Capítulo Dois

1519 Words
Estou terminando de comer e resta apenas a turma do Liam, eu e risos e gargalhadas. Não vejo a hora de terminar de comer. Uma das meninas me vê. A morena da entrada. É Laís Sánchez. Morena, olhos verdes, com curvas delineadas. Deus caprichou em! Ela vem em minha direção. Pronto vai começar. Ai meu Deus me ajuda a não me irritar e voar em cima dela. Me dá calma e paciência. — Ta fazendo o que aqui esquisita? - diz apoiando-se na mesa. O que eu to fazendo? Mas que pergunta. Não tá vendo o prato, os talheres e a comida?Calma Lya, calma. Paciência com as pessoas. Você é serva de Deus, tem que dar bom testemunho. — Estou comendo, mas já estou saindo. - disse dando a penúltima garfada. — Não querida, você já terminou. Sai! - disse pegando meu prato e me deixando com o garfo na mão. Ouço risadas vindas do fundo do refeitório. Me levanto calmamente e me dirijo ao lugar onde põe os utensílios usados. Coloco o garfo e saio. Posso ver ele indo ao encontro dela. Vejo de relance, eles se abraçarem, e o olhar dele encontra com o meu. Como pode uma pessoa ser tão r**m. Não acredito que me apaixonei por ele. — Foi a última da fila de novo Srta Sanger? - Sr Thompson diz irônico. — É um imã. Quando estou na fila, todos passam na frente. - disse e ele sorriu de canto. O sr Thompson é um ótimo professor de exatas. Já em casa, faço um lanche, lavo a louça e faço todo o serviço da casa. Ponho as roupas pra lavar na máquina e vou fazer meus exercícios de exatas e uma redação sobre Liberdade de expressão. Terminando os deveres escolares vou estender as roupas, minhas e do meu pai. São 17:46 vou adiantar o jantar. Hoje Kita vai vir aqui em casa e eu tenho curso de espanhol às 19:20. Faço arroz, salada de batata e frango frito. Meu pai ama esse prato. Vou tomar um banho pois já são 18:17. O curso não é tão longe, é apenas 10 minutos de carro da minha casa. Mas tenho que esperar o ônibus ainda. Kita ainda não chegou, mas não posso esperar por ela. Quando estou me vestindo após o banho, ouço barulho da porta. Meu pai chegou. Coloco uma saia jeans clara, um pouco acima do joelho. Uma camiseta branca com miúdas flores violeta e um casaco de capuz preto com a logo do time de bordon. Deixo meu cabelo solto, ele vai até a cintura. E eu quero que cresça mais. Desço a escada e vejo meu pai já de calça e blusa social. Ele vai à igreja. Tem culto terça, sábado e domingo. — Boa noite, pai! - o cumprimentei assim que terminei de descer a escada. — Boa noite princesa! Vai para o curso? - disse arrumando sua pasta. — Sim! Kita esteve aí? Ela falou que viria, mas até agora, nada! — Não! De repente ela tá vindo aí! — Uhum! Só não posso esperar. Tchau! - dou um beijo em seu rosto e abro a porta. — Então está bem. Vai com Deus! — Amém! Fica com Ele! Fui andando para o ponto e um carro, preto, se aproximou. Estranhei sua atitude e até levei um susto ao ouvir Kita gritar: Buh! — Haha! Muito engraçada! - rio irônica. - Fiquei te esperando e cadê? — Foi m*l. Esse aqui é o Dan, um amigo meu. - disse referindo-se ao motorista. Ele a olhou contrariado. — Oi! Preciso ir, meu ônibus chegou. Depois me liga pra falar do seu " amigo " - movimento os dedos em sinal de aspas. Kita sorri em confirmação. Entro no ônibus e vou para o curso. Uma hora e meia de curso passaram rápidas. Eu sou apaixonada por idiomas. Falo francês, um pouco de japonês. Espanhol é minha mais nova paixão. Chego em casa por volta das 21:20. Meu pai está na varanda tocando sax. Falo com ele e subo. Tomo um banho e coloco um vestido meio curto, apenas para dormir. Não sou bem rígida com a doutrina da igreja, porém tudo em um comprimento decente. Mas pra dormir eu uso um vestidinho na altura da coxa. É um vestido cinza de manga comprida, soltinho. Muito confortável. Escuto um barulho lá fora. Olho pela janela e vejo uma caminhonete azul. Carro do Liam. É a turma dele. Para minha infelicidade, ou plano de Deus, Laís mora em frente a minha casa. Se dirigem todos para a casa dela, menos o Liam. Ele vem em direção a minha. Me assusto. Desço as escadas rápido e logo estou na porta. Ponho a mão na maçaneta, mas não abro. Espero, espero, e nada. Descido abrir e dou de cara com ele. Lindo! A luz pousa sobre ele perfeitamente, fazendo seus olhos negros brilharem. Seu rosto com uma leve barba. Apoiado com uma perna na varanda que tem um degrau de diferença para a rua. Está de calça jeans escura, blusa branca e jaqueta de couro preta. Seu cabelo perfeitamente cortado, e penteados para trás. Qu-que reação é essa? Lindo? Oi Lya? — Oi! - ele diz. Não consigo pronunciar uma palavra. — Eu estava falando com seu pai sobre o instrumento. Meneio em confirmação. Parece que é a única coisa que consigo fazer no momento. — Quer jantar pequeno Liam? Lya fez um ótimo jantar. Salada de batata! - diz meu pai quebrando o silêncio e um sorriso largo. — Eu amo salada de batata, mas não, obrigado Sr Sanger. Pequeno Liam..Meu pai o chama assim desde que o salvou do afogamento no casarão dos avós dele. Fica em frente a um lago. — Venha, ficaremos felizes se jantar conosco. - diga por si só! — Não é Lya? — É! - disse com pouco entusiasmo exibindo um sorriso forçado e falso. Mas ele abriu um leve e doce sorriso, como de quem aceitou o convite. — Eu fiz um frango a mais. - completei após ver sua reação que me pareceu natural. Ele estava realmente feliz em comer com crentes e..não sei se pobres é a palavra, já sei. Estava feliz em comer com crentes e não ricos? — Olha! - disse meu pai. — Coisa de Deus então. Ele já sabia que viria! - Mais uma vez ele abriu um sorriso, porém esse era maior que o outro. — Ah pai! Só não fala muito de Deus porque ele não gosta de crente. - falei olhando para Liam. Entrei sem dar chances do meu pai, ou ele, falar algo. Me sentei a mesa na cozinha, e, de onde estava sentada, pude ver meu pai se despedindo dele. Liam de costas indo em direção a casa de Laís. Meu pai entrou com aquela cara. Ferrou. Sermão vindo. E não. A pior coisa aconteceu. Meu pai ficou em silêncio. Meu pai ficou em silêncio. É salve-se quem puder! Sentou a mesa quieto. Comecei a arrumar seu prato. — Quer mais um pedaço de frango? - disse, temendo pela resposta. Ele não iria deixar passar essa. — Esse pedaço devia ser para o Liam! Mas.. - disse brincando com os talheres. — Ele não veio porque não quis! - murmurei baixo, quase imperceptível, mas ele ouviu. — Como ele iria vir, se você o destratou? Eu não te dei educação? - disse calmo, sereno sem se exaltar. Ele tinha essa capacidade que não era a minha. — Sim pai! Mas eu aturo ele na escola e agora em casa também? - disse me sentando para comer. — Lya, você ainda não o perdoou? - disse me encarando. — Pai eu sei o que eu sofri! Ele me humilhou na frente de todos, sem ter um pingo de pena de mim, e eu tenho que ter dele? - falei num desabafo. — Sim! - disse em tom mais alto. Meu pai não costuma ser assim. — Sim, pois você tem Deus. Você tem o amor e o consolo de Deus! Ele não! Você sofreu? Ele também! Mas você ainda tem a mim e principalmente, tem a Deus! Ele errou, mas isso já passou. Quanto tempo já passou? Tire isso do seu coração minha filha, de nada te vale guardar mágoa de ninguém. Uma lágrima escorreu de meu olho esquerdo sem que eu ao menos pudesse evitar. Não gosto de chorar e muito menos na frente do meu pai. Suas palavras pesaram em minha consciência. Ele tem razão, eu devia entender. Levantei e fui para a escada deixando meu prato sobre a mesa sem nem ter posto aa comida. — Não vai jantar? - perguntou. — Não, obrigado. Perdi a fome! - disse, subindo as escadas. Ouvi ele dizer que era pra eu comer um lanche depois. Entrei no quarto, fechei a porta e me joguei na cama. Meu pai tinha razão. Eu não o perdoei ainda. Mas, faz tanto tempo. Por que eu não consigo tirar essa mágoa? Neste momento o som alto ecoa dentro do meu quarto. Laís está dando mais uma de suas várias festinhas
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