Descoberta

1248 Words
O som do ventilador girando devagar preenchia o pequeno escritório, quase abafando os pensamentos de Olívia. Diante dela, as planilhas abertas no computador não traziam boas notícias. As dívidas haviam alcançado um ponto crítico, e, se não tomasse uma atitude logo, a falência seria inevitável. Ela passou a mão pelo rosto, sentindo o cansaço se acumular. A empresa, um legado da família Costa, estava desmoronando diante de seus olhos. Seu pai, Roberto, sempre fora um visionário, mas não era organizado. Sua mãe, Irene, nunca se importara com as finanças, apenas com a aparência que a família mantinha. O clique dos saltos no corredor anunciou a chegada de Irene antes mesmo de sua voz. — Olívia, querida, você está aí? Olívia não respondeu. Continuou encarando os números, o cérebro trabalhando para encontrar uma saída. Irene entrou, segurando uma taça de vinho e vestindo um vestido novo, claramente caro. — Você deveria descansar. Ficar se preocupando com essas coisas não é saudável. — Não é saudável? — Olívia finalmente ergueu os olhos para a mãe, sua expressão dura. — Mãe, estamos quebrados. Que parte disso não é clara? Irene arqueou as sobrancelhas, um misto de surpresa e desprezo. — Não seja dramática. É só uma fase r**m. Seu pai sempre encontra uma solução. — Uma fase r**m? — Olívia se levantou da cadeira, segurando a pilha de relatórios. — Sabe o que ele faz? Ele ignora as contas e finge que tudo está bem. E você? Gasta dinheiro com vestidos e festas como se estivéssemos nadando em ouro! Irene cruzou os braços, ofendida. — Isso é injusto, Olívia. Sempre fizemos o possível para manter esta empresa e nossa família. — Não, mãe. Quem está tentando fazer algo sou eu. Vocês estão afundando tudo, e ainda sou obrigada a ouvir que estou exagerando! Antes que Irene pudesse responder, Roberto apareceu na porta. Ele parecia alheio à tensão, segurando um copo de uísque. — O que está acontecendo aqui? Olívia virou-se para ele, os olhos brilhando de raiva. — O que está acontecendo? Estamos à beira da falência, pai. É isso que está acontecendo. Ele deu de ombros, como se não fosse grande coisa. — Sempre damos um jeito. Não precisa se preocupar tanto, filha. — Dar um jeito? Como? — Ela jogou os relatórios na mesa, a frustração transbordando. — Temos dívidas com fornecedores, bancos nos pressionando, e vocês continuam vivendo como se nada estivesse errado. — Olívia, querida... — Irene tentou intervir, mas Olívia levantou a mão para silenciá-la. — Não. Chega. Vocês não estão entendendo. A partir de agora, eu tomo as decisões. Gastos vão ser cortados. Reformas desnecessárias, festas, roupas de luxo... Acabou. Roberto bufou, irritado. — Você não pode simplesmente mandar em nós. — Não estou pedindo permissão. Estou dizendo como vai ser. O silêncio que se seguiu foi carregado de tensão. Olívia sabia que havia cruzado uma linha, mas não se importava. A empresa estava à beira do abismo, e, se ninguém mais tomasse uma atitude, ela o faria. Horas depois, sozinha em seu apartamento modesto, Olívia revisava novamente os números, tentando encontrar uma solução. Mas tudo que via eram dívidas e mais dívidas. Lançou o corpo para trás na cadeira, fechando os olhos. Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto, mas ela a enxugou rapidamente. Não podia se permitir fraquejar. — Eu vou dar um jeito nisso — sussurrou para si mesma, com firmeza. Mesmo que tivesse que enfrentar seus próprios pais, ela salvaria a empresa. Ou morreria tentando. Na manhã seguinte, Olívia levantou-se cedo. As poucas horas de sono m*l haviam amenizado o cansaço estampado em seu rosto. Olhando-se no espelho, ajeitou os cabelos em um coque e vestiu a roupa mais profissional que tinha — uma camisa branca bem passada e uma calça social preta. Se ia enfrentar o gerente do banco, precisava parecer confiante, mesmo que por dentro estivesse em pedaços. No caminho para o banco, o trânsito caótico refletia o estado de sua mente. Cada semáforo vermelho era uma pausa forçada para os pensamentos que não paravam de circular. O que faria se sua última tentativa de conseguir um empréstimo falhasse? Ao chegar ao prédio imponente de fachada espelhada, respirou fundo antes de entrar. O ambiente do banco era frio e impessoal, com seus funcionários uniformizados correndo de um lado para o outro. Ela dirigiu-se à recepção. — Bom dia. Tenho uma reunião agendada com o senhor Almeida. A recepcionista digitou algo no computador e sorriu, mecanicamente. — Sala 302. O elevador é logo ali. Olívia agradeceu e seguiu pelo corredor, o som dos saltos ecoando no piso de mármore. Ao entrar na sala, encontrou o gerente sentado atrás de uma mesa ampla e organizada. Ele era um homem de meia-idade, com óculos pequenos e uma expressão profissional que não revelava nada. — Senhorita Costa, sente-se. Ela obedeceu, ajeitando-se na cadeira e tentando aparentar tranquilidade. — Obrigada por me receber, senhor Almeida. — Claro. Estamos sempre à disposição de nossos clientes. — Ele fez uma pausa, consultando alguns papéis em sua mesa. — Recebi sua solicitação de empréstimo e analisei a situação financeira da sua empresa. Olívia prendeu a respiração, esperando por boas notícias. — Infelizmente, não podemos aprovar seu pedido. A frase caiu como um golpe. — Mas… por quê? — perguntou, tentando controlar o tremor na voz. Almeida tirou os óculos e suspirou. — Seu histórico financeiro é preocupante. A empresa tem dívidas acumuladas e nenhuma garantia de que conseguirá honrar o p*******o do empréstimo. Além disso, os ativos disponíveis são insuficientes para cobrir o montante solicitado. Olívia inclinou-se para frente, tentando argumentar. — Eu entendo a situação, mas estamos nos reestruturando. Tenho um plano para reduzir os custos e aumentar os lucros. Só preciso de um pouco de tempo e capital para fazer isso funcionar. O gerente balançou a cabeça, como quem já ouviu esse discurso muitas vezes. — Não é uma questão de esforço, senhorita Costa. É uma questão de números. E, neste momento, os números não estão ao seu favor. Ela sentiu o estômago revirar, mas manteve a postura. — Certo. E se eu oferecer garantias pessoais? Tenho um apartamento, posso colocá-lo como garantia. Ele hesitou, mas depois respondeu, com um tom neutro: — Ainda assim, a análise de crédito seria negativa. Seu imóvel não cobre o valor que está pedindo. As palavras dele ecoaram na mente de Olívia enquanto ela se levantava, percebendo que insistir seria inútil. — Entendo. Obrigada pelo seu tempo. — Espero que sua situação melhore — disse ele, sem emoção, antes de voltar a se concentrar nos papéis na mesa. Ao sair do banco, Olívia foi atingida pelo calor do meio-dia e pela realidade esmagadora. Caminhou sem rumo pelas ruas movimentadas, ignorando o barulho ao seu redor. Sentia-se como se estivesse em um pesadelo, onde todos os caminhos pareciam levar ao mesmo destino: o fracasso. Entrou em um café pequeno, quase vazio, e pediu um copo de água. Sentou-se em uma mesa no canto, apoiando a cabeça nas mãos. Pensou em sua família, na empresa, e na enorme responsabilidade que carregava sozinha. As lágrimas ameaçaram cair, mas ela as segurou. Não podia ceder à fraqueza. Não agora. Pegou o celular e abriu a lista de contatos, considerando quem mais poderia ajudá-la. Mas cada nome parecia mais distante que o outro. Não tinha amigos influentes nem parentes ricos. Estava sozinha. — Vou dar um jeito — murmurou para si mesma, como um mantra. Mesmo que não soubesse como, ela não desistiria. Não podia.
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