Laís narrando
O sábado passou tranquilamente, ficamos em casa, já que precisava de repouso. Eles estavam combinando uma festa que iriam fazer no domingo para comemorar a minha volta.
— Todos irão ficar surpresos. — papai afirmou.
— Não vamos falar o motivo da festa. Eles irão pensar: "como eles dão uma festa com a filha morta, em menos de um ano?". — mamãe riu com o seu próprio comentário.
— E como tudo vai acontecer? — perguntei.
— Você ficará no andar de cima até que lhe chamemos. — mamãe explicou.
Estava um pouco ansiosa com essa festa. Iria reencontrar muitos amigos dos quais eu estava com saudade. Algumas pessoas da minha família. Aposto que eles irão ficar surpresos com a ideia de eu estar gravida e com uma barriga enorme.
Não me sentia tão bonita, as roupas não serviam mais. Normalmente vestia um vestido que era a única coisa que restava e servia. Os meus pés estavam inchados, assim como todo o meu corpo.
Dona Margott estava sempre me agradando e fazendo diversos tipos de doces e bolos. Algumas provas para a festa que aconteceria na hora do almoço.
Devem estar pensando e por que não de noite? Meus pais estão ansiosos demais em dar a notícia e não conseguem esperar mais nenhum minuto.
Nesse momento estou saindo do banho, o meu vestido florido que ia até o joelho estava em cima da cama, junto com a rasteirinha.
Era exatamente 11h e alguns convidados já estavam chegando.
— A casa está quase completa. — mamãe afirmou da porta.
— Estou nervosa. — avisei.
— Fique tranquila. Todos irão ficar felizes. — incentivou—me. — Eles estão surpresos, precisa ver a cara deles.
Mamãe estava gostando dessa história de enganar os convidados. Eu, por outro lado estava ansiosa com a notícia de que iria ver todos.
Eles desceram e começaram a conversar com todos os convidados. Não deu nem cinco minutos para que alguém batesse em minha porta.
— Filha? Vamos? — era a mamãe.
Sua mão tocou a minha, apertando a mesma. Senti coragem em continuar descendo os degraus da escada. Todos me olhavam com os olhos arregalados. A única pessoa que procurava naquela multidão não encontrei.
Até que alguém abre a porta.
— Desculpe o atraso. — aquela voz, como eu poderia esquecer?
Seus olhos encontraram o meu, senti vontade de chorar, mas continuei ali feito uma estátua encarando—o.
O clima tenso foi quebrado pela Maria Eduarda que pulou no meu pescoço numa choradeira que não tinha quem a fizesse parar.
— Eu sei... Também senti sua falta... Estou aqui agora. — todos nos olhavam com lágrimas nos olhos.
— Quero ser madrinha. — apontou para a minha barriga, entre um soluço e outro.
O próximo a me abraçar foi Heitor. Ele estava totalmente emocionado, vi que Manu também tinha lágrimas nos olhos e por mais que não fossemos tão íntimas, éramos amigas.
— Você não tem noção do quanto senti sua falta. — abraçou—me ainda mais apertado.
— Heitor sentia falta das nossas conversas todos os dias. — sussurrei em seu ouvido.
— Não sabe quanta choradeira precisei aguentar. — não sabia exatamente a quem ele estava se referindo.
Manu me abraçou e falou palavras de consolo no meu ouvido. Meu amigo com certeza havia encontrado a menina certa para ele.
— Prometo que irei ajudá—la a cuidar. — Manu sorrio, abraçando seu namorado.
Muitos convidados vieram me abraçar, amigos e parentes. Estava um pouco cansada, mas a festa só havia começado. Tinha um abraço em especial que eu precisava receber.
Arthur estava ao lado de uma morena, estavam de mãos dadas. Ela realmente era linda. Aproximou—se com ela ao seu lado.
— Laís essa é a Vanessa, minha namorada. — apresentou—a, a mesma abraçou—me fortemente o que me deixou boquiaberta.
— Arthur falou muito bem de você. — sorrio. — Fico feliz que esteja viva.
Tentei encontrar algum sinal de mentira, mas ela estava sendo sincera ou sabia fingir muito bem.
Arthur me abraçou. Se eu chorei? Não teria como não chorar. Vi que Vanessa foi se sentar com Heitor e Manu nos deixando sozinhos.
— Calma. — pediu. — Você está viva. — apertou as minhas bochechas.
— Estou. — assenti.
— Como te acharam? — perguntou.
— Encontraram o Hugo. Ele está preso. — contei.
— Ele havia te sequestrado? — perguntou sério.
— Sim. — respondi.
— Quero que saiba que a nossa família estará sempre por perto. E sobre a Vanessa... — ele ia começar a falar mas o interrompi.
— Não precisa explicar. — sorri compreensiva. — Você precisava seguir a sua vida.
Fomos interrompidos pelos meus pais que avisam que o almoço havia sido servido. Estava realmente com fome. Enquanto mastigava a minha comida, recebia olhares carinhosos de algumas pessoas.
Pensava em algum nome para o bebê. Estava decidida. Valentina se fosse menina e Bernardo se fosse menino. Ambos os nomes me agradavam. Faltava um pouco menos de um mês para o nascimento.
Estava almoçando tranquilamente. Arthur não sabia disfarçar nenhum pouco. De vez em quando a comida que estava seu garfo caía com toda sua distração.
— Você vai continuar morando aqui? — Duda perguntou ao meu lado.
— Pensei em comprar um apartamento. — respondi. — Mas é segredo. Não quero me aproveitar dos meus pais.
— Eles ficaram um pouco bravos. — falou.
— Sei disso. Por isso só vou contar quando tudo estiver certo.
Enquanto conversávamos sobre a possibilidade de comprar um apartamento, alguns convidados já estavam indo embora.
Arthur foi levar sua namorada para casa, mas prometeu para dona Margott que voltaria assim que possível.
Era perto das quatro horas. Estávamos no sofá da sala conversando, eu, Duda, Heitor e Manu.
— Já pensou em algum nome para o bebê? — perguntou Heitor.
— Pensei em Valentina, significa valente, forte. — comecei. — Ou Bernardo se for menino que significa forte como um urso.
— São nomes bonitos. — Manu comentou.
Heitor comentava na possibilidade de morar com Manu daqui dois anos. Ambos estariam no início da faculdade e gostariam de dividir um apartamento.
— É bacana. Também estava pensado em comprar um para mim. — contei baixinho, não queria que meus pais escutassem.
— Mas agora? — Heitor franziu o cenho, sabia que estaria preocupado comigo e com o bebê.
— Sei que parece estranho, mas não quero dar trabalho para ninguém. — expliquei.
Eles concordaram comigo que talvez seria melhor ter um lar só meu. Não demorou muito para que Arthur chegasse. Ouvi uma conversa em rápida dele com seu irmão, ele estava um pouco nervoso.
— Nós discutimos no caminho. — contou baixo.
— Por causa da Laís? — Heitor perguntou.
— Ela não achou que eu ficaria tão mexido com a sua volta. — explicou.
— Você tem que seguir a sua vida. — Heitor comentou.
— Sei disso. Mas ela está viva! — podia sentir o quão duro era para ele a minha presença.
Não poderia imaginar que tudo estaria tão diferente de quando fui embora.
O que eu deveria esperar? Que ele fosse me esperar a vida toda, mesmo estando supostamente morta?
Tentei focar na conversa entre Manu e Duda, o problema é que a minha atenção ia toda para os meninos ao meu lado.
— Nós podemos conversar em particular? — Arthur pediu.
— Claro. — sorri, e ele estendeu a mão para me ajudar a levantar.
Como estava enorme, era um pouco difícil fazer as coisas sozinhas. Por sorte, muitas vezes havia alguém por perto para me ajudar.
Subimos os degraus aos poucos, indo em direção ao meu quarto. Sabia que a conversa que estava por vir seria bem longa.
Sentei—me na cama, tocando o espaço ao meu lado para que Arthur se sentasse.
Respira fundo e conta tudo.