Chorei tanto a noite. m*l consegui dormir. Orei a Deus, pedi que me perdoasse, mas sei. Sei que preciso pedir desculpa para o Liam. Eu estava magoada demais. Por isso falei aquelas coisas.
Estou remoendo toda a noite de ontem. Suas mãos em minha cabeça. O beijo odioso, e bom. Bom? Subconsciente quer calar a boca? Ele não é nada bom! Ele estragou o meu futuro! Estragou minha vida. E agora? Será que vou conhecer outra pessoa? Será que vou reconhecê-la? Sem o primeiro beijo vai ficar difícil! Eu te pedi senhor! A primeira pessoa seria pra sempre. Deus! O senhor disse que faria obras. Mas cadê? Me perdoe Senhor, o ser humano é fraco e falho. Sei que tu sabes tudo. Tu sabes o que é melhor para mim.
Essa semana passou rápido. E nem sequer vi a cara do Liam.
Laís veio algumas vezes me perturbar, perguntando o que eu tinha feito para o Liam, já que ele não veio a nenhuma aula essa semana.
Será que aconteceu algo?
Eu sinceramente estou preocupada!
Já são 18:30. Hoje não tem aula de espanhol, a professora não vai. Então irei à igreja com meu pai. Estou fazendo uma trança só com partes dos lados do meu cabelo. O resto fica solto e a trança por cima no meio. Vestido preto de manga na altura do joelho. Tem um zíper atrás. Scarpin branco e bolsa.
Desço a escada, meu pai já deve estar ansioso, ele gosta de chegar cedo.
— Pai! Hoje vou a uma festa! - digo brincando. - O que acha do look?
— Acho que ta muito igreja, pra quem vai pra uma festa! - diz, e sei que detectou a mentira. Frustrada, nunca consigo enganar ele.
Escuto a geladeira fechar e me viro para a cozinha para ver. Liam com um copo d'água em uma das suas mãos. Ele ta bem íntimo da minha casa, já está até abrindo a geladeira.
— Boa noite! - me cumprimenta. Ele está de blusa preta e calça jeans preta. Uma jaqueta jeans e um tênis cano longo preto. Está mais lindo do que o normal.
— Você me deixou preocupada! - digo e ele se espanta. - Pai você já levou as coisas para o carro?
— Não! Ainda não. - diz surpreso pela minha frase.
— Leva minha bolsa, por favor? - digo e ele entende meu pedido. Quero ficar sozinha com o Liam. Preciso conversar com ele. - Obrigada, não demoro... Você vai pra igreja com a gente? - pergunto.
— Não! Eu vim aqui falar com você sobre o trabalho, mas eu só chego em horas erradas. - diz bebendo um gole de sua água.
— Não, você veio na hora certa! Vamos conosco? - faço bico.
— Para de teatro Lya! Sei que não gosta de mim. Vim aqui só pra fazer a porcaria do trabalho, mas já que vai sair eu volto outra hora. - ele deu alguns passos em direção a porta. Mas coloquei minha mão em seu peito para que parasse. Ele não é tão alto, mas é bem mais forte do que eu.
— Espera! - disse e ele voltou alguns passos para trás. - Eu não te odeio! Na verdade, eu só te odiei duas vezes na vida. Quando me declarei e quando me beijou. Mas passou! E me odiei por ter dito tanta coisa a você. Me odiei por ter te magoado. Por ter falado daquela forma. Eu estou com raiva? Estou! Mas eu não tenho o direito de te magoar! Eu sou uma serva de Deus e não posso fazer isso. Deus ensina que se baterem em uma lado da tua face, que devemos dar a outra! E eu não fiz isso e por isso eu fiquei preocupada com você essa semana. Liam eu fiquei preocupada com você! Não apareceu na escola, não apareceu aqui em casa. Nem se quer sua namorada sabia de você!
— Eu não tenho namorada! - disse rápido. - Laís não é nada minha. Na verdade eu nunca tive ninguém pra dizer que é minha. Eu sei que a MINHA atitude com você foi i****a, que foi de um garoto riquinho e mimado que consegue tudo fácil. Mas eu não sou assim! Eu não sei por que te beijei...
— Fala baixo! Meu pai não sabe.
— Desculpa. Sei que não estou certo em te beijar, peço desculpa por isso. Não sei o que me deu, eu não sou assim. Me desculpe por anos atrás. Lá sim, eu fui um garoto mimado. Mas hoje! Eu não sou mais aquele garoto e não precisa se preocupar. Não vou mais te procurar e nem sequer chegar perto de você! Eu...
— Ficou doido? - disse. — Nós temos um trabalho a fazer! - sorri para ele. — Não estou mais chateada com você Liam. Eu já esqueci. Sim tenho minhas dúvidas e incerteza por causa de outra parte, mas nada que não se resolva logo. Não quero que me deixe preocupada de novo! Não quero achar que por minha culpa você está fazendo algo errado, ok? - é claro que estou chateada, mas para que vou tortura-lo com isso. Daqui a pouco passa. Estou a centímetros do garoto que eu mais gostei na vida. Isso aí subconsciente, "gostei" no passado. Entendeu?
— Algo errado faria você, se fosse pra festa da Riley! - rimos juntos.
— A ta! Até parece que to fora do meu juízo! Naquela casa acontecem coisas extremamente estranhas e perigosas.
— Eu que o diga! Já fui lá duas vezes e não volto mais. A festa é boa, várias gatinhas, pessoalzinho novo. Riley conhece muita gente!
— Imagino a diversão de vocês! Bebida, mulher e música alta! Um ambiente muito "perfeito"!
Caminhamos até a porta um do lado do outro. Ele abriu a porta e permitiu que eu passasse. Mas logo fechou.
— O que foi? Vamos! - disse vendo sua cara de questionamento.
— Por que não contou para o seu pai? Ele falou que vocês são super amigos e que conta tudo para ele. - perguntou.
Olhei para cima, onde achei seus olhos.
— Não contei para não estragar a amizade de vocês. Vejo você feliz sempre que conversa com meu pai, e ele, sempre que conversa com você. Não tenho direito de tirar isso de vocês. Sabe, meu pai é bem ciumento.
Ele termina de abrir a porta de madeira e depois a de vidro.
— Falei de um sonho com ele e ficou cheio de ciúmes só com a hipótese de arrumar um marido.
— Achei que vocês iam ficar uma eternidade aí! Estava quase entrando. Preocupado com certas coisas. - disse.
— Ai! Não disse! PAI! Por favor! - disse corada.
— Desculpe o incômodo Sr Sanger. Então nós marcamos um dia para começar o trabalho, ok?
— OK!
— Não quer vir conosco?
— Pai! Ele não gosta de crente! - disse. E logo me arrependi.
— Para de falar isso, Lya! - disse bravo. - Eu nunca disse que odiava ninguém.
— Se vier conosco, juro que nunca mais faço isso. - disse levantando os braços em rendição.
— Ela sabe ser convincente! - ele disse e meu pai concordou com a cabeça.
Entramos no carro e fomos. Chegando lá, nos sentamos no meio. Alguns louvores se passam e logo vem a palavra. Meu pai sempre disse que quando o Liam ouvisse a palavra, Deus ia fazer obra. Mas tenho minhas dúvidas, não do poder de Deus, mas por ele. Liam é um cara que não foi criado ligado a nenhum tipo de religião. Sua mãe morreu e o avô também. Seu avô era muito importante. Lembro bem que quando o avô dele faleceu, ele ficou mais de um mês sem ir à escola. Mudou tanto depois disso. Nós costumávamos brincar juntos no inverno. Minha mãe estudou com a mãe dele e elas sempre se reuniam para conversar. Eu sempre ia com ela. Sabia que teria alguém para brincar. Sou filha única e Liam também.
A família O'Jill é dona de muitos comércios aqui em Middletown, dona de quase tudo aqui em Bordon.
A palavra foi sobre a caridade. Gloriosa exaltação. Mas da parte dele, nenhuma reação.
Terminando o culto fomos para casa. Eu e meu pai sempre comemos pizza depois do culto de terça.
— O culto foi maravilhoso né Ly! - disse meu pai, cortando o silêncio no carro.
— Sim! Quero muito ter essa caridade. Preciso! - digo olhando pela janela do banco de trás.
— Mas você tem! - Liam fala. - Pelo menos eu acho! Se bem que nem sei muito bem o que é isso.
— Não tenho não! Mas preciso! - digo rindo.
— Tem sim, filha! Nós cometemos erros. Todos cometem, mas faz bem aquele que se arrepende e faz algo enquanto há tempo.
— Uhum! - digo e mexo no cabelo do Liam. Ele abana as mãos em cima da cabeça, em forma de espantar algum bichinho. - É uma barata enorme na sua cabeça!
— Sabe que dá para te ver do retrovisor, né? - fala e olho para o retrovisor que dá para me ver perfeitamente. Bufo descontente e ele ri. Um riso singelo e sincero.
Meu pai chega em casa. Abro a porta e sigo abrindo as janelas. Liam me ajuda.
Sentamos na varanda de trás.
Liam cuida dela que vou buscar uma pizza para a gente.
— Está bem! - ele puxa meus ombros apertando-os. — Eu fico de olho nessa coisa.
— Ei! - Dou um t**a no peito dele. — Coisa é a Laís!
— Hum, sinceramente, isso está perigoso. Nem sei se devo fazer isso. - disse papai.
— Fica tranquilo pai! Qualquer coisa eu pego o taco de beisebol e faço o que se deve fazer. - joguei um olhar assassino para o Liam.
— Ou eu pego esse taco e me protejo dela né! - diz o Liam fingindo estar com medo.
— Nunca se sabe! O perigo pode estar onde menos imaginamos. - diz meu pai, enigmático como sempre.
— Ele sai e nos sentamos na varanda de trás. Peguei meu violão e comecei a cantar hallelujah.
Eu canto uma parte e Liam pega meu violão e canta a outra parte. Eu não sabia que ele cantava, e muito menos que cantava bem.
Comemos a pizza e ele foi embora.
Subi, tomei banho e vesti meu pijama. Deitei e fiquei lembrando do dia. A escola. O ataque da Laís. O Liam na igreja. Ele cantando. Pude ouvir perfeitamente sua voz cantando. E nesse pensamento tão bom, adormeci