Começa a aula e a professora nos faz levantar recitando as orações que ele nos mandou estudar no dia anterior.
— Bom dia, desculpe interromper a sua aula, professora, mas a senhorita Caroline Wright é solicitada na direção. Entra a secretária da diretora, vestindo o uniforme do pessoal administrativo.
— Bom, Caroline vai com a secretária e quando terminar você volta direto para a sala de aula, ainda temos duas horas de aula.
— Sim, professora. Deixo tudo na mesa, que ocupo, e a minha amiga aperta a minha mão perguntando o que eu poderia ter feito, mas não me lembro de ter feito nada errado. Ainda não.
Ando com a secretária que caminha ao meu lado e parece nervosa.
— Sinto muito, Caroline. Ela me diz ao entrar no escritório e eu me viro para olhar para ela sem entender — Vá com a diretora, ela tem algo importante para te contar.
O seu nervosismo me contagia e com medo entro no escritório onde encontro a diretora olhando pela janela que dá para o parque da escola. Ela escuta enquanto fecho a porta do seu escritório.
Ela também parece nervosa e com os olhos brilhantes, engulo em seco e sento na cadeira em frente à sua mesa.
A diretora é uma mulher rechonchuda e de rosto severo ou pelo menos sempre parece assim, mas hoje ela não parece assim, tem rugas no rosto e os seus cabelos estão com alguns fios grisalhos.
— Caroline... Ela se levanta e caminha até onde estou e se senta ao meu lado. Ela passa as mãos pela saia dela várias vezes.
Ela parece mais nervosa do que quando entrei e diferente de outras vezes quando começa a falar comigo com severidade devido a alguma travessura na sala de aula. Hoje ela está bem diferente, falando mais baixo, com delicadeza e com a voz trêmula.
— Os seus pais... os seus pais sofreram um acidente de avião, não tenho certeza dos detalhes... Eles morreram, o avião deles caiu no mar... E eles não acreditam que tenham sobreviventes. Ela fala com uma voz entrecortada e nervosa.
A notícia me atinge, me deixando em estado de choque, sinto as lágrimas no rosto enquanto ne*go. Não pode ser isso, eu os vi hoje de manhã e eles estavam bem, sorrindo. Mamãe disse que não viajaria mais tanto para ficar comigo e papai disse que eu estudaria em casa para poder me levar com eles.
— Não fale essas coisas, é ru*im mentir... Está me machucando. Ne*go e ela vem me abraçar, mas eu não quero. Não quero que ela me abrace, que me sussurre aquelas palavras que me machucam muito.
— Não estou mentindo, não brincaria com isso, sinto muito pela sua perda e por ter sido eu quem te contou isso, mas a sua avó está em Phoenix, os seus irmãos estão em outros estados e eu não conheço outros parentes seus. Os seus pais não registaram ninguém diferente. Diz ela com a voz trêmula.
Eu luto para me libertar dela empurrando-a, mas ela não quer me soltar, eu bato nela e grito porque o meu coração dói. Dói muito.
Ela me solta e eu caio no chão onde choro muito e as pessoas me olham com pena. Abraço as minhas pernas com as mãos e choro escondendo a cabeça para que não me vejam.
A diretora tenta me agarrar, mas eu não deixo, não sei quanto tempo choro quando ela senta comigo e me abraça.
— Sinto muito. Diz ela, chorando comigo.
— É mentira, eles não podem morrer. Eu puxo a cabeça para vê-la e ela me abraça.
— Espero que você esteja certa. Ela me diz e me puxa novamente.
— Caroline, o seu motorista e a sua babá chegaram para te levar. Fala a diretora, ainda me olhando com pena.
— Não podemos falar nada ainda... Ouço a voz do Lucas e corro até ele.
Ele está vestido com roupas normais e não como as que usamos no funeral do irmão do papai e a esperança de que eles estejam bem me invade.
As pessoas do escritório dão espaço para ele e ele vem até mim, me levantando.
— Eles estão bem? Nada aconteceu com eles? Pergunto com esperança.
— Conversaremos no carro. Diz ele, segurando a minha mão, me puxando para fora da direção e com a outra me despeço de Renata, que também acena para mim.
Todo mundo nos vê quando saímos e as meninas mais velhas da escola que olham só veem ele.
Ele não me coloca no carro sentada no banco do carona, e coloca o cinto de segurança em mim e depois coloca o dele.
As lágrimas não param e a asfixia não para, por mais que eu tente.
— Tente se acalmar ou você terá um ataque de asma. Ele diz. — É até estranho que você ainda não tenha tido um.
— Diga-me onde estão a mamãe e o papai?
— Não sei, eles não nos deram mais nenhuma notícia além de que o avião deles caiu há três horas, vim te buscar porque a sua avó vai demorar para chegar e você sabe que o papai não se dava muito bem com o resto da sua família, então, eles não têm permissão para te levar embora ou ficar com você. Ele explica. — Vamos viajar para Los Angeles em algumas horas, nós dois, os gêmeos estarão esperando por nos lá. Então peço que tentem se acalmar, iremos buscar roupas e documentos que estão no escritório do nosso pai. Ele indica e eu tento obedecê-lo.
As lágrimas continuam saindo quando chego em casa e vou para o aeroporto onde Lucas já havia comprado as passagens aéreas pelas quais esperamos por uma hora.
Lucas não me abraça nem fala comigo como o pessoal da escola, mas fez questão de providenciar tudo o que é necessário.
Os gêmeos estão nos esperando quando chegamos ao aeroporto e sem hesitar corro para os braços de Milan, que está esperando para me abraçar.
Ele me deixou chorar nos seus braços e me pegou no colo, me levando com ele não sei para onde, mas nos distanciamos dos outros dois.
— Acalme-se um pouco, Caroline, senão você não poderá nos acompanhar onde temos que ir. Ele senta comigo num banco
— Calma, por favor. Ele me aconchega.