EPISÓDIO 12

1367 Words
MELODIE Fiz um bom show para o Vito quando ele chegou em casa. Chorei e me fiz de vítima. Eu resmunguei, mas não muito, para que eu pudesse ver onde ele colocou as chaves e a carteira. Eles estão bem ao meu lado, na mesinha de canto, do lado dele da cama. O colchão está amassado, assim dava para saber onde ele dorme à noite. Quando ele foi tomar banho, fiz questão de pegar as chaves dele, coloquei meus tênis ao lado da cama para poder sair de fininho. Quando ele saiu nu, fingi que estava dormindo. Não esperava aquele espetáculo, mas estou determinado a não viver como uma prisioneira. Quando fiz esse plano, a ideia era que ele simplesmente me deixasse dormindo e fosse para outro quarto. Mas não, ele se deitou ao meu lado e fez isso só de cueca. Em algum momento adormeci e agora estou presa debaixo do braço dele. Ele me envolve como um torno, prendendo-me contra seu corpo. Não estou reclamando do seu corpo, essa parte da situação é boa. O fato é que eu quero sair, pegar as chaves dele e ir até o meu pai. Então lentamente começo a me desvencilhar de seu abraço apertado, usando movimentos suaves e sonolentos para não acordá-lo. Ele geme dormindo e me puxa para mais perto, espero que ele se mexa novamente e me solto. Fico deitada no meu lado da cama, esperando para ver se ele acorda. Quando ouço seus roncos suaves, lentamente saio da cama, calçando meus sapatos. Pego as chaves, a carteira e o celular, que estão ao lado da cama, pois vou precisar do GPS. Lembrando do caminho que me leva até a garagem, saio de casa sorrateiramente. Como não quero fazer muito barulho, me afasto lentamente até chegar à estrada principal. Sigo a voz da senhora americana, enquanto o GPS me guia até o centro médico. Lá eles nem vacilam ao ver o carro de Vito. Estaciono no mesmo lugar onde ele o havia deixado quando chegamos e me esgueiro pela mesma porta. É madrugada e tudo está quieto, exceto pelo bipe das máquinas. A enfermeira que está no cargo, do lado de fora do quarto do meu pai, ele sorri para mim como se visitas a esta hora absurda fossem normais. — Vou encontrar Sam. Ela me diz, e antes que eu possa impedi-la, ela liga para ele. Mer*da. Ela vai ligar para o irmão, ou pior, para o pai. Entro no quarto do meu pai, as luzes estão apagadas e a única o som é do seu monitor. Pelo menos posso ter alguns minutos com ele antes que toda essa me*rda saia do controle. — Pai. Falo com ele baixinho. Preciso que você acorde, esses homens não são quem você pensa. Hoje eles me trancaram como um pássaro em uma gaiola. Eu luto contra minhas lágrimas, não vou chorar aqui. — Por favor, pai, eles querem tirar tudo de mim. Eu preciso de você, você deve lutar e acordar. Por favor, preciso que diga a eles que sou eu quem está no comando. Deitei ao lado dele na cama, quebrando todas as regras do hospital. Eu não me importo, eu preciso estar perto dele. Sentir seu corpo ao meu lado, lembrando a mim mesma que, enquanto ele estiver vivo, tudo ficará bem. Ele ainda está aqui, por enquanto, e é isso que importa. Quando eu era mais nova, ele se deitava ao meu lado na cama e me contava as histórias que sua nonna lhe contava. E quando eu cresci, ele me contou sobre a Cosa Nostra, sobre Omertà e como as famílias e os clãs funcionam. Não há nada escrito em lugar nenhum, porque a Cosa Nostra é passada de geração em geração na forma de histórias, rituais e tradições. A história é passada de pai para filho, de chefe para subchefe. Meu pai não tinha filho homem, então fui seu subchefe escolhido. Ele me contou as histórias e, assim, quebrou o Omertà. — Melodie. Sam diz, abrindo a porta silenciosamente. — O que você está fazendo aqui? Onde está o Vito? Ele olha ao redor da sala sem ver seu irmão. — Eu vim sozinha e, por favor, não ligue para ele nem para o seu pai. Digo a ele ainda estando na cama com o meu pai. — Me trancaram e não me trouxeram. Eu tinha que vê-lo para ter certeza de que ele ainda estava bem. Sam verifica seu gráfico e ajusta ligeiramente a linha. — Como você chegou aqui? Ele me pergunta. Ele é diferente de seus irmãos. — Saí furtivamente e roubei o carro do Vito. Tenho que contar a verdade, se me descobrirem, ele vai cair comigo por guardar segredo. — Também estou com o telefone dele, então ele não vai atender se você ligar. Sam balança a cabeça e aperta a ponta do nariz. — Vou sair do quarto, vou para casa e vou pedir para a enfermeira não contar a ninguém que vim aqui. — Quando eles pegarem você, e eles vão, eu não quero fazer parte disso. Não direi nada se você não o fizer. — Certamente você não vai, Melodie, mas eles vão notar que você se foi de qualquer maneira. Vito estará de pé para ir à academia em cerca de quinze minutos. Não pensei na hora, só precisava chegar aqui. — Eu dou conta do Vito, Sam. Digo a ele com um sorriso. — Não precisa se preocupar, não vai se meter em encrenca por isso. Ele é muito legal, entendo porque ele é o único com uma esposa. —Você Lida com Vito? Ele ri. — Boa sorte com isso, Melodie. Ninguém pode lidar com aquele homem. Está cheio de me*rda. Percebi que Vito tem vontade própria, por isso cometi o erro de confiar nele. — Apenas tenha cuidado, Melodie, há uma razão pela qual nos pediram para que nós te protegessemos. Você pode se colocar em uma situação perigosa. — Eu sou uma mulher adulta, Sam, uma que sabe como matar um homem se necessário. Seu sorriso cai levemente quando eu digo isso. —Vá embora, antes que eles encontrem você me ajudando. Ele me deixa no quarto escuro. Abraço meu pai e mantenho a esperança de que ele acorde logo e que todo esse pesadelo acabe. Preciso falar com o Guido, mas deixei o telefone do Vito no carro. Vou ficar mais alguns minutos e depois vou procurá-lo. Eu canto baixinho para ele a música que cantávamos juntos se estivéssemos brincando pela casa. Cantávamos e dançávamos na cozinha enquanto cozinhávamos juntos. Receitas que sua mãe passou para ele e que ele queria passar para mim. — Pai, por favor, não me deixe assim. Eu sussurro. A porta se abre e a luz do corredor me deslumbra. — Senhorita Calderone. Um médico alto de jaleco branco e sapatos brilhantes me cumprimenta. — Você não deveria estar aqui e também não deveria estar na cama do seu pai. Sento-me e balanço os pés para sair da cama. — Eu sei, mas precisava ficar perto dele. Estou preocupada. Eu não tinha visto esse médico quando chegamos aqui. Talvez seja o especialista que vai operá-lo. — Está bem? Qual é o plano para a sua cirurgia? Quando eles vão fazer isso? Começo a fazer perguntas enquanto ele entra na sala e fecha a porta. — Tenho certeza que ele vai ficar bem logo, o corpo demora para cicatrizar depois de um trauma como esse. Sle pega o prontuário e abaixa uma bandejinha com suprimentos médicos. Ele já passou do pior, então agora é só ter paciência. — Quanto tempo? Pergunto a ele. —Quanto tempo você acha que vai demorar até que eu possa voltar para casa? Para a Sicília, quero ir para casa, não quero ficar nesta prisão. Ele coloca as seringas, gaze e esparadrapo, assim como demais insumos, de forma ordenada sobre uma mesa metálica. Ele olha para mim e depois para meu pai. — Vai demorar um pouco até que eu possa viajar tão longe, há muitos riscos em voar. Após a cirurgia, as chances de coagulação são altas. Ele pode ter um derrame, então vai ter que ficar um tempo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD