Do outro lado da cidade, a sede do Grupo Falcão exalava poder e sofisticação. Os andares superiores do arranha-céu refletiam a luz do sol como um troféu reluzente no coração do distrito financeiro. No topo do edifício, Vicente Falcão finalizava uma sessão de fotos para a maior revista de negócios do país, Business Elite.
Ele estava impecável em um terno cinza sob medida, a gravata ligeiramente afrouxada para dar um toque de casualidade. O fotógrafo ajustava os ângulos e dava instruções, mas Vicente m*l precisava se esforçar. Sua presença preenchia o ambiente, a confiança estampada em cada gesto e olhar.
— Perfeito, senhor Falcão! — exclamou o fotógrafo, conferindo as últimas fotos na câmera. — Acho que temos o suficiente.
Vicente deu um pequeno sorriso, que não alcanou os olhos.
— Ótimo. Espero que as imagens transmitam o que queremos: competência e resultados.
Enquanto ele tirava o paletó e agradecia a equipe, a editora da revista, uma mulher elegante em seus quarenta e poucos anos, aproximou-se com um gravador na mão.
— Senhor Falcão, podemos começar a entrevista? Será breve.
Ele assentiu, sentando-se em uma das poltronas de couro do escritório panorâmico. Ao fundo, a vista da cidade parecia um quadro vivo.
— O senhor assumiu o Grupo Falcão há apenas dois anos, e os números nunca estiveram tão positivos. A que o senhor atribui esse sucesso?
— A estratégia é tudo — começou ele, com a voz firme e segura. — Quando assumi a empresa, identifiquei áreas que precisavam de ajustes. Houve cortes necessários, investimentos em setores promissores e uma reestruturação completa. Mas, acima de tudo, tive uma equipe que confiou na minha visão e trabalhou incansavelmente para alcançá-la.
— Alguns críticos o acusam de ser frio e calculista em suas decisões. O senhor concorda com essa avaliação?
Vicente inclinou-se ligeiramente para frente, um brilho enigmático nos olhos.
— Frio e calculista? Talvez. Mas não é isso que um bom líder deve ser? Emoções não podem guiar decisões empresariais. Eu faço o que é necessário para proteger e expandir o legado da minha família.
A editora sorriu, admirada pela resposta direta.
— E quanto à sua vida pessoal? Sabemos pouco sobre o homem por trás do empresário.
Ele recostou-se novamente, cruzando as pernas.
— Meu foco sempre foi a empresa. Mas, como qualquer pessoa, também tenho ambições pessoais. Digamos apenas que tudo tem seu tempo.
A resposta ambígua deixou a editora curiosa, mas ela sabia que Vicente era um homem reservado.
— Última pergunta: onde o senhor vê o Grupo Falcão em cinco anos?
— No topo — respondeu sem hesitar. — Não há outro lugar aceitável para mim.
A entrevista foi encerrada com apertos de mão cordiais e promessas de uma edição de destaque. Quando a equipe saiu, Vicente ficou sozinho no escritório, olhando para a vista lá fora.
Vicente chegou em casa ao cair da noite, o corpo exausto após horas de compromissos, mas a mente ainda afiada como sempre. A mansão Falcão, com seus muros altos e arquitetura imponente, parecia mais uma fortaleza do que um lar. No entanto, para Vicente, era apenas um lugar onde ele dormia — sem afeto, sem memórias acolhedoras.
Assim que atravessou o grande hall de entrada, o mordomo se aproximou.
— Senhor Vicente, seu pai está esperando por você no escritório.
Vicente franziu a testa. Não era comum seu pai convocá-lo daquela forma. Ele subiu as escadas com passos firmes, ignorando a decoração luxuosa que já não impressionava. Ao chegar à porta do escritório, bateu levemente antes de entrar.
— Pai. — Sua saudação foi curta e direta.
Giancarlo Falcão, um homem de sessenta e poucos anos com cabelos grisalhos e um olhar duro, estava sentado atrás de uma escrivaninha de madeira maciça. Ele levantou os olhos do jornal e indicou a cadeira à frente com um gesto.
— Sente-se, Vicente. Precisamos conversar.
Vicente não gostava daquele tom. Ele sabia que quando seu pai começava uma conversa assim, era porque vinha algum tipo de cobrança. Mesmo assim, sentou-se, mantendo a postura ereta e o olhar firme.
— Sobre o que é? — perguntou.
Giancarlo colocou o jornal de lado e tirou os óculos.
— Recebi uma ligação do Conselho hoje. Alguns membros da família estão insatisfeitos com sua liderança, apesar dos resultados.
— Insatisfeitos? — Vicente arqueou uma sobrancelha, incredulamente. — Eu elevei o Grupo Falcão a níveis que ninguém conseguiu antes. Os lucros estão em alta, os investidores estão satisfeitos, e ainda assim há reclamações?
— Não é sobre os números, Vicente. — Giancarlo suspirou, como se escolhesse as palavras com cuidado. — É sobre a imagem. O Grupo Falcão sempre foi uma empresa familiar. Eles acreditam que, para consolidar sua posição, você precisa cumprir uma condição fundamental.
— E o que seria isso? — Vicente perguntou, embora já sentisse um gosto amargo da resposta que viria.
— Você precisa se casar.
O silêncio pairou na sala como um peso esmagador. Vicente piscou lentamente, tentando processar o que ouvira.
— Isso é uma piada? — Sua voz era fria, quase cortante.
— Não, Vicente. Não é uma piada. — Giancarlo cruzou as mãos sobre a mesa, o olhar severo. — Há quem diga que um homem solteiro e focado apenas em negócios não representa os valores da família. Eles querem estabilidade, continuidade. Um herdeiro.
Vicente soltou uma risada seca e descrente.
— Então, por causa da opinião de meia dúzia de velhos arcaicos, eu devo mudar toda a minha vida pessoal?
— Não se trata apenas de opinião. Eles têm influência suficiente para forçar sua saída, se quiserem.
Vicente levantou-se abruptamente, passando a mão pelos cabelos, enquanto caminhava pelo escritório como um leão enjaulado.
— Isso é ridículo, pai. Eles não podem me obrigar.
— Não diretamente, mas podem tornar sua vida no cargo insuportável. Você sabe como funciona.
Vicente parou e encarou o pai, a mandíbula tensa.
— E o que você acha disso? Está do lado deles?
Giancarlo sustentou o olhar.
— Estou do lado da empresa. Sempre estive.
Vicente soltou um suspiro frustrado e recostou-se na cadeira.
— Então, o que exatamente eles esperam? Que eu encontre uma esposa em quanto tempo?
— Você tem três meses — respondeu Giancarlo, com firmeza. — É tempo suficiente para resolver isso.
— Resolver? — Vicente soltou outra risada amarga. — É assim que você chama? Resolver? Eu vou transformar o que deveria ser uma escolha pessoal em uma transação de negócios?
— Chame como quiser, Vicente. Mas se não fizer isso, perderá tudo pelo que trabalhou.
Vicente não respondeu. Apenas ficou em silêncio, absorvendo a situação.
— Pense nisso — disse Giancarlo, encerrando a conversa. — E lembre-se: às vezes, precisamos sacrificar algo pessoal para manter o que realmente importa.
Vicente saiu do escritório sem olhar para trás, o rosto uma máscara de frieza. Mas, por dentro, um turbilhão de pensamentos o consumia.
Ao entrar no quarto, Vicente serviu-se de uma dose de uísque e ficou observando a vista da cidade pela janela. Ele sabia o que precisava fazer. Casamento não seria uma questão de amor ou conveniência para ele. Seria uma aliança estratégica, um contrato com cláusulas claras.
E ele já tinha uma ideia em mente.