Um lampejo de movimento do lado de fora das portas francesas chama minha atenção, me parando no meio da frase. Eu me viro, atraído pela cena que se desenrola no meu gramado.
A figura ágil de Tessa se move com propósito, seu cabelo preto cor de cereja é uma mecha vibrante contra a grama verdejante. Ela está trabalhando com Zeus, guiando-o pelo que parece ser um treinamento de obediência. Suas mãos se movem em gestos rápidos e confiantes, e mesmo daqui, posso ver a intensidade em seus olhos.
"Sr. Harrington?" A voz de Juniper desaparece no fundo enquanto eu observo, paralisado.
Chase está esparramado em uma espreguiçadeira ali perto, seus braços cobertos de tatuagens cruzados atrás da cabeça. Ele grita algo que não consigo ouvir direito, mas faz Tessa jogar a cabeça para trás em gargalhadas. O som atravessa fracamente o vidro, leve e despreocupado.
Sinto uma pontada no peito. Quando foi a última vez que ri assim?
"Devo acrescentar mais alguma coisa à sua agenda para amanhã?" Juniper pergunta novamente, com a caneta posicionada sobre o tablet.
Eu pisco, desviando meu olhar da janela. "Não. Obrigada."
Enquanto ela assente, não consigo deixar de olhar para fora. Tessa está ajoelhada agora, coçando Zeus atrás das orelhas, seu sorriso suave e genuíno. Por um momento, fico impressionado com o quão natural ela parece ali, no meu quintal, com o cachorro de Sarah.
Eu balanço a cabeça, tentando limpar o calor inesperado que floresce em meu peito. Há trabalho a ser feito, afinal. Sempre mais trabalho.
Eu me afasto da janela, meu maxilar cerrado enquanto tento afastar as emoções conflitantes. "Juniper, vamos para o meu escritório. Preciso ditar alguns e-mails antes de encerrarmos o dia."
Enquanto subimos as escadas, não consigo deixar de pensar nos lembretes constantes de Chase para "desligar" quando eu chegar em casa. Mas como posso? Sempre há outro negócio para fechar, outro cliente para impressionar.
"Sr. Harrington", diz Juniper, seus saltos estalando no piso de madeira, "sobre a conta dos Hendricks..."
"Certo", eu aceno, abrindo a porta do meu escritório em casa. "Precisamos redigir uma resposta à última proposta deles. Anote isso. 'Embora apreciemos seu entusiasmo...'"
Eu me acomodo na minha cadeira de couro, o rangido familiar me aterrando enquanto continuo ditando. As palavras fluem facilmente, anos de prática tornando isso uma segunda natureza. Mas parte de mim não consegue deixar de imaginar como seria estar lá fora, rindo ao sol sem nenhuma preocupação no mundo.
Eu paro no meio da frase, esfregando a nuca. "Juniper, você já sentiu que está perdendo alguma coisa?"
Ela levanta os olhos do tablet, surpresa estampada em seu rosto. "Senhor?"
Aceno com a mão, desdenhosamente. "Não importa. Onde estávamos?"
Enquanto retomo o ditado, não consigo tirar da cabeça a imagem do sorriso de Tessa, ou a pontada de inveja que senti ao ver Chase com ela. Mas é isso que eu sou, não é? Grayson Harrington, sempre trabalhando, sempre me esforçando. É o que me fez bem-sucedido. É o que Sarah amava em mim.
Não é?
"Grayson?" A voz de Tessa ecoa pelas escadas, interrompendo minha linha de pensamento.
Eu me inclino para trás na cadeira e grito: "Estou no escritório. Suba."
Momentos depois, Tessa aparece na porta, seu cabelo desgrenhado pelo vento por estar do lado de fora. Seus olhos verde-azulados brilham com determinação, e eu me preparo para o que quer que ela esteja prestes a dizer.
"Precisamos falar sobre Zeus", ela diz, entrando na sala com determinação.
Resisto à vontade de suspirar. "Não pode esperar? Estou no meio de—"
"Não, não pode," Tessa me interrompe, seu tom não deixando espaço para discussão. "Você precisa fazer parte do treinamento dele, Grayson. Zeus precisa ver você como uma figura de autoridade também."
Aceno minha mão com desdém, voltando-me para meu computador. "Tenho certeza de que você está fazendo um ótimo trabalho. Confio em sua perícia."
"Não é esse o ponto", ela insiste, colocando as mãos na minha mesa e se inclinando para frente. O cheiro de grama e ar fresco gruda nela, um contraste gritante com o ar abafado do escritório. "Zeus precisa se relacionar com você. Você é o dono dele."
As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. O rosto de Sarah surge na minha mente, e engulo em seco. "Eu não sou—eu não posso substituir Sarah."
A expressão de Tessa suaviza um pouco. "Ninguém está pedindo para você. Mas Zeus precisa de estabilidade, e isso inclui você."
Belisco a ponta do meu nariz, sentindo uma dor de cabeça chegando. Parte de mim quer discutir, mergulhar de volta no trabalho onde tudo faz sentido. Mas não posso ignorar o olhar determinado nos olhos de Tessa ou a verdade em suas palavras.