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O telefone despertou era 7:00 a.m, pego na escola às 8:00, então tem tempo suficiente, eu acho. Levantei da cama já pensando sobre ontem a noite. Deixei que a água levasse todos esses pensamentos. Saí do banho e logo me veio à memória o sonho que tive essa noite.
— Sonho estranho! - disse.
Coloquei meu vestido branco com estampa de rosas, margaridas e tulipas de várias cores, cinto preto e sapatilha preta. Prendi meu cabelo em um coque meio bagunçado. Preguiça de pentear direito. Desço a escada e vejo meu pai na cozinha.
— Bom dia princesa! - diz todo sorridente. Me dá um beijo na testa e segue arrumando sua mochila.
— Bom dia! - digo e passo Nutella em uma torrada.
— Que cara é essa? - pergunta estranhando.
— É um sonho que tive. Tô meio intrigada. Não entendi muito bem.
— Hum.. Me conta! - disse, levando sua mochila para o sofá. Da cozinha dá para ver o sofá.
— Bom, - dei uma mordida na torrada. - É assim: Eu estava sentada na grama, embaixo de uma árvore. Tinha alguém comigo, porém eu não sabia quem era, mas eu ficava rindo. - acabei por sorrir ao lembrar do que senti. - Sei lá, rindo.
— Rindo desse jeito boba apaixonada? - disse meu pai.
— Shiu, deixa eu terminar. — Aí Deus falou comigo. Sua voz era grossa, porém suave e doce; "Lya! Você se lembra do contrato… - Parei nessa parte, pois quando pronunciei essa palavra, contrato, logo entendi.
— O contrato? O que tem? Termina! - disse meu pai, impaciente.
— Ele disse: Você se lembra do contrato? - falei espantada.
— Hum.. Será que você conhecerá seu futuro marido? - brincou com um sorriso largo. Meu pai também é meu melhor amigo, conto tudo a ele e contei também sobre o contrato.
— Para! Bobeira! Sou muito nova pra isso. - disse brincando com ele. Mas será? Será que chegou minha vez?
— Mas quem será em? Ele estava com você, pelo que me contou. - disse pensativo.
— É! - abri um meio sorriso.
— Pode tirar esse sorrisinho! - disse bagunçando meu cabelo, piorando o que não estava arrumado. — Não vou deixar ninguém tirar você de mim! - Sorri e meneei em discordância.
Fui para a escola após a curta, porém reveladora conversa. Abri meu armário para pegar o livro de biologia. Primeira aula, artes; Segunda aula, biologia; Terceira aula, o meu pesadelo, Educação física; Quarta e última aula, biologia novamente. Fechando meu armário, vejo a turma do Liam. Porém Laís, não está com ele.
Neste momento nossos olhares se encontram. Me viro rápido para o armário e quando fecho, vejo Liam encostado na porta do armário seguinte ao meu.
— Bom dia! - disse sorrindo largo. Seu rosto demonstrava que faria alguma de suas “ brincadeiras ”.
— Liam! - Disse com desdém. — Dá um tempo! Vai procurar quem te quer! - disse tentando sair dele, mas fui barrada.
— Espera aí! - segurando em meu pulso esquerdo e me puxando de volta, agora mais perto dele.
— O que quer? - apesar de nossas constantes brigas. Vira e mexe nos falamos como se tivéssemos uma boa relação, como se fôssemos pessoas que se dão bem. — Tenho tempo não. Eu tenho aula e você também. Devia se preocupar e estudar para exatas. A prova já tá chegan...
Não pude terminar a frase. Ele me beijou. Mas por que? Por que ele fez isso? Como? Ele, ele ferrou com meu contrato. Logo hoje que tive um sonho tão revelador. Quando volto aos meus pensamentos, me afasto o empurrando.
Nenhuma palavra sai da minha boca que está aberta em um grande "O" . Ponho a mão na frente da boca e lágrimas involuntárias insistem em cair. Ele destruiu o meu sonho.
— O que foi? - ele pergunta preocupado. — Beijo tão m*l assim? - pergunta sorrindo sem graça.
Sem resposta. Nada. Nenhum som eu consigo emitir. Apenas lágrimas e um nó que se forma em minha garganta. Ouço risadas do grupinho do Liam.
— Xii, ta com mau hálito em Liam. - diz um moreno e todos riem, mas Liam não. Ele percebeu que não gostei nada do que fez.
Consigo forças para sair do lugar. Vou para o banheiro deixando meu livro de biologia no chão. Entro no banheiro feminino, tranco a porta de um dos boxes e choro.
Ouço pessoas transitando no banheiro, mas nenhuma delas vem falar comigo. Queria que Kita estivesse aqui. Mas ela não vem. Enxugo as lágrimas e com o rosto ainda vermelho vou para a sala. Se passaram pouco mais de quarenta minutos, então eu pego já a aula de biologia.
Entro na sala e vejo Kita me olhar, estranhando a vermelhidão do meu rosto. Ela balança os ombros como se perguntasse: "o que foi?". Meneio a cabeça como dizendo "nada".
Me sento e vejo meu livro, caderno e estojo, em cima da mesa. Como vieram parar aqui? Não sei, e nem quero saber.
A aula de biologia passa lentamente, como se Deus estivesse me castigando. Ter que estar na mesma sala, ouvindo a voz do homem que me fez sofrer por duas vezes. Estou cansada de sofrer por ele. Fiquei com dó quando tratei ele m*l ontem, mas agora.. Estou furiosa.
A aula termina e vem a aula de Ed. Física. Essa, e a aula de biologia, são as únicas que faço com a Kita. Vou ao banheiro para trocar de roupa. Meninas se maquiando já comentam do meu "showzinho" como elas se referem ao que eu passei. Para elas é um sonho, ser beijada pelo Liam, " o cara mais lindo da escola". Saco!
Troco meu vestido pelo shorts vermelho e camiseta branca. Só é exigido uniforme na aula de Ed. Física. Só uso shorts para dormir ou para a, irritante, aula de Ed. Física.
Logo ao chegar, a turminha das líderes de torcida, da qual Laís faz parte, se animam ao ver os meninos jogando basquete. Não é o esporte deles, mas na aula você faz o que o professor manda. Vou em direção a Kita que está com sua turma habitual. Não sou de fazer amizade, nem sei como consegui isso com ela, com certeza partiu dela. Antes de chegar em minha amiga, fui parada por Laís.
— Ei, garota! - coloca a mão em meu peito, impedindo que andasse.
— Sim! - digo olhando em seus olhos. Laís é uma mulher morena de cabelos castanhos escuros compridos e com curvas desejadas por qualquer homem. Uma mulher de dar inveja. Mas não para mim. Sou bem resolvida com o meu pouquinho.
— Que negócio é esse de você pegar meu homem? - disse cruzando os braços. As meninas já formam um círculo em volta de mim, agindo em conjunto com ela. — Olha aqui! Você não passa de uma crente mimada e depressiva que perdeu a mamãe. Se conforma minha filha, ele é meu. Ele não foi seu na 6° série e não vai ser agora. - ela me empurra. Dou dois passos para trás e respiro fundo. De repente ouço um grito.
— Laís! Tá fazendo o que? Ficou maluca? - Liam? Me defendendo? Não creio. — Se tocar nela. - ele dá um passo em sua direção. Entro na frente e coloco minha mão em seu peito definido e suado. Oi? O que to falando? Foco!
— Deixa! - digo baixo. — Deixa ela falar. Não tem problema. Eu sei e você sabe que não é verdade. Então basta. - me viro para Laís e vejo Kita vindo em nossa direção. Passo no meio delas e rapidamente enlaço o braço de Kita para evitar. Ela é brava, vai arrumar um barraco. Prefiro evitar.
Saio andando com ela. Me pergunta o que houve várias vezes, mas não respondo. Só quando estamos mais longe. Conto a ela sobre o beijo, porém ela não entende minha raiva. Apenas meu pai sabe do contrato. O contrato é algo pessoal, não fico dividindo isso, ainda mais com pessoas que não vão entender.
Terminada a aula de Ed. Física, vou para o banheiro trocar de roupa.
Chegando na sala, o sr Fiddes já está lá, nos esperando.
Me sento na penúltima mesa da quarta fileira a partir da porta.
Sr Fiddes fala sobre variados assuntos, complementos da aula de mais cedo. Já terminando, ele anuncia um trabalho em dupla. Trabalho esse que vai valer metade da nota do terceiro trimestre.
— Nem adianta se animar, pois eu já escolhi as duplas. - disse, olhando para os bagunceiros. - Lilian e Heather. Robert e Laís. - até agora eu mantenho a esperança de fazer dupla com Kita. — Christopher e Kiara. - lá se foi a minha esperança. — Lya Morroe e Jay Sembler. - segue com a escolha das duplas. — Lya Sanger e... Lya não tá aí? Eu vi ela na aula mais cedo. - todos apontam em minha direção, que beleza. Pronto, já pode falar meu parceiro no trabalho. — Ah sim. - É agora vou descobrir se é tortura ou se me dei bem. —
Lya Sanger e Liam O'Jill. - desespero.
— Não Sr Fiddes! Não pode ser ele! - digo inconformada.
— Srt Sanger, tem algo contra ele? Se tem, é um ótimo momento de acertar as coisas. - ele disse calmo e continuou a falar as duplas. O nosso tema era Baleia. Baleia é o tamanho certo do problema que eu tenho agora.
Toca o sinal, indicando o fim da aula. Arrumo minhas coisas e o Liam vem em minha direção.
— Às 17:30 na minha casa. Temos 2 meses e meio para terminar o trabalho, mas quanto mais rápido melhor. - falo sem dar chance dele opinar, e logo saio, assim ele não terá desculpas e nem precisarei ouvir histórias fantasiosas, mentiras.
Cheguei em casa e fiz a mesma rotina de sempre. Lavar roupa, arrumar cozinha, preparar jantar, que hoje será estrogonofe.
Como eu não falei dia, não sei se o Liam vem. Terminei minhas tarefas e deixei o jantar semi pronto.
Fui para a varanda de trás e comecei a dedilhar meu violão. Atrás da minha casa tem um pequeno terreno vazio, e lá no centro tem uma grande árvore. Incrível, só tem a árvore e o gramado em volta. Decido ir até lá. Me sentei embaixo da árvore e fiquei tocando até a hora do meu pai chegar.
Ouço meu pai me chamar. Já são 18:23, ele chegou cedo. Costuma chegar lá pelas 19:00.
— Oi! Chegou cedo. - assim que digo isto, vejo Liam na porta. Faço cara f**a e digo: — 16:30 não são 18:30.
— Desculpa! Esse horário não dá pra mim. - disse. É sei! Deve ficar fazendo muita coisa. — Mas se você quiser, podemos remarcar.
— Já disse às 16:30.- dito isto, me viro e vou para a cozinha terminar o jantar. Foco em terminar o jantar e nem reparo se Liam já foi embora.
Hoje não tem culto. Meu pai sempre fica tocando na varanda, depois do jantar. Pego meu celular. 3 ligações da Kita. Retorno.
— Até que enfim! Não atende o telefone, não retorna minhas mensagens. - soltou rápido.
— Desculpa! Eu passei a tarde toda com o violão e esqueci o celular no quarto.
— Aham, sei! E eu não te conheço, né? Não queria me falar o que realmente ta acontecendo.
— Kita, para de bobeira. Vamos falar de você e do quão inútil foi você ter ficado com o Chris. Fala sério, você subornou o Sr Fiddes. Fala a verdade!
— Não preciso dessas coisas. Sr Fiddes sabe o que é melhor pra saúde dele— rimos muito com isso— Mas e você e o Liam?
— Acho que ele já foi, mas estava aqui. Falei pra vir às 17:30 e chegou era quase sete. Mas isso sim é o Sr Fiddes arriscar muito a sua saúde. Ele não sabe que me colocar com o O'Jill pode dar morte em ambos os lados. Eu não suporto ele e ele não me suporta.
— É! Mas você vai se sair bem, nem que tenha que fazer o trabalho sozinha. - gargalhei com essa frase.
— Você sabe que tá falando do Liam, né? Nunca que ele vai perder a oportunidade de me perturbar. Ele faz isso desde a infância e ele também é um aluno mediano, mesmo que mantenha suas notas em cima de trabalhos. Então já sabemos, né?
— Hum.. Bom, tenho que desligar. Até amanhã, e se o Liam estiver lá embaixo, diz que mandei ele te beijar de novo.
— Quer se juntar ao Sr Fiddes na minha lista, "Pessoas que precisam morrer"? - ela ri e finalizamos a conversa.
Tomo um banho e visto um short e moletom, afinal vou jantar e ir dormir. Quando começo a descer as escadas, vejo o Liam.
Ainda aqui! Quando estou no último degrau eles se viram para mim.
— Liam vai jantar com a gente hoje! - disse meu pai. Fico em silêncio. Sei que terei que aturar ele de qualquer forma. Hoje meu pai não vai deixar ele ir.
Vou para a cozinha arrumando a mesa para o jantar. Três pratos, três copos, três garfos e facas.
Depois essa louça vai ficar para mim. Meu pai faz qualquer coisa, mas nem pensar em pedir pra ele lavar a louça.
Começo a arrumar a minha comida, quanto mais rápido eu comer, mais rápido eu vou para o quarto.
Assim que me sento para jantar eles logo chegam e arrumam seus pratos.
— Estrogonofe! Eu amo! - disse meu pai todo animado. Ele ta feliz pelo Liam estar aqui, e o Liam parece feliz também. A risada dele é tão bonita, simples e gostosa de ouvir. Nunca vi ele rir assim.
Terminei de comer, juntei meu prato e talheres e levei para a pia. Joguei o resto na lixeira e voltei para pegar o copo. Notei que o Liam já tinha terminado. Levei meu copo e logo estava ele atrás de mim, com seu prato na mão. Ele colocou na pia e logo foi pegando a esponja.
— Não precisa! Eu lavo! - disse, mas ele nem ligou continuou lavando a louça.
— Eu sei lavar! E não quero deixar um peso pra você. - disse. — Eu lavo, você seca e guarda, afinal eu não sei onde ficam as coisas.
E assim fizemos. Meu pai foi para a varanda tocar sax. Stay with me, Sam Smith.
Me abaixo para guardar algumas vasilhas no armário embaixo da pia.
— É impressão minha ou você está incomodada comigo? - ao ouvir essas palavras, levanto com tudo e bato parte da minha cabeça na beirada da pia. Que dor!
Ele põe as mãos sujas de sabão em minha cabeça tentando aliviar a dor. — Posso pegar gelo para aliviar a dor?
— Não precisa! - falo alto, mas meu pai não escuta. — Estou bem! Não sei o que veio fazer aqui. Já não basta o que fez hoje cedo!
— Eu não quis te perturbar, eu só vim fazer o trabalho! - diz enxaguando os últimos pratos.
— Sim, claro! E por isso você vem em um horário conveniente para você! Larga de ser mimado garoto! Acha que tudo é fácil! Eu não sou dessas!
— Eu sei! Mas você acha que sou um riquinho mimado que não faço nada?
— E não é? - gargalhei. - Afinal a sua atitude hoje cedo foi super madura.
— Se quiser outro daquele, eu estou aqui. - Estremeci, mas logo me veio o gosto de sua boca. Vontade bateu de aceitar. Subconsciente, cala a boca.
— Quero você longe de mim e da minha boca! - disse abaixando para guardar o restante das coisas no armário.
— Vou fingir que acredito! - diz convencido.
— Pois acredite! Você não passa de um garoto nojento que eu tenho que fazer um trabalho junto. Passado o trabalho eu não quero nem te ver CRAVEJADO DE DIAMANTE! Sr O'Jill!
Seu olhar é vazio. Seus olhos negros perdem o brilho, ficam agora como uma noite de inverno. Gélida e solitária.
Ele lava as mãos e fecha a torneira. Estamos de frente e movo o pano que está em minhas mãos para que ele seque as suas. Ele n**a, e seca elas em sua calça. Ao passar do meu lado diz:
— Não precisa! Não quero sujar seu pano com minhas mãos nojentas de um garoto mimado.
Suas palavras são como uma facada em meu peito. Eu o magoei. Magoei o garoto que eu gosto. Gosto? Subconsciente cala a boca!
Me viro e vejo ele chegar até a porta. Meu pai está no fim da música, e ouvi-la dói.
Stay with me!
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