas para o futuro. Meus olhos estavam cheios de lágrimas ao vê—lo entrar quase caindo na casa. As luzes foram acesas e mesmo de longe conseguia ouvi—lo gritar meu nome. A essa hora já havia percebido a minha ausência. Os meus soluços foram percebidos pela moça que abraçou—me sem jeito, dando leves tapas na minha costa. — Você não deve sofrer fortes emoções. — aconselhou—me. — É difícil. Cresci com ele ao meu lado. — tentava parar de chorar, mas na realidade meu coração estava ainda mais dolorido. — Nós iremos pegar o primeiro vôo para o Brasil. — avisou. Vi os policiais saírem da casa com Hugo algemado. Meu coração não precisava mais aguentar tanto sofrimento. O pai do meu filho ou filha estava sendo preso. Como iria explicar para ele ou ela que seu pai estava na prisão? Encontrei o seu olhar vindo na minha direção, sabia que não estava me enxergando pela película que havia na van, mas era como se enxergasse a minha alma. Estava com lágrimas nos olhos, provavelmente pelo efeito da bebida. — Está pronta? — perguntou assim que adentramos o avião. — Estou com saudade da minha família. — contei. — Todos estão sentindo a sua falta. — contou. Dormi durante o voo. Pegamos dois aviões no total. O primeiro parou em São Paulo e o segundo no Rio de Janeiro que era onde eu morava. O primeiro passo que dei em terra firme me deixou chorosa. Os hormônios em relação a gravidez ajudavam ainda mais. Assim que sai pela porta do desembarque dei de cara com os meus pais. Eles pareciam ansiosos e assustados. Assim que seus olhos se encontraram com os meus, desabamos a chorar. Nos abraçamos, eu estava posicionada no centro. Os dois diziam palavras em meio aos soluções e não conseguia entender nada além de "sentimos sua falta", "amamos você". Talvez nós tenhamos ficado um tempo no aeroporto com troca de carinhos e choros. Mas na verdade nós precisávamos disso. — Cadê os outros? — perguntei. — Dona Margott, Heitor e Arthur? — Eles não sabem que está viva. Ninguém sabe além de nós dois e da polícia. — mamãe respondeu. — Como está o bebê? — papai perguntou. — Estava pensando em fazer uma consulta, mas não quero saber o s**o. — pedi. — Podemos te levar na segunda—feira. — mamãe comentou. — Agora precisamos ir para casa, você tem que descansar. — papai estava certa, a dor nas costas estava me matando. Assim que cheguei em casa, após horas dentro do avião 12h no total. Precisava de um banho e dormir. Era exatamente três horas da tarde. Por mais que tivesse dormido no avião não era a mesma coisa. Meu bebê não queria deixar a mamãe dormir o que me incomodou um pouco após o banho, mas nada que durasse uma eternidade. O meu corpo estava relaxando aos poucos, acostumando—se com a minha cama novamente. Como sentia saudade daquele lugar. Até dormindo a calma se estabilizava, deixando o meu sono melhor. [...] Ouvi um toque na porta, acabei acordando do meu sono que estava cada vez mais leve. Quem sabe se acostumando com a ideia de ser mãe e ter que acordar de madrugada. — Entre. — sentei, aconchegando—me no meu lugar. Dona Margott entrou com uma bandeja em mãos. Seus olhos estavam vermelhos, assim como o seu nariz. — Não acreditei quando me falaram que estava aqui. — soluçou alto, deixando a bandeja no pé da cama, vindo até a minha direção. A primeira coisa que fez foi me abraçar, com toda a saudade que estávamos uma da outra. Um ano não seria o suficiente. — Você vai ser mãe. É tão nova. — acariciava a minha barriga com calma. — Também fui pega de surpresa. — concordei. — Mas estou feliz. — Nossa, seus pais conseguiram esconder perfeitamente. — comentou. — Como ele ta? — perguntei, referindo—me ao Arthur. Seu rosto estristeceu—se. — Arthur seguiu sua vida. Você sabe, todos achávamos que você estava morta. — respondeu, fazendo—me chorar. — Ele achou alguém? — perguntei, querendo saber mais detalhes. — Ela se chama Vanessa. Foi compreensiva, sabe de você. Ele precisava disso. — explicou. Não poderia culpá—lo. Mas doía saber que ele já estava com outra pessoa. Agora precisava me dedicar ao meu filho que estava para chegar. Iria manter a minha cabeça ocupada. Assim, poderia pensar em outras coisas, me distrair um pouco. Mesmo porque ele não aguentaria ocupar esse lugar, não ele.
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