Eu o sigo até seu escritório, meu estômago em nós. Assim que a porta se fecha, ele se vira para mim com um suspiro pesado.
"Sinto muito, mas vou ter que deixar você ir", ele diz.
As palavras me atingiram como um soco no estômago. "O quê? Mas Dra. Hartley, aquela mulher era—"
"Eu entendo que há dois lados em cada história", ele interrompe, "mas não podemos perder clientes por causa de altercações como essa. Sinto muito, Tessa."
Saio da clínica atordoada, m*l registrando os olhares simpáticos dos meus agora ex-colegas de trabalho. O caminho para casa é um borrão e, antes que eu perceba, estou destrancando a porta da frente.
Lulu me cumprimenta com seu entusiasmo habitual, seu r**o abanando furiosamente. Eu caio de joelhos, enterrando meu rosto em seu pelo macio.
"Pelo menos ainda tenho você, garota", murmuro, lutando contra as lágrimas.
Depois de alguns momentos, eu me levanto, agarrando a coleira de Lulu. "Vamos, vamos ao parque. Preciso clarear a cabeça."
O caminho familiar para o parque para cães ajuda a acalmar meus pensamentos acelerados. Enquanto Lulu salta à frente, tento me concentrar no sol quente no meu rosto e na brisa suave farfalhando as folhas.
"O que vou fazer agora?", pergunto-me em voz alta, observando Lulu perseguir uma borboleta.
"Falando sozinho?", uma voz profunda pergunta, causando-me uma onda de surpresa.
Viro-me rapidamente, assustada, e me vejo diante de um homem sentado no banco logo atrás de mim. Ele é impressionante — extremamente bonito, de um jeito que me pega desprevenida. Seus traços cinzelados parecem pertencer a um anúncio de revista: queixo forte, maçãs do rosto altas e um nariz reto que lhe dá uma aparência robusta, mas refinada. Seu cabelo escuro está bem penteado, apenas um leve toque de cinza em suas têmporas adicionando um toque de maturidade ao seu rosto, de outra forma jovem.
Ele está vestido impecavelmente em um terno perfeitamente ajustado, elegante e profissional, embora algo em sua postura deixe claro que ele está acostumado a causar uma boa impressão.
Ele é o tipo de homem que se destaca sem nem tentar — alto, com uma presença que parece preencher o espaço ao redor dele, embora ele se sente relaxado, sua postura confiante sem esforço. Seus olhos azuis capturam os meus — penetrantes, quase enervantes, mas há algo caloroso neles, uma mistura de diversão e algo mais, algo que parece preocupação.
Seus olhos piscam para os cachorros correndo ao redor, então de volta para mim, estudando meu rosto. Há uma calma nele. Eu sinto que ele é o tipo de homem que vê através de você, que pode ler suas intenções antes mesmo de você saber o que quer. É perturbador e estranhamente reconfortante ao mesmo tempo.
O jeito que ele está olhando para mim, o jeito que suas feições permanecem ilegíveis apesar do calor em seu olhar, me faz pensar se ele passou por algo parecido. Mas eu não pergunto. É mais fácil manter meus pensamentos para mim mesma, manter minhas paredes erguidas.
"Dia difícil?", ele pergunta, com a voz baixa e gentil, como se estivesse tentando ter certeza de que estou bem sem me intrometer muito.
Eu pisco, momentaneamente perdida na intensidade do seu olhar. Não consigo desviar o olhar, embora parte de mim queira. Há algo nele — algo autoritário que me faz sentir pequena, vulnerável, mas não de uma forma ameaçadora. É mais como se ele fosse alguém que viu muita coisa, alguém que entende.
Dei uma risada amarga. "Você poderia dizer isso."
Ele me observa por mais um momento, e eu me pergunto se ele está tentando descobrir qual é o meu problema, ou se ele pode sentir o peso da minha frustração logo abaixo da superfície. Então, como se decidisse que isso é o suficiente, ele muda seu olhar para Lulu, ainda perseguindo a borboleta. Sua expressão suaviza, só um pouco, como se as palhaçadas do cachorro fossem o suficiente para distraí-lo do que quer que esteja acontecendo comigo.
O silêncio entre nós é confortável, mas pesado, como se ambos estivéssemos perdidos em nossos próprios pensamentos.
Sei que não posso me demorar muito neste momento. Tenho coisas para fazer, e a última coisa que preciso é ser distraído por um estranho com olhos azuis que são muito conhecedores para o conforto.
Olho de volta para Lulu, focando nela enquanto ela corre ao redor do cercado. Afastando-me do homem, coloco meu foco de volta no que importa: Lulu.
“Venha, Lulu,” eu digo, infundindo autoridade em minha voz. Lulu obedece imediatamente como sempre faz. O som de suas patas batendo no chão é reconfortante, me trazendo de volta à realidade.
Dou a ela um petisco do meu bolso e começo a trabalhar nos comandos que estávamos praticando. Durante todo o tempo, posso sentir os olhos do homem em mim.
Ouço sua voz profunda me chamar atrás de mim, e meu coração salta para a garganta. Agarro as chaves no meu bolso — você sabe, só por precaução — enquanto me viro para ver o homem do banco caminhando em nossa direção com determinação.
"Com licença", ele diz, seus penetrantes olhos azuis presos nos meus. "Preciso saber como você faz isso."
Eu pisco, surpresa com sua franqueza. "Fazer o quê?"
Ele gesticula para Lulu, que está sentada calmamente aos meus pés. "Treine-a assim. É impressionante."
Seu olhar é intenso, quase desconfortavelmente. Eu mudo meu peso, de repente ciente de quão perto ele está. O cheiro de sua colônia cara flutua sobre mim.
"Oh, hum, é só paciência e consistência", murmuro, tentando recuar sutilmente. Mas ele acompanha meu movimento, fechando a distância novamente.
"É mais do que isso", ele insiste, sua voz baixa e urgente. "Eu nunca vi nada parecido. Você—você faz isso para viver? Treina cães?"
Olho ao redor, esperando chamar a atenção de alguém, mas o parque está vazio. O sol do fim da tarde projeta longas sombras na grama.
"Olha, eu agradeço o elogio, mas nós realmente precisamos ir", eu digo, gesticulando para Lulu nos acompanhar.
Isso só parece alimentar seu comportamento quase desequilibrado. Ele estende a mão, sem me tocar, mas perto o suficiente para que eu possa sentir o calor de sua mão. "Espere, por favor. Eu sou Grayson Harrington. Tenho uma proposta para você."
Meu estômago dá uma revirada. Ele é inegavelmente atraente, com aquele cabelo grisalho e queixo esculpido. E aquele terno definitivamente grita dinheiro. Mas há algo em seus olhos, uma pitada de desespero talvez, que dispara alarmes na minha cabeça.
"Sinto muito, Sr. Harrington, mas não estou interessado em nenhuma proposta", digo com firmeza, recuando. Lulu choraminga baixinho, percebendo meu desconforto.
Ele segue, sua expressão intensa. "Você não entende. Isso é importante. Preciso da sua ajuda."
Eu balanço a cabeça, meu coração disparado. "Eu realmente tenho que ir. Vamos, Lulu."
Enquanto nos apressamos, posso sentir seus olhos perfurando minhas costas. Parte de mim está curiosa sobre o que ele quer, mas uma parte maior está apenas aliviada por estar colocando distância entre nós. Seja qual for o acordo dele, tenho certeza de que não quero me envolver.
Acelero o passo, esperando deixar esse encontro estranho para trás, mas os passos de Grayson ecoam atrás de mim. Ele me alcança, sua respiração vem em rajadas curtas.
"Por favor, espere", ele diz, sua voz tingida de urgência. "Preciso que você treine meu cachorro, Zeus. Ele está... ele está lutando."
Eu paro abruptamente, virando-me para encará-lo. "Sr. Harrington, eu não sou um treinador profissional. O que você viu com Lulu foi apenas—"
"Exatamente o que Zeus precisa", ele interrompe, seus olhos implorando. "Ele está deprimido desde que Sarah, sua dona anterior, faleceu. Ele não come, não brinca. Eu tentei de tudo."
Meu coração se amolece um pouco com a menção de um cão em luto, mas balanço a cabeça. "Sinto muito, mas não posso ajudar você."
Grayson passa a mão pelos cabelos, frustração evidente em seu rosto. "Você não entende. Zeus é tudo o que me resta de Sarah. Ele precisa de alguém como você, alguém que claramente tem um dom com animais."
Mordo meu lábio, dividida entre meu desejo de ajudar e meu instinto de manter distância. "Olha, sinto muito que você esteja passando por isso, mas—"
"Diga seu preço", ele diz, seu tom quase desesperado. "O que você quiser, eu pago."
A oferta é tentadora, não posso negar. Mas algo sobre isso parece estranho. "Sr. Harrington, dinheiro não é o problema."
"Ele vai morrer se você não o treinar. Eles vão—eles vão me forçar a sacrificá-lo."
Eu hesito e ele percebe.
Ele enfia a mão no bolso e tira um cartão de visita elegante. "Por favor, pegue meu cartão. Pense nisso. Zeus precisa de você."
Hesito, então relutantemente aceito o cartão. "Vou pensar sobre isso." Não tenho intenção de aceitar a oferta, mas imaginei que dizer isso poderia fazê-lo me deixar em paz.
Enquanto me afasto, com Lulu trotando ao meu lado, não consigo me livrar da sensação de que a oferta dele é algo muito maior do que um simples trabalho de treinamento de cães.
Subo as escadas até meu apartamento, Lulu ofegante ao meu lado. Minha mente ainda está se recuperando do encontro com Grayson quando vejo meu senhorio, Sr. Peterson, espreitando perto da minha porta. Meu estômago embrulha.
"Senhorita Morrow", ele diz, sua voz pingando falsa simpatia. "Precisamos conversar."
Eu forço um sorriso. "Sr. Peterson, que surpresa. Está tudo bem?"
Ele limpa a garganta. "Receio ter más notícias. Você precisará encontrar outro lugar para morar. Você tem uma semana para sair."