O sequestro

1560 Words
Levar alguém para outro país, sem documentos, passagens parece algo muito difícil, até impossível, mas se essa pessoa tem influência e dinheiro, esses são só detalhes. — Fala Lucius! Já está com eles? — Senhor Carlos, o menino está saindo da escola, vamos intercepta-lo no caminho, parece que faz todo trajeto a pé. — E minha filha? — Está com a moça na casa, ela não tem uma rotina e não desgruda da menina, será mais difícil fazer isso de forma branda. — Deixa de conversa! Faça o que tem que fazer e traga meus filhos, seu tempo está acabando... Lucius é o homem de confiança de Carlos, jamais pediria a outro algo tão importante, cresceram praticamente juntos a lealdade e amizade era nítida entre os dois. Lucius vigiou aquela pequena família por dias, mas chegou o dia de agir. Lucius seguia com dois homens em um carro preto o menino Ítalo de apenas 11 anos. Ítalo percebeu no primeiro dia que estava sendo seguido e nos últimos dois dias dava uma volta no quarteirão antes de entrar na rua de casa. Com a aproximação do carro Ítalo percebeu que estava em perigo e resolveu parar na padaria que ficava uma quadra antes de casa. Ele se sentou no balcão e pediu um suco, esperava que o carro fosse embora como das últimas vezes. — Mas que merda esse moleque está fazendo? — Lucius disse do carro. Lucius viu a demora do garoto e resolveu entrar na padaria, para vigia-lo de perto. Ele entrou e não tinha como não chamar atenção, era um homem grande e forte, estava de calça jeans azul escuro e uma camisa polo preta, usava óculos escuros, estava bem vestido demais para um homem que frequenta uma padaria de bairro, seus cabelos castanhos e pele clara evidenciava que nem brasileiro poderia ser. — Um café, por favor. — Olá, qual o seu nome? — Me chamo Lucius e você? — Já deve saber, afinal faz dias que me segue, mas acho que hoje eu não tenho mais como escapar. — Como é menino? — Lucius quase engasgou com a resposta de Ítalo. — Vamos ao que interessa. O que quer? Já aviso que não temos dinheiro, minha mãe é viúva, seu marido não lhe deixou muita coisa, ela é professora. E em um país como o Brasil não se ganha tão bem. Então se pensa em um resgate, deve procurar outra vítima. — Car@lho moleque! Você deduziu isso tudo sozinho? — Lucius não conseguia traçar um plano, não podia simplesmente arrasta-lo dali, e o menino parecia ler seus pensamentos. — Bom, acho que não vou conseguir te enganar com doces, então serei direto, vou levá-lo e não, não estou atrás de um resgate. E não pense em correr, sei onde mora, e que Ítalo é seu nome. — Correto, minha família ficará bem? Pretende machuca-las? — Sua irmã vem comigo também, a moça que cuida de vocês... — Mãe, ela é minha mãe! — Ítalo falou com um tom de quem não gostou da referência sem grau de parentesco. — ok! Espero que ela não ofereça resistência em entregar a menina, realmente não quero machuca-la. — Vou com você, e penso no que fazer com a minha mãe, estaremos em perigo? Fará m@l a nós? — Não realmente, vou levá-lo para a casa de seu pai em Londres. — Você é meu pai? — Você faz perguntas demais, moleque! E não sou seu pai, apenas trabalho para ele. Ítalo se levantou e começou a caminhar até o carro, Lucius foi atrás, parecia até o segurança do menino. O soldado no banco da frente dirigiu até a casa. — Menino vou entrar e pegar sua irmã, se comporte, realmente não quero ferir a mo... quero dizer, sua mãe. Lucius entrou com o outro soldado e Ítalo ficou no carro, Lucius deu a volta na propriedade e entrou pelos fundos o outro homem pela frente, assim que localizou Marcela, vacilou o olhar em sua beleza, ela estava de costas colocando a bebê no berço, se virou e soltou um pequeno grito, pegou novamente a criança no berço e se agarrou a ela. — Calma, não quero e não vou machucar você, apenas me entregue a menina! — Sua voz era suave, falava de forma delicada, parecia realmente não querer assusta-la. — É minha filha, não vou solta-la... — Marcela respondeu amedrontada. — Sabemos que não é verdade, o garoto já está comigo, vou levar os dois para o pai. — Por que está se explicando pra ela? - Disse o outro soldado, ele parecia impaciente. — Solta logo a menina é melhor pra você! O homem pegou uma espécie de faca que trazia na cintura, e começou a caminhar em direção a Marcela. — Calma Chris, vamos fazer isso na calma. — Disse Lucius. Quando ouviu a voz dele, Marcela desviou o olhar da lâmina e sentiu algo queimar em seu braço. O homem tinha rapidamente a cortado. — Que merda Chris! Se machucar a menina estará morto antes mesmo de voltarmos. Lucius pareceu bravo e puxou uma arma, não fez isso para ela, mas para o parceiro que não sabia como agir. Marcela se agachou no canto da parede e a menina virou um pouco a cabeça, olhou para a arma e começou a chorar. Marcela se espantou, fazia meses que não escutava o choro fino de Megan. No carro Ítalo pensava em como manter sua família unida, ele demorou para encontrar alguém que o aceitasse e quando finalmente achou Marcela ela estava preste a ser tirada dele. Assim que Lucius sumiu de suas vistas, se dirigiu ao soldado que ficou como motorista. — Preciso ir ao banheiro! — Aguenta aí moleque! — O homem respondeu ríspido. — Estou na frente de casa, vou ao banheiro e volto, ou quer que eu faça no carro. — Que droga moleque, vou com você e sem gracinhas... Assim que desceram do carro Ítalo abriu a porta de casa e correu para o quarto da irmã. Marcela estava agarrada a menina que chorava em seu colo, notou o corte no braço da mãe e o que parecia uma faca na mão do soldado. Lucius estava próximo a janela com uma arma na mão. — Mas que porr@ é essa Miguel? Não consegue segurar uma criança no carro?! — O soldado engoliu seco as palavras de Lucius, sabia que acabava de deixa a missão mais complicada ainda. Ítalo se agarrou a mãe e a irmã, para colocar seu plano em prática. — Sei que não conseguiremos fugir, então se tem que levar alguém, deve levar os três. Posso já ter chamado a polícia antes mesmo de você falar comigo na padaria. — Você não é tão inteligente assim... — Lucius zombou. — Mamãe, você confia em mim? — Ítalo sorriu carinhosamente para a mãe que sorriu de volta e apenas balançou a cabeça concordando. — Não solte a Megan por nada e eu não vou te soltar. — Chefe, o que vamos fazer? — Perguntou um dos soldados. - Ou levam nós três, ou não terão tanta facilidade assim em uma próxima tentativa, e sei que não vão me machucar, afinal trabalham para o meu pai. Lucius pensou em ligar para o chefe, mas sabia que ele diria para matar a moça ali mesmo na frente das crianças e levá-las, conhecia bem o humor de Carlos, ele sorriu e pensou que seria bom ter uma mulher na casa e aquela iria com ele facilmente por causa das crianças. — Está bem. Levo os três, mas fique ciente menino, será muito mais seguro para sua mãe se ela ficar. Você não conhece o pai que tem. — Se ele me quer essa é minha única exigência.- Ítalo acariciou o rosto de Marcela e segurou em seu braço. — Mãe vamos, não posso evitar isso, mas não quero me separar de vocês. Eles seguiram aqueles homens até o carro. Lucius sentou atrás com eles. — Vamos sair daqui! Sinto muito, mas vão desacordados. — Lucius disse. — Nem pensar! Eu não vou confiar em você. — Ítalo respondeu. — Menino, eu sei que não posso te enganar, mas isso não está em discussão, usarei a força se necessário... Mas tem a minha palavra que quando acordar os três estarão juntos. — Não! Eu vou acordado, não vou deixar minha mãe desprotegida. — Ele encosta a cabeça na mãe como quem busca proteção, sendo que neste momento, ele está protegendo a família. — Mãe eu cuido de tudo, você sabe que eu sei das coisas... — Filho, eu te amo e estou com medo, não quero perder vocês. — Feche os olhos mãe, apenas feche os olhos... — Ítalo falava suavemente perto dela. Neste momento Lucius aplicou algo no braço de Marcela e fez o mesmo com Megan. — Estou surpreso menino, nunca conheci alguém tão perspicaz. — Não quero conversar, não somos amigos, tenho que pensar nos próximos passos. — Saiba que vou cumprir com a minha palavra, estarão juntos o tempo todo, sua mãe não será machucada, eu entendo sua preocupação, mas sinto muito... — Lucius disse isso enquanto aplicava a agulha na perna de Ítalo. — Isso não é jus... — Ítalo tentou dizer, mas apagou antes disso. — Alô! Chefe, peguei... Agora estou indo para a pista pegar o avião.
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